O Início
Uma aula magna conduzida por Zé Celso, diretor do Teatro Oficina Uzyna Uzona, realizada na tarde ensolarada de sábado, no dia 20 de fevereiro de 2010, inaugurou as atividades da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. Zé pôs a prova toda sua sensibilidade e vivência teatral, propôs exercícios de aquecimento aos aprendizes recém-ingressos na Escola, discorrendo, depois, aos ouvintes atentos e de olhos brilhantes, sua longa experiência no Teatro Oficina. Abordou ainda a história do teatro nacional sob seu ponto de vista, e, em seguida, leu o poema “Litania dos Pobres”, de Cruz e Souza, que foi repetido como se fosse um mantra. Ao final da sessão, convidou os aprendizes a descobrir o belo casarão, no Brás, em São Paulo, onde se instalou provisoriamente, a Escola, este ano. Para terminar sua visita ao lugar, convocou a todos para uma passeata pelo bairro, para que os futuros aprendizes percebessem um pouquinho do entorno e seu funcionamento – um dos temas primordiais da Escola, que pretende fazer com que seus alunos criem uma relação de amor entre o teatro e a cidade.
Na semana seguinte, os alunos – ou aprendizes, como são chamados no centro de formação – foram convidados a criar uma rede de relações na qual trocassem conhecimentos. Ao evento deu-se o nome de 1º Território Cultural da SP Escola de Teatro, que contou com a presença do então Governador do Estado de São Paulo, José Serra, e da jornalista e subprefeita da Lapa, Soninha Francine, que se juntaram à meninada para pintar azulejos e plantar mudas de árvore ao redor do belo casarão do Brás.
Estava dada a largada para uma das escolas de teatro mais surpreendentes do País, uma Instituição de ensino não hierarquizado, em que os alunos aprendem por meio de imersões e experimentos sob o olhar atento de grandes nomes das artes dramáticas, como: J. C. Serroni, Francisco Medeiros, Marici Salomão, Rodolfo García Vázquez, Raul Barretto, Raul Teixeira, entre centenas de outros, que estimulam os estudantes a pensar o teatro contemporâneo, a manipulá-lo, e a criar trabalhos surpreendentes, como, por exemplo, o “Espetáculo Cenotécnico”, resultado de oito semanas de exercícios no palco do Theatro Municipal, de São Paulo, sob coordenação de Aníbal Marques (Pelé) – que deixou os funcionários locais de queixo caído; intervenções curiosas como o Experimento “HamletMachine”, que recriou a peça em uma fábrica abandonada; além de criar oportunidade para os aprendizes, que, a partir da experiência que obtiveram neste ano, já conseguiram emplacar trabalhos na conceituada mostra Quadrienal de Praga, na República Tcheca, sendo que alguns já se inseriram no mercado de trabalho, em espetáculos profissionais, entre eles a peça “Maria do Caritó”, dirigida por João Fonseca, o musical “O Médico e o Monstro”, dirigido no Brasil por Fred Hanson, e em shows populares de grande porte.
“Durante o ano letivo de 2010, os aprendizes tiveram 984 horas/aula em cada um dos Cursos Regulares que a Escola oferece: Atuação, Cenografia e Figurino, Direção, Dramaturgia, Humor, Iluminação, Sonoplastia e Técnicas de Palco. As aulas foram ministradas entre as terças-feiras e sábados, e os aprendizes foram convidados a trabalhar intensamente”, diz Joaquim Gama, coordenador pedagógico da Escola. “As aulas regulares abordaram desde temas como ‘Música Erudita e Educação do Olhar’ (Componente do curso de Iluminação ministrado por Laercio Rezende), ‘A Voz Cômica’ (Componente do curso de Humor ministrado por Madalena Bernardes), passando por ‘Repertório: Peças Radiofônicas e Dramaturgia Sonora’ (Componente do curso de Sonoplastia ministrado por Regina Porto) e ‘Crítica Teatral’ (Componente do curso de Direção ministrado por Sérgio Sálvia Coelho)”, diz Joaquim.
A Escola
Selecionados por meio de processo seletivo, com prova de redação, entrevistas e imersões, 200 aprendizes, dos 1.945 candidatos inscritos, preencheram as vagas oferecidas nos oito Cursos Regulares oferecidos pela Escola. “As desistências foram mínimas durante o ano letivo de 2010. Em seu primeiro ano de funcionamento, a SP Escola de Teatro ainda atendeu a cerca de 2.500 pessoas, por meio de seus cursos de Difusão Cultural, das mesas de discussão e dos bate-papos online, realizados por grandes artistas convidados”, observa Joaquim Gama.
Esta escola técnica, que oferece oportunidades aos aprendizes, foi criada a partir da constatação de que a quantidade de teatros aumentou no País, em detrimento da falta de profissionais habilitados em assumir as funções de iluminadores, sonoplastas, aderecistas, figurinistas, diretores de cenas, entre todas as categorias que um teatro necessita e absorve. “Para se ter uma ideia, em 1977, São Paulo contava com 37 teatros, contra mais de 170 em funcionamento hoje. O número de profissionais capacitados para trabalhar nestes espaços, principalmente na área técnica, não acompanhou a demanda”, diz Ivam Cabral, um dos criadores do projeto da Escola e seu diretor executivo.
Ivam diz que, na última década, o Brasil cresceu muito e não se preparou para a economia criativa, ou economia da cultura, como muitos preferem chamar este nicho do mercado de trabalho. “Este é o setor que melhor remunera no País. Há cerca de 320 mil empresas na área no Brasil, que oferecem 1,6 milhões de empregos formais. No entanto, para citar um exemplo, não há cursos regulares de produção cultural. A Dramaturgia sequer é reconhecida pelo Ministério do Trabalho. A Escola foi pensada e apresentada à população com a função de organizar as diversas profissões relativas ao meio teatral e oferecer formação artística de excelência, privilegiando estudantes de camadas desfavorecidas da sociedade”, diz Ivam, que é criador da Companhia de Teatro Os Satyros, juntamente com Rodolfo García Vázquez.
