A SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco inaugurou o projeto Encontros Notáveis com uma palestra sobre o Poder Transformador da arte com a poeta Adélia Prado na terça-feira, dia 25 de maio às 16h.
Adélia Prado começa a escrever os seus primeiros versos em 1950, data marcada pela morte de sua mãe. Forma-se em Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis, em 1973. Após indicação de Carlos Drummond de Andrade para a editora Imago, publica o seu primeiro livro, Bagagem, em 1975. Em seguida, Drummond escreve uma crônica no Jornal do Brasil destacando o inédito trabalho de Adélia. Trabalho que têm grande repercussão até os dias atuais. Seu último livro publicado foi” Solte os Cachorros ‘ em 2006.
“O HOMEM É INSTRUMENTO, A ARTE É MOSTRAR SENTIMENTO”
Caminhando da Avenida Amaral Gurgel a caminho do Teatro Aliança Francesa, na Rua General Jardim, vê-se de tudo. São Paulo é mesmo um mundo à parte; cidade cheia de meandros obscuros, prédios gastos pelo tempo e que guardam muitas histórias em suas ruas repletas de pessoas.
Por outro lado, é essa São Paulo, agregadora, mãe de todos que proporciona a seus moradores a possibilidade de, no meio de uma tarde ensolarada de outono, sentir um aroma de café e papear como se estivesse em uma cadeira de palha em plena Divinópolis, MG, para conhecer, de perto, a sensibilidade e o trabalho de uma das mais lidas poetas brasileiras, Adélia Prado.
E, como visitas que chegam para um café com bolo descompromissado; pessoas chegavam de todos os cantos: “Sou de Ribeirão Preto, moro há quatro meses em São Paulo, vim assistir a Adélia Prado pois sou fã do trabalho dela e quis aproveitar essa oportunidade única em minha vida” comenta Marina Cano, psicóloga. “Nós dividimos um olhar poético da vida e da arte. Beleza na arte não é boniteza, é forma!”, declamam Lindberg Fernandes e Zina Filler, ansiosos para o inicio do fórum.
Às 15h em ponto, o jornalista Jefferson Del Rios entra no palco do Teatro Aliança Francesa de braços dados com poeta Adélia Prado, que é aplaudida de pé por toda a platéia. Jefferson, orgulhoso, conta que, durante seu trajeto até o teatro, ouviu a música Luxo Só, de João Gilberto e pensou: – “Luxo Só, mesmo, é passar a tarde conversando com a Adélia, uma poeta do cotidiano, que nos presenteia com sua poesia e sabedoria de vida”.
Para escrever, Adélia Prado potencializa os detalhes mais ínfimos do cotidiano, estejam eles no corpo, na imagem de Deus, na mulher, na transitoriedade da vida, nos elementos naturais ou no cotidiano cheio de sentimentos do cidadão comum.
Durante o fórum, Adélia recitou coisas essenciais. Sim, ela recitou, pois falava sempre em forma de poesia, todas suas frases tinham uma beleza natural; transcendental e emocionante. Sobretudo, a poeta ensinou que, para viver, assim como para fazer arte, é preciso buscar o chamado da verdade e ser transparente consigo mesmo. E, para uma pessoa ser realmente criativa, precisa ter a coragem de viver aquilo que acredita e nunca contrariar valores profundos da sua identidade. “Ousar ser você mesmo é a coisa mais difícil da vida. O poder da arte e da felicidade está na veracidade do ser humano, aí que se encontra o grande mistério da arte universal que emociona a todos e fala todas as línguas”, afirma a poeta.
Adélia não é pura contradição quando diz que arte não é nada; é algo que não tem valor utilitário, pois ela carrega consigo um poder transformador e humanizador, sem exigir inteligência para entendê-la. A arte é admirar-se com aquilo que é natural; é um afeto, algo que vêm do coração, uma experiência da sensibilidade que é inesgotável, universal e, sobretudo, comunica um valor maior que a beleza de quem a faz. “A obra de arte tem o poder de estar acima da mortalidade, precariedade e pobreza do ser humano. Eu quero uma coisa infinita. Eu descanso naquilo que é maior que eu. Minha arte é maior que eu”, enfatiza Adélia.
Para entender a arte e seu poder humanizador é preciso enxergar por meio da filosofia e adquirir um olhar novo sobre as coisas para compreender o valor da natureza espiritual nos detalhes do cotidiano; esse é o mistério da própria existência. “Não entendo o tédio, a atenção para a vida elimina o tédio, é preciso se assustar com o que é normal” diz Adélia.
Adélia faz poesia e encanta com suas palavras o tempo todo, em todos os instantes e em cada detalhe. Sua simplicidade trouxe uma energia única para o Teatro Aliança Francesa. Foi como se todos tivessem embarcado para Divinópolis, Minas Gerais e estivessem sentados tomando um café com bolo de fubá em sua chácara. “Mas eu acho mesmo que essa história de cidade grande vai acabar! Acredito que tudo vai virar Divinópolis um dia.” E, por meio do poder transformador da arte sensível de Adélia Prado, a plateia realmente fez uma viagem pelo mundo transparente, eloqüente e criativo do cotidiano.
No final, fica a sensação de que vale a pena abrir os olhos e sonhar – ou criar – um outro modo de ser, ver e estar no mundo tanto para fazer arte, quanto para viver.