Ela fez sua primeira visita à instituição em 2010, nos tradicionais ‘Encontros Notáveis’ promovidos pela Instituição, quando abriu o fórum com uma com uma palestra sobre a capacidade de transformação humana a partir da experiência artística. Quatro anos depois, a também professora retornou para compartilhar mais de sua visão poética sobre a vida, arte e literatura.
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Na conversa com os estudantes, Adélia contou que gostou muito do convite da instituição por conta do interesse pela poesia e pela expectativa de ser provocada. Ela iniciou a palestra contando o que considera ser o norte da poesia e como essa tem um papel central e importante no meio artístico como um todo:
“A experiência poética é o único objetivo de toda e qualquer arte, pode ser escultura, teatro, cinema ou música. Qualquer dessas categorias artísticas só acontecem quando, no desenrolar delas, se dá aquele momento que justifica todo o contexto. A poesia é a alma, a coisa que vibra dentro da obra.”
A escritora explica que isso não é nenhuma teoria inalcançável e é até muito passível de ser observada, por ser profunda no ser humano, um algo inarticulado.
“Quando a obra toca esse ponto poético, ela não envelhece!” afirmou.
Adélia refletiu também a relação entre o fazer artístico e a poesia. Para a autora, a poesia é um fenômeno vivo, vital:
“A arte não tem propriamente uma função, sua única função é desvelar um significado de ordem transcendental que, por ser daquele jeito, dá sentido à vida. “
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Adélia ficou conhecida na literatura brasileira por seus poemas que valorizam a mulher e falam da fé cristã e um de seus dos grandes apoiadores ao longo de sua trajetória foi Carlos Drummond de Andrade, que adorava seus poemas. Seu livro A Bagagem foi lançado em 1976 com a presença de convidados ilustres, como Juscelino Kubitscheck e Clarice Lispector. Em 1978, ela venceu o Prêmio Jabuti com O Coração Disparado.
Adélia também foi uma expoente no teatro e durante os anos 80 dirigiu Cara e Coragem, um grupo de teatro amador, que encenou dezenas de peças. Dentre elas estavam O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna; A Invasão, de Dias Gomes; e até uma montagem baseada em textos da autora, Dona Doida. Essa última contou a atuação de Fernanda Montenegro e esteve em muitos teatros ao redor do Brasil e até no exterior. Assim, na visita à SP, Adélia, citando Guimarães Rosa (um dos escritores que admira), aconselhou os estudantes do curso técnico em teatro sobre o ofício de ser artista:
“Arte é feita com as vísceras, com a barriga, a gente não pode enganar. Se você quer acontecer como ator, você não pode enganar. É você o autor, é erótico, ainda que você esteja espumando de ódio. A eroticidade brota da vida, da verdade.”
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