Cursos de Difusão Cultural
1º Semestre de 2010
As Melhores Canções De Nossa Vida, com Guillermo Heras
Atuação E Direção Teatral, com Carlos Celdrán
Coral Cênico, com Fábio Cintra
Do Livro Ao Palco: A Adaptação para o Teatro, com Mario Viana
Estudos Poéticos Sobre A Voz, com Isabel Setti
Fundamentos Da Direção Segundo o Cineasta Robert Bresson, com Evaldo Mocarzel
Gestão de Projetos Cênicos, com Ana Paula
História Visual Da Ópera, com Gustavo Lanfranchi
Introdução à Teledramaturgia, com Aimar Labaki
Modos De Teatro Moderno E Contemporâneo, com Silvana Garcia
O Distanciamento Crítico na Criação Teatral, com Sérgio Coelho
Teatro De Animação: Confecção, Direção E Dramaturgia, com Luiz André Cherubini
Técnicas Convergentes De Criação Cênica para o Ator, com Armando Sérgio (Cepeca)
2º Semestre de 2010
A Criação Dramatúrgica Hoje – Crítica E Construção De Poéticas Contemporâneas, com Roberto Alvim
Auto-Maquiagem de Caracterização, com Adriana Vaz Ramos
Commedia Dell’Arte: Precisão Física e Verbal, com Márcio Melo
Coral Cênico, com Fábio Cintra
Diálogos: Psicánalise, Teatro e o Campo Das Artes, com Sérgio Zlotnic
Experiência Artística, Psicanálise e Contemporâneidade Diálogos Entre Francis Bacon e Freud, com Giovanna Bartucci
Figurino E Teatro: Um Ato Criador, com José De Anchieta
Gestão De Projetos Cênicos – Módulo Sustentabilidade, com Ana Paula Galvão
O Intérprete e O Espaço: Apontamentos Sobre a Qualidade da Presença em Cena, com Francisco Medeiros
Produção Cultural, com Ana Paula Galvão
Teatro de Família, com Vivi Tellas
Tornando Vísivel o Invísivel: Curso De Mímica Corporal Dramática, com André Guerreiro
MESA DE DISCUSSÃO
“Vocalidades Contemporâneas”, com Glorinha Beutenmuller
Mediação: Isabel Setti
Performances: Andrea Kaiser e Andrea Drigo
Data: 31/04
“Planejamento em Artes Cênicas: Experiências e Aprendizados “, com Romulo Avelar, Wellington Nogueira e Claudia Shulz
Mediação: Ana Paula Galvão
Data: 26/07
“Encontro e Debate”, com Vivi Tellas
Mediação: Luiz Fernando Ramos
Data: 11/08
“Novos Modos de Produção de Sentido da Dramaturgia Contemporânea”, com Antonio Rogério Toscano e Roberto Alvim
Mediação: Marici Salomão
Data: 28/09
“Teatro de Sombras “, com Alexandre Fávero e Ronaldo Robles
Mediação: Luiz André Cherubini
Data: 22/11
“Sustentabilidade das Artes Cênicas: Desafios, Perspectivas e Experiências”, com Lala Deheinzelin, Stefano Florissi e Pombas Urbanas
Mediação: Ana Paula Galvão
Data: 13/12
BATE-PAPO ONLINE
Tema: “Transformação da Realidade Social e Cultural por meio de Ações Artístico Pedagógicas”
Convidado: Ivam Cabral
Data: 25/03
Tema: “A Questão do Auto-Didatismo na Dramaturgia Brasileira”
Convidado: Marici Salomão
Data: 08/04
Tema: “Pedagogia e Formação Artística”
Convidado: José Simões
Data: 17/04
Tema: “Formação Cômica”
Convidado: Raul Barreto
Data: 22/04
Tema: “Cooperação Cultural Internacional”
Convidado: Marina Correa
Data: 29/04
Tema: “Distanciamentos e Aproximações sobre Dramaturgia e Teledramaturgia”
Convidado: Mario Viana
Data: 06/05
Tema: “Mímica Corporal Dramática”
Convidado: Janaina Tupan
Data: 13/05
Tema: “Ator – Partitura Cênica”
Convidado: Felisberto Sabino
Data: 20/05
Tema: “A Máscara e a Formação do Ator”
Convidado: Juliana Galdino
Data: 27/05
Tema: “Dramaturgia Contemporânea – O Dramaturgo sem Grupo”
Convidado: Sérgio Roveri
Data: 10/06
Tema: “O Teatro Contemporâneo”
Convidado: Luiz Fernando Ramos
Data: 17/06
Tema: “O Fazer Dramatúrgico”
Convidado: Gabriela Mellão
Data: 24/06
Tema: “O Ator Pesquisador”
Convidado: Renata Mazzei
Data: 01/07
Tema: “O Teatro Épico no Brasil”
Convidado: Sérgio de Carvalho
Data: 08/07
Tema: “O Ofício do Ator”
Convidado: Georgette Fadel
Data: 15/07
Tema: “O Papel do Dramaturgo no Processo Colaborativo”
Convidado: Luis Alberto de Abreu
Data: 22/07
Tema: “O Ator como Tradutor: Conversa sobre Alguma Escuta e alguma Palavra”.
