Foto: Daisy Serena
O Núcleo Teatral FIlhas da Dita atua há mais de 13 anos coletivamente, aliando um processo contínuo de produção artística com ações culturais que impactam positivamente seu território.
O nome do grupo surgiu como uma homenagem às mulheres do bairro Cidade de Tiradentes, da capital paulista, que lutam diariamente para sustentar suas famílias. Sejam elas as mães, tias, irmãs e avós dos integrantes.
“Com certeza, o território onde nascemos e habitamos, o bairro Cidade Tiradentes, é nossa maior influência estética. É desse lugar que nossas vozes ecoam e que nascem os processos de criação. Somos filhas e filhos de mulheres migrantes que, ao se encontrarem, entendem que partilham diversas histórias, comuns a tantas outras pessoas, ao mesmo tempo que possuímos subjetividades específicas, forjadas pelas corpas que somos no mundo”.
O repertório do coletivo conta com cinco espetáculos: Os Tronconenses (2007), O Baú das Histórias (2010), A Guerra (2013), O Sonho de Tatiana: uma Poética sobre Juventudes (2017) e Canto das Ditas, Fragmentos Afrografados de Cidade de Tiradentes (2019).
Em todos eles, o território foi a grande base para a escolha dramatúrgica, tanto do texto quanto da cena, os quais debatem temas fundamentais à reflexão da sociedade brasileira. O destaque vai para a montagem mais recente que foi produzida a partir das histórias de mães e posteriormente de outras mulheres negras do bairro que chegaram no local antes da luz elétrica, do asfalto, das linhas de ônibus e dos mercados.
“E nós decidimos pelo teatro como forma de existir e resistir no mundo”.
O Canto das Ditas foi construído em um processo coletivo durante 4 anos, período em que o grupo aprofundou a pesquisa sobre suas corpas e suas ancestralidades, tendo como premissa o conceito de afrografia, cunhado pela doutora Leda Maria Martins. A última apresentação foi em dezembro de 2022, na Casa de Cultura de Guaianases.
Além dos processos criativos, o Núcleo também gerou, nesses anos, conhecimentos específicos em áreas como comunicação, produção, elaboração de projetos e administração, bem como na atuação enquanto arte-educadoras(es). Dentro dessa outra linha de trabalho, o grupo desenvolveu importantes projetos em parceria com o poder público, empresas privadas, organizações não governamentais e outros coletivos culturais, numa perspectiva de ação em rede.
“Ser periférica nos identifica. A forma de andar, a mistura de estampas e tecidos, o volume alto da voz, os gestos, o cabelo, a maquiagem, os acessórios, tudo está em nós e habita nosso inconsciente estético. Nosso teatro nasce da necessidade de ser criativa e inventiva. Estética precária que nos traduz, porém não encerra nossas possibilidades de criação”.
Mais informações sobre o Núcleo Teatral Filhas da Dita estão no livro Teatro de Grupo, uma publicação do Selo Lucias, braço editorial da ADAAP, associação que gere o projeto da SP Escola de Teatro.