Convidado: Juliana Jardim
Data: 29/07
Tema: “O Treinamento em Commedia Dell’Arte”
Convidado: Tiche Viana
Data: 05/08
Tema: “O Teatro na Contemporaneidade”
Convidado: Alexandre Mate
Data: 12/08
Tema: “Pedagogia do Espectador”
Convidado: Flávio Desgranges
Data: 19/08
Tema: “Abrir o Apetite de Teatro: Ação Cultural e Educação Artística”
Convidado: Maria Lucía de Barros Pupo
Data: 26/08
Tema: “A Encenação como Proposta Pedagógica”
Convidado: Ingrid Koudela
Data: 02/09
Tema: “A Linguagem do Palhaço: Palhaço Comunica-ação”
Convidado: Ésio Magalhães
Data: 09/09
Tema: “A Pedagogia do Teatro na Perspectiva do Artista Docente”
Convidado: Joaquim Gama
Data: 16/09
Tema: “A Pertinência dos Espaços de Ensino de Dramaturgia”
Convidado: Newton Moreno
Data: 23/09
Tema: “A Formação de Jovens Atores”
Convidado: Rogério Toscano
Data: 07/10
Tema: “O Ensino de Teatro”
Convidado: Simoni Boer
Data: 14/10
Tema: “A Formação Profissional no Teatro de Animação”
Convidado: Nini – Valmor Beltrame
Data: 21/10
Tema: “O Laboratório Dramático do Ator”
Convidado: Janô
Data: 28/10
Tema: “O Treinamento do Ator a Partir do Conceito de Corporalidade”
Convidado: Aguinaldo Souza – UEL
Data: 04/10
Tema: “A Cidade como Espaço Cênico”
Convidado: Lubi – Grupo XIX de Teatro
Data: 11/10
Tema: “Dramaturgia da Luz”
Convidado: Cibele Forjaz
Data: 18/11
Tema: “Criação e Confecção de Figurinos”
Convidado: Rafael Rios
Data: 25/11
Tema: “O Teatro de Vivência da Tribo de Atuadores – Ói Nóis Aqui Traveiz”
Convidado: Tania Ferreira
Data: 02/12
Tema: “O Teatro Mutirão do Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes”
Convidado: Luciano Carvalho
Data: 09/12
Tema: “Clowns de Shakespeare – Processo e Modo de Produção”
Convidado: Fernando Yamamoto
Data: 16/12
A semente
A ideia da criação SP Escola de Teatro surgiu em 2005, durante a I Virada Cultural de São Paulo, quando José Serra, então prefeito da cidade, visitou o Espaço dos Satyros Um, na Praça Franklin Roosevelt, para a primeira sessão do “Teatro de Livro” – trabalho que reunia integrantes deste coletivo teatral, um trio de cantoras e um grupo de jovens atores do Jardim Pantanal, para quem Rodolfo e Ivam vinham ministrando aulas de teatro.
Ao assistir à apresentação, Serra aproximou-se do trabalho dos Satyros. Voltou ao teatro, dias depois, para assistir a uma peça, passando, na sequência, a seguir regularmente as montagens da companhia.
Em conversas com os integrantes do grupo que havia transformado o cenário da Praça Roosevelt em um dos mais importantes pólos de cultura da cidade, Serra mostrou-se interessado pelo projeto desenvolvido no Jardim Pantanal, na Zona Leste. “Por meio deste projeto, jovens da periferia participavam das produções dos Satyros, atuando como auxiliares, sonoplastas e iluminadores. Tínhamos por objetivo transformar o espaço sociocultural do bairro, do entorno, do local no qual moram”, diz Ivam.
Para além do trabalho de revitalização do espaço urbano realizado pelos diversos teatros da Praça Franklin Roosevelt, Serra cogitou a ocupação pedagógica de um edifício abandonado, no número 210, sugerindo aos integrantes da trupe dos Satyros que apresentassem um projeto para a utilização do prédio vazio.
As reuniões prosseguiriam por dois anos na sede do grupo, com a participação não apenas de integrantes dos Satyros (Ivam Cabral, Rodolfo García Vázquez, Cléo de Páris e Alberto Guzik), mas também de profissionais de diversas correntes artísticas, como J. C. Serroni (Espaço Cenográfico), Guilherme Bonfanti (Teatro da Vertigem), Hugo Possolo e Raul Barretto (Parlapatões), Marici Salomão (Dramáticas em Cena) e Raul Teixeira (Centro de Pesquisa Teatral – CPT/Sesc).
“A SP Escola de Teatro não é uma escola dos Satyros. A ideia surgiu de uma ação coletiva de diversos profissionais das artes cênicas”, diz Ivam. “Durante o período em que pensávamos no modelo pedagógico que adotaríamos, nos inspiramos em escolas de teatro do Brasil afora, além de uma na Bolívia e algumas na Alemanha. Criamos, então, um projeto que é um híbrido de tudo o que vimos. Mas pensamos numa Escola que trouxesse um modelo inédito, em que a pluralidade de vozes – tanto dos artistas convidados, quanto dos aprendizes – dá o tom ao ensino”, diz ele. “Isso sem perder de vista a necessidade de qualificação de trabalhadores nas áreas de sonoplastia, iluminação, técnicas de palco, cenografia, cenotecnia e figurino, entre outras.”
“Após anos e anos de discussões sobre o melhor formato para a Escola, chegou-se a conclusão de que os Cursos Regulares deveriam ser oito. É como se houvessem oito escolas em uma, sendo que os cursos são interdependentes e que cada um oferece 25 vagas”, diz Rodolfo García Vázquez, coordenador do curso de Direção da SP Escola de Teatro.
Alberto Guzik
Nascido na cidade de São Paulo, no ano de 1944, Alberto Guzik construiu uma brilhante trajetória como ator, diretor, dramaturgo e jornalista. Em 2009, dividia seu tempo entre dois projetos: a Direção Pedagógica da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco e seu trabalho de ator na Companhia de Teatro Os Satyros, até ser surpreendido por sérios problemas de saúde que o forçaram a se ausentar da Escola.
Envolvido em todas as etapas do processo de idealização da SP Escola de Teatro, Alberto Guzik é elemento fundamental na construção desse sonho. Seu papel não era de apenas de diretor pedagógico: ele vivia intensamente todos os momentos de alegria, agruras e conquistas do projeto.
Em 2010, a primeira turma de aprendizes acaba de terminar o primeiro ano de estudos e muitos dos objetivos foram alcançados. Infelizmente, Alberto Guzik, um dos criadores dessa história, não estava presente para assistir a esse espetáculo.
Com a morte de Guzik, em junho de 2010, todas essas alegrias se mesclaram com a enorme tristeza da ausência de um gênio e, sobretudo, um grande e fiel amigo que deixa saudades.
O Sistema pedagógico
Joaquim Gama, coordenador pedagógico, diz que o projeto da Escola baseou-se nas teorias educador Paulo Freire, do geógrafo Milton Santos e do físico e ambientalista Fritjof Capra. De Santos, buscou-se o “conceito de território” e sua aplicação no processo teatral; de Freire, aplicou-se o “conceito da autonomia”; e de Capra, foi retirada a noção de “conhecimento sistêmico”. “Assim, percebemos que formar um indivíduo é muito mais do que puramente treinar, educando-o no desempenho de suas destrezas, mas fazer com que ele investigue e experimente soluções. Esta é a verdadeira vocação da SP Escola de Teatro”, diz o coordenador.
O sistema pedagógico leva em conta o fato de que o conhecimento artístico não é acumulativo. Assim, cada um dos oito cursos foi dividido em quatro Módulos: Verde, Amarelo, Azul e Vermelho. Este ano, os aprendizes tiveram aulas dos Módulos Verde e Amarelo, sendo que no primeiro o eixo foi o realismo”, diz Joaquim.
No segundo Módulo, oferecido neste ano, o Amarelo, foi elencado o gênero épico, no qual os aprendizes foram estimulados a trabalhar em lugar não edificado para fim teatral. Divididos em oito grupos que congregavam aprendizes de todas as áreas, os jovens elegeram uma fábrica abandonada, uma escola de samba e uma instituição de caridade, entre outros espaços, na Zona Leste da Capital, para recriar “As Troianas”, de Eurípides; “Rei Ubu”, de Alfred Jarry; “Hamletmachine”, de Heiner Müller; “As Rãs”, de Aristófanes; “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade; “Sonhos de Uma Noite de Verão”, de Shakespeare; “Santa Joana dos Matadouros”, de Bertold Brecht e “Macunaíma”, de Mário de Andrade.
“No ano que vem já teremos aulas do Módulo Azul – no qual vai ser trabalhada a performance, em praças e ruas; e do Vermelho – que trará aos aprendizes elementos do teatro contemporâneo na caixa cênica”, completa Joaquim.
Ele admite que os alunos tiveram certa dificuldade inicial, quando a Escola entrou em funcionamento, pela simples razão de que a grande maioria vinha de escolas onde o ensino é tradicional. “No ensino hierárquico, aprende-se técnica para desenvolvê-la em seguida. Já na SP Escola de Teatro, os alunos são convidados a aprender durante o processo em que se experimenta. Se houve certa dificuldade inicial, alguns meses de aulas foram suficientes para que eles percebessem a autonomia do ensino que propúnhamos.”
J. C. Serroni, coordenador dos cursos de Cenografia e Figurino e Técnicas de Palco, observa que em cada um dos Módulos trabalhados até agora, as aulas foram divididas em três momentos: Processo, Experimento, e Formação.
Serroni diz que ficou surpreso com a qualidade dos trabalhos. “O cenários criado para a peça “Inspetor Geral”, de Gógol, ficou uma beleza, um trabalho profissionalíssimo, rico em detalhes, como lustres, papel de parede, mobiliário, sem contar o figurino de época que criaram para esta peça. Após este ano letivo, posso dizer que muitos já possuem técnicas de artistas profissionais. Acabei convocando alguns aprendizes que se destacaram para trabalharem em projetos que desenvolvi em 2010. Estes jovens acabaram o ano letivo demonstrando grandes possibilidades de atuar no mercado de trabalho.”
O olhar dos aprendizes
Para a aprendiz Dione Carlos, que cursa Dramaturgia, o ano foi intenso. “Percebi que a Escola é muito estruturada. Marici Salomão, coordenadora do curso, é sempre muito presente. Começamos o ano com o pé direito, ao sermos convidados a assistir a uma aula do Newton Moreno. Além dele, recebemos dramaturgos das mais diversas vertentes. Isso tudo tem enriquecido minha formação de uma forma extraordinária”, diz ela que, juntamente com Daniel Graziane, foi responsável pela dramaturgia do Experimento baseado em “Hamletmachine”. Ela diz que a experiência da montagem proporcionou-lhe perceber que seu foco vai ser o teatro épico. “Minha vida se divide no antes e no depois deste Experimento”, observa.
David Felipe, aprendiz de Iluminação, diz que este ano passado na Escola lhe trouxe muitos ensinamentos e questionamentos. “Na parte técnica, aprendi a trabalhar diferentes formas de luz, tanto em espaços convencionais, como em não convencionais. Na parte humana, o aprendizado também foi grande. Aprendi a conviver com a diferença, a defender minhas ideias numa montagem e também a ouvir e debater o ponto de vista dos colegas”, diz ele, que criou a luz para o Experimento “Macunaíma”, adaptação do romance de Mário de Andrade, criada pelos aprendizes e apresentada no albergue Arsenal da Esperança, onde moram mil sem tetos. “Os moradores deste local formaram nosso primeiro público. Foi emocionante apresentar o trabalho a eles”, conta David, orgulhoso do projeto.
Ao fazer um balanço do ano letivo de 2010, Rodolfo García Vázquez, observa que o grande desafio, este ano, foi descobrir, aos poucos, a verdadeira vocação da Escola. “Foi essencial que percebêssemos os processos internos, para criarmos uma identidade própria. Essa descoberta acontece a cada mês, entre acertos e erros”, diz ele. “Para que o projeto funcionasse de forma exemplar, chamamos a pedagoga Maria Thaís, que prestou uma consultoria. Ela exerceu papel de psicanalista da Escola. Apontou acertos, mas também os pontos fracos. Só assim pudemos oferecer um ensino sofisticado, como aquele pensado já nas primeiras reuniões realizadas para a criação do sistema pedagógico que adotamos.” Rodolfo ainda diz que o suporte de Maria Thaís foi essencial “pois quem ensina na SP Escola de Teatro são artistas, não necessariamente profissionais da educação”.
O sistema pedagógico criado se orientou não apenas por meio dos Cursos Regulares, mas por três pilares – os Cursos Regulares propriamente ditos, os cursos de Difusão Cultural e o Programa Kairós, sendo que os dois últimos alicerçam as ações artístico-pedagógicas da Instituição.
A difusão cultural
Os cursos de Difusão Cultural funcionaram, este ano, como segunda linha de força da SP Escola de Teatro. Gratuitos e abertos à população em geral, foram criados para otimizar os Cursos Regulares e firmar uma ponte direta com criadores e pensadores de outras esferas artísticas, mobilizando interessados em teatro, artistas amadores e profissionais que desejam aperfeiçoar ou ampliar seus conhecimentos teatrais.
As atividades da Difusão Cultural se baseiam em três momentos: a iniciação, a reflexão e a produção. Por meio desse tripé, o cidadão pode acessar as etapas de base, de aprofundamento e de viabilização do fazer artístico com ênfase nas artes cênicas e suas múltiplas artérias.
No ano letivo, foram 26 cursos, com carga de 64 horas de duração cada, e 790 participantes, entre os 2.351 inscritos. Estas pessoas tiveram a oportunidade de participar de aulas ministradas pelo diretor filipino Carlos Celdrán, que falou sobre atuação e direção; pela professora da Escola de Arte Dramática da USP Isabel Setti, que abordou estudos poéticos sobre a voz; pelo dramaturgo Aimar Labaki, que expôs uma introdução à teledramaturgia; pelo cineasta Evaldo Mocarzel, que discorreu sobre fundamentos de direção segundo o cineasta Robert Bresson; pela diretora e professora da USP Silvana Garcia, que abordou os modos de teatro moderno e contemporâneo; pelo dramaturgo Roberto Alvim, que concedeu aula sobre a criação dramatúrgica hoje, falando sobre crítica e construção de poéticas contemporâneas, entre tantos outros.
“A premissa de abertura ao fluxo populacional faz da Difusão Cultural um complemento essencial à formação global e cidadã que a SP Escola de Teatro quer fazer valer”, diz Ivam Cabral.
Intercâmbio
Preocupados sempre com a valorização e aperfeiçoamento de nossos formadores e coordenadores, o programa Kairós tem como uma de suas ações a realização de intercâmbios culturais que proporcionem uma constante atualização de sua formação artística.
O coordenador do Curso de Cenografia e Figurino, José Carlos Serroni, e a formadora do Curso de Iluminação, Grissel Piguillem, foram aprovados pela banca examinadora do Edital: “Ayudas para la Cooperación Cultural con Iberoamérica “, lançado pelo Ministério da Cultura da Espanha, em abril de 2010.
A formadora Grissel foi selecionada para fazer o curso “Taller de Didáctica de las Técnicas del Espectáculo en Vivo”, e recebeu uma bolsa auxílio do Ministério da Espanha no valor de 1.225 euros.
O coordenador J.C. Serroni foi selecionado para o curso “Taller de Diseño curricular para profesores de Técnicas de Espectáculo en Vivo”, e também recebeu uma bolsa auxílio do Ministério da Espanha no valor de 1.225 euros.
Enciclopédia Virtual
O site da SP Escola de Teatro, desenvolvido pela equipe coordenada pela jornalista Erika Riedel, diretora de Comunicação e Ideias da Escola, teve papel fundamental para aproximar a população da Escola, e porque não, do teatro.
Destinado ao uso do público em geral, bem como dos aprendizes da Escola, o site ofereceu, neste primeiro ano de funcionamento, um amplo noticiário sobre suas atividades didáticas e pedagógicas. Além disso, inaugurou um projeto pioneiro, a Enciclopédia Virtual do Teatro Brasileiro.
Entre todos os méritos deste trabalho, o mais importante foi mapear o teatro brasileiro por meio de um sistema colaborativo (wiki), para a criação do maior e mais completo acervo de verbetes sobre profissionais de teatro de todo o Brasil. O sistema colaborativo (o mesmo utilizado pela Wikipédia) permitirá que o material divulgado possa ser constantemente atualizado, evitando que a enciclopédia se torne obsoleta. Por hora, a enciclopédia conta com 1.557 verbetes.
O site prevê, ainda, uma Biblioteca Virtual das Artes do Palco, que vai agregar não apenas obras históricas, já disponibilizadas em domínio público, mas também textos contemporâneos. “Tudo isso tem por finalidade compartilhar conhecimento, com foco no resgate, na preservação e na organização da memória da cena teatral brasileira, facilitando a pesquisa de todos que se interessem pelo tema”, observa Erika Riedel.
Entre setembro de 2009 e dezembro de 2010, o site registrou cerca de 209 mil visitas, mais de um milhão de visualizações de página, sendo que as mais visitadas foram os cursos da Escola (67.017) e notícias (48.630).
RUMO À SEDE NA ROOSEVELT
Paralelamente às tantas atividades desenvolvidas neste ano, o Governo Estadual cuidou dos preparativos de reforma do prédio de número 210 da Praça Roosevelt, para que a SP Escola de Teatro se transfira para lá muito em breve.
Com projeto de Camila Toledo Fabrini (da CTF Arquitetura), o edifício foi adaptado para receber, em seus oito andares e 1.700 metros quadrados, um teatro e três salas multiuso, que unem dois pavimentos. De acordo com o desenho, as salas multiuso funcionarão como células no edifício com acesso independente aos mezaninos.
Os andares restantes preservarão o pé-direito simples para que sejam usados como salas de aula ou setores administrativos.
Além consagrar a Praça Roosevelt como um dos mais importantes pólos culturais da cidade, o lugar também será um centro de excelência no ensino de teatro no Brasil.
Fazendo História
Entre todas as conquistas da Escola, estão cinco projetos de aprendizes selecionados para a 12ª Quadrienal de Praga 2011, na República Tcheca – a mais importante mostra de cenários do mundo. “Nossos aprendizes apresentaram seis projetos cenográficos e três de figurino. Destes, três projetos de cenário (“Hamletmachine”, “Santa Joana dos Matadores” e “As Rãs”) e dois de figurino (“Hamletmachine” e “Santa Joana dos Matadores”) foram selecionados, entre inúmeros projetos inscritos em todo o Brasil”, diz Serroni. “A seleção para a exposição nos mostra que estamos no caminho certo, que estamos conectados com as práticas teatrais contemporâneas do mundo”, comemora Serroni.
“Quando soube que nosso projeto estaria em Praga, senti na hora a pele arrepiar. Difícil falar da emoção que senti”, conta Marco Aurélio de Toledo, aprendiz do curso de Cenografia e Figurino, criador de um dos projetos que vai para a mostra.
Outros eventos
– TEATRO EM DOMICÍLIO NA SATYRIANAS | OUVI CONTAR
Onze moradores da Praça Roosevelt receberam em suas residências, durante a “Satyrianas – Uma Saudação à Primavera”, entre os dias 25 e 28 de novembro de 2010, atores iniciantes e consagrados, além de moradores da própria Praça para uma leitura dramática de textos teatrais de jovens dramaturgos aprendizes da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. Esse é o projeto “Ouvi Contar”, uma ousada experiência de teatro em domicílio, idealizada pelo fundador da Cia. Os Satyros, Ivam Cabral, e pela dramaturga e também, coordenadora do curso de dramaturgia da SP Escola de Teatro, Marici Salomão.
O “Ouvi Contar” é um Teatro de Poltrona que reúne textos teatrais selecionados pela dramaturga Marici Salomão, criados durante a prática do exercício “Deus Locutor”, realizado no primeiro semestre de 2010, no componente “Técnicas de Enredo e Personagem”, dentro do curso de Dramaturgia. O objetivo é que todos, espectadores e atores, desfrutem de prazerosos momentos de quebra da rotina por meio do encontro de artistas e moradores da Roosevelt. Para o exercício, Marici propôs fundamentalmente a criação de textos curtos, balizados pela presença de características de um teatro dissociado das formas convencionais dramáticas. Além disso, elencou-se, em primeiro plano, a presença de traços ou figuras, no lugar de personagens; de espaços não definidos e tempos não lineares, no lugar de cenários ou do uso do tempo real; da presença de diversas vozes narrativas que podem se cruzar, no lugar dos diálogos tradicionais emitidos por personagens definidos; da presença do narrador direto ou indireto, no lugar do drama autônomo.
Como deuses onipresentes e oniscientes em seus próprios textos, os autores foram convidados a acompanhar/escrever as cenas de diversos ângulos e pontos de vista, em textos com aparência de monólogo em que o(s) ator(es) fosse(m) atravessado(s) por um sem número de vozes e personagens. O projeto contou com a participação dos aprendizes do curso de Dramaturgia Alex Araújo, Angela Belei, Aninha Terra, Bruno Feldman, Daniel Graziane, Dias Filho, Dione Carlos, Emerson Alcalde, Geraldo A. C. Neto, Maria Shu e Paulo Pereira.
A SP Escola de Teatro trouxe para São Paulo o diretor Eugenio Barba, que fundou, há 46 anos, o grupo Odin Teatret, com sede na Dinamarca. O encontro, aberto ao público, aconteceu no dia 6 de maio, no Teatro Sérgio Cardoso, com entrada foi gratuita.
Antes do encontro com o diretor, foi realizada uma demonstração do trabalho “O Tapete Voador”, com Julia Varley. Figura central no teatro mundial, Barba trabalhou diretamente com Jerzy Grotowski, durante três anos, e foi responsável pela divulgação de seu trabalho no Ocidente.
Dirigiu 65 espetáculos com o Odin Teatret e o grupo Theatrum Mundi Ensemble. Com método próprio, algumas de suas peças necessitam mais de dois anos para serem finalizadas.
Os mais de 800 lugares do Teatro Sérgio Cardoso, porém, não foram suficientes para a apresentação de Eugenio Barba. Como a entrada no evento era gratuita e por ordem de chegada, já às 15h a fila virava a esquina da Rua Rui Barbosa no Bairro do Bexiga em São Paulo.
Cerca de 300 pessoas não conseguiram entrar e mais de 100 delas invadiram o teatro na ânsia de conseguir um lugar. Como não era permitida a entrada após o início da apresentação, o grupo aguardou o intervalo e pôde acompanhar a segunda parte do evento.
– ECUM
Em parceria com a SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, o Ecum – Centro Internacional de Pesquisa sobre a Formação em Artes Cênicas trouxe a São Paulo, entre os dias 1º e 5 de novembro, um programa de estudos e reflexões teatrais com a participação de três destacados artistas-pedagogos russos: Anatoli Vassiliev, um dos principais encenadores da Rússia nos últimos 20 anos e responsável pela criação da Escola de Arte Dramática em Moscou; Alexey Levinskiy e Tatiana Stepantchenko.
Além das oficinas, cujas vagas foram preenchidas através de processo seletivo que envolveu as coordenações pedagógicas do Ecum e da SP Escola de Teatro bem como a Cooperativa Paulista de Teatro, o evento ofereceu ao público um programa gratuito de conferências, no Teatro Aliança Francesa, em São Paulo.
Obteve-se, como resultado:
– 375 inscritos para as oficinas;
– 3 oficinas, de 27h/cada, ocorridas na sede da SP Escola de Teatro, ministradas pelos já citados artistas-pedagogos russos, entre os dias 1º e 5 de novembro;
– 3 conferências de 1h30, proferidas entre 3 e 4 de novembro no Teatro Aliança Francesa, com cerca de 700 pessoas.
– I ENCONTRO DE SONOPLASTIA DA SP ESCOLA DE TEATRO – CENTRO DE FORMAÇÃO DAS ARTES DO PALCO
O I Encontro de Sonoplastia da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, idealizado por Raul Teixeira, coordenador do curso de Sonoplastia, “causou barulho” e agitou a comunidade teatral, no sábado, 13 de novembro, na sede provisória da SP Escola de Teatro. Para o encontro, com mediação de Raul Teixeira, foram convidados profissionais que atuam na área de sonoplastia como: Martin Eikmeier (músico e compositor da Cia. do Latão), Fábio Cintra (músico, compositor e professor do curso de Artes Cênicas da ECA), Eduardo Queiróz (músico e compositor), Ricardo Severo (músico e compositor) e Rafaella Uhiara (mestranda em teatro pela Sorbonne) para discutir o som como elemento narrativo no teatro, dramaturgia sonora, atualização tecnológica e composição sonora.
Cacilda
No mês de maio, uma cadelinha grávida e assustada invadiu a vida da SP Escola de Teatro. Depois de dar à luz seis filhotes, essa matriarca, de olhar e gestos meigos, se impôs aos aprendizes e funcionários da Escola. Em poucos dias, não havia opção, ela já era parte daquela história e já havia conquistado o coração de todos.
Assim, com a orientação de um veterinário, filhotes e mamãe receberam o tratamento e cuidados necessários. Durante o período de amamentação, um blog com fotos e informações sobre os filhotes foi criado e, depois de rigorosa seleção realizada pelos funcionários da Escola, os filhotes ganharam amorosas famílias.
Foi nesse momento então, que a matriarca da família foi batizada por meio de uma votação nacional, realizada pelo Twitter da Escola (@escoladeteatro) e recebeu o nome de Cacilda, em homenagem a Cacilda Becker, uma das maiores atrizes dos palcos brasileiros.
Em um revezamento diário entre diretores, gerentes e assistentes, a Escola formulou um projeto batizado de “Babás da Cacilda”, onde, duas vezes por dia, dois funcionários voluntários, passam meia hora cuidando da mascote.
Hoje em dia, o cotidiano da SP Escola de Teatro conta com a presença carinhosa de Cacilda, que convive muito bem entre aprendizes e funcionários. Mas, vale ressaltar, que Cacilda escolheu seu melhor amigo e o nome dele é Ivam Cabral, diretor executivo da SP Escola de Teatro. Quando Ivam chega à Escola, Cacilda larga até seu brinquedo predileto para saudá-lo. A intimidade é tanta que Cacilda aprendeu a abrir as portas da sala da diretoria para passar o dia ao lado de seu melhor amigo.
Cacilda – Personagens de uma escola verde
Bicicletário, plantio de mudas e árvores, um cachorro e escambo de livros? Essas são algumas das personagens da história que transforma a SP Escola de Teatro – Centro e Formação das Artes do Palco em uma Escola Verde.
Em abril deste ano, a SP Escola de Teatro implantou um bicicletário na entrada principal do prédio com o intuito de contribuir não só para que os aprendizes melhorem sua qualidade de vida, como também, andando de bicicleta, cooperem para a sustentabilidade da cidade.
Esta iniciativa marcou o começo do projeto que pretende transformar a Instituição em uma Escola Verde. Consciente de seu papel perante à sociedade, a SP Escola de Teatro também se preocupa com o meio ambiente e, assim, suas contribuições são simples, mas significativas. Entre elas a descisão de, a partir da terça-feira (28/09), não utilizar mais copos plásticos descartáveis.
Segundo Ivam Cabral, diretor artístico da Escola, no princípio, a ideia era simplesmente criar um ambiente ecologicamente correto, assim, ações dessa natureza começaram a ser implantadas na Escola. Mas a questão ambiental tomou corpo, passou a ser discutida nos Cursos Regulares e surgiram outros inúmeros projetos que levam em consideração que ser “ecologicamente correto” também é estimular a cultura, a leitura, respeitar o próximo e suas escolhas e, sobretudo, contribuir para um mundo melhor e mais harmonioso.
“Durante uma conversa com Casemiro Tércio Carvalho, Coordenador de Planejamento Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, descobri, entre outras coisas, que meio ambiente não é árvore. Ou, melhor, não é só árvore. Meio ambiente é cidadania, é sexo, é gente, é cultura”, explica Cabral.
Outra iniciativa da Escola é o projeto “Plantar a Vida”, lançado em agosto, em parceria com a Subprefeitura da Mooca. Para dar início ao projeto, os aprendizes fizeram um mapeamento de 29 quadras na região do Brás, apontando locais para plantio de árvores, a fim de melhorar o paisagismo da região, tornando-a agradável e saudável.
Integrando o plantio à educação ambiental, “Plantar a Vida” também divulga os conceitos do desenvolvimento sustentável e melhora em muito a qualidade de vida quando inclui a participação da comunidade em todo o processo, desde o levantamento das condições locais até o plantio das mudas.
Soma-se ainda a essas ações, o projeto “Câmbio de Livros”, uma brincadeira que envolve aprendizes, coordenadores, formadores e funcionários da Escola em uma troca informal de livros usados, sem necessidade de registro bibliotecário. Para tanto, caixas de papelões foram espalhadas pelos corredores da Escola e servem de local para essa troca. Em cada caixa, uma ou várias surpresas aguardam o leitor, que pode encontrar desde material para uma pesquisa teórica até inspiração para um texto dramatúrgico.
Dentro desse contexto, o dia-a-dia na SP Escola de Teatro ganha ainda a presença carinhosa da mascote Cacilda, que convive com os aprendizes e funcionários desde o mês de maio. Cacilda foi encontrada na rua por funcionários da Escola com seis filhotes recém-nascidos. Com a orientação de um veterinário, os animais receberam o tratamento e cuidados necessários. Depois de amamentar os filhotes, que foram doados, a cachorra foi batizada por meio de uma votação no twitter e se tornou a mascote oficial da Instituição.
Cultivado pelos aprendizes no primeiro dia de aula, de longe dá para ver o canteiro com as pimentas e manjericões que florescem na entrada principal da Escola.
Outros procedimentos adotados como lei de trabalho na SP Escola de Teatro são a utilização do papel sulfite frente e verso, o aproveitamento de rascunhos e a impressão de dosumentos e imagens somente quando extremamente necessário.
As ideias são muitas e outras virão. Afinal, se as necessidades culturais e sociais se modificam com o tempo, as instituições de ensino devem acompanhar estas transformações e levar em conta seu propósito inicial: educar a caminho de um mundo melhor e mais sustentável.
Curiosidade:
Sabia que o plástico demora cerca de 200 a 450 anos para se decompor na natureza? Reflita: Se cada pessoa usa o copinho plástico uma vez e já o descarta, quantos copinhos mais essa mesma pessoa usará por dia? Multiplique esse número pela quantidade de aprendizes, funcionários e inúmeras visitantes da Escola e faça as contas.
Junte-se a nós em respeito à natureza.
SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco | 29/09/2010
Mascote Cacilda estréia no Teatro
A cadela Cacilda foi encontrada na rua por funcionários da Escola no último mês de maio, com seis filhotes recém-nascidos. Com a orientação de um veterinário, os animais receberam o tratamento e cuidados necessários. Depois de amamentar os filhotes, que foram doados, a cachorra foi batizada por meio de uma votação no twitter e se tornou a mascote oficial da Instituição. Hoje, ela transita pelos corredores da Escola e convive com os aprendizes e funcionários.
A familiaridade e a convivência fez com que a Cacilda participasse do exercício cênico que os aprendizes do Curso de Direção realizaram na manhã de quinta-feira, 8 de julho. A cena apresentada foi da peça “O Jardim das Cerejeiras”, do dramaturgo russo. “Montamos um Anton Tchekhov para cachorros”, brinca a aprendiz de Direção Antonia Matos.
A participação ocorreu de forma espontânea e os alunos brincaram que o teatro está no sangue da mascote, que recebeu o nome em homenagem a Cacilda Becker (1921 – 1969), atriz que fez história nos palcos brasileiros. “Realizamos todo o ensaio do exercício no jardim da Escola. A Cacilda ficava olhando curiosa e acabou se aproximando do grupo. Resolvemos incorporá-la à apresentação e, no final, ela acabou roubando a cena”, conta a aprendiz de Direção Sandra Storino.
Nessa aula, foi focada a preparação de ator e todos os alunos passaram pela experiência de atuar e dirigir. “Quando atuei, vivenciei a cena com mais sentimento. Na direção, a composição ficou racional e distanciada. Foi importante transitar entre estas duas frentes de trabalho”, conta a diretora da cena, Luciana Bortoletto.
A ação da personagem da peça com a mascote Cacilda foi a de acariciá-la o tempo inteiro, enquanto um homem fazia serenata com um violão. “De improviso, surgiu uma cena bem bacana. Como a mulher queria casar de qualquer maneira, quando o homem flertou com ela, eu joguei um pedaço de ração longe. Dessa forma, a Cacilda saiu de perto e os dois enamorados ficaram as sós. Foi bem divertido”, finaliza Storino.
SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco | 13/07/2010
REPERCUSSÃO | A SP ESCOLA DE TEATRO VISTA DE FORA
Adélia Prado (Poeta)
“Acho importante uma iniciativa como essa, onde eu percebo real interesse das pessoas e diretores da SP Escola de Teatro ao oferecer o teatro. O teatro é uma forma, como toda arte, de humanização. E as pessoas que frequentam essa Escola têm a chance de expressão real, coisa que humaniza cada um. É uma fonte de humanização que não pode ser perdida.”
Antunes Filho (Diretor de teatro)
“Eu considero a SP Escola de Teatro prima do CPT . Desculpe eu achar. Talvez eles não achem, mas eu acho. A Formação é fundamental. O teatro ficou muito aberto e com pouca formação. Maravilhoso que exista essa escola. Além do mais, a SP Escola de Teatro tem a vantagem da técnica; do curso técnico que estava esquecido; perdido e que a Escola está proporcionando.”
Claudia Schulz (Coordenadora do projeto Palco Fora do Eixo)
“É extremamente importante a iniciativa da SP Escola de Teatro e de tudo o que ela está propondo. A metodologia de trabalho dela é diferenciada e ela mostra isso até mesmo neste tipo de finalização de Módulo. É importantíssimo ter esse debate que não fica só nas falas dos palestrantes, digamos assim, mas abre para o público, aprendizes e acho que é uma iniciativa muito boa. Parabéns.”
Denise Fraga (atriz)
“Esse é um projeto da SP Escola de Teatro é de extrema importância. Falo isso de cadeira, porque estudei em uma escola gratuita e se não fosse assim eu hoje não seria atriz. Além dessa experiência pessoal, ressalto a importância que tem a compreensão da formação técnica, a compreensão desse mercado de trabalho que envolve tantos profissionais formados tecnicamente na lida. Uma escola que pensa nessa formação técnica, que é gratuita e que se preocupa com inclusão social, por meio de bolsas, é sensacional.”
Ingrid Koudela (Escritora, tradutora, professora livre docente da ECA/USP)
“Eu tinha uma visão por outros, quando cheguei, hoje de manhã, me senti muito bem de cara e encontrei pessoas com as quais eu já tinha trabalhado e, por meio do contato com os aprendizes, minha visão da SP Escola de Teatro ficou mais palpável e concreta. O que eu acho incrível é a proposta que existe de transformar o currículo em projeto teatral; da canalização de todos os esforços e saberes; da pesquisa realizada ser trazida para essa questão da encenação. Isso é da maior importância. O teatro transporta conhecimento e isso não é valorizado como se deveria nas escolas. Mas a SP Escola de Teatro consegue colocar isso em primeiro plano.”
José Fernando de Azevedo (Professor da ECA/USP)
“Esse momento em que alunos de diversos cursos se aproximam do teatro em diversas portas e podem se encontrar num espaço comum para travar contato com ideias, referências que atravessam a experiência do teatro como um todo, é um momento do encontro é extremamente produtivo. Não é comum que isso aconteça como projeto pedagógico nas escolas, portanto, acho que é um espaço em que o projeto da SP Escola de Teatro se revela na sua potência maior. E essa dimensão do encontro como algo positivo que pode resultar em integrações não pensadas e outros projetos também. Me faz pensar.”
Luís Alberto de Abreu (Dramaturgo)
“Eu fico muito feliz de estar na SP Escola de Teatro, principalmente, quando vejo o trabalho que está se desenvolvendo. Um trabalho muito interessante. Há toda uma discussão em torno do épico, nas mais variadas modalidades, dramaturgia, atuação, cenografia. É importante no ensino e a Escola está relevando esse aspecto, não só no ensino teórico, mas também na prática aplicada.”
Monja Coen (Missionária budista)
“Eu acho que é uma benção que o Governo possa ter criado essas condições para as pessoas poderem desenvolver as Artes Cênicas. Acho que nos enrique, que nos faz crescer, que nos transforma.”
Roberto Gil Camargo (Diretor e iluminador)
“A SP Escola de Teatro é uma instituição com formação técnica. Isso é muito bom. É superimportante. O teatro é uma arte que requer muito estudo e conhecimento. Um conhecimento constante.”
Tunica Teixeira (Sonoplasta)
“Acho que é de uma importância total existir uma escola de teatro como a SP Escola de Teatro, ligada não só a textos e à atuação, mas também ao pessoal que trabalha com a técnica, porque a gente não tem onde aprender isso de uma maneira objetiva e sem perder muito tempo por aí.”