A Cia. Teatro de Narradores foi criada em 1997 por um grupo de universitários a partir de um experimento cênico dentro da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH – USP). Na experiência foi feita uma montagem da obra clássica O Alienista, de Machado de Assis, adaptada pelo professor Roberto Schwarz e nomeada A Lata de Lixo da História.
Até 2016, quando o grupo suspendeu suas atividades, eles realizaram cerca de oito projetos que foram premiados dentro e fora do Brasil, alguns deles: Retrato Calado (2014), Ensaio Sobre o Sim e o Não (2014), A Resistível Ascenção de Arturo Ui (2013), Pílades (2010), Cidades (Cidade Desmanche/2009; Cidade Fim-Cidade Coro-Cidade Reverso/2011).
Segundo a companhia, a maioria dos trabalhos foi desenvolvida a partir de uma perspectiva dialética, reconhecível na matriz épica de Brecht e segundo a leitura de Walter Benjamin:
“Não é difícil perceber o que desde o início definiu o trabalho do Grupo: o estudo e a prática de uma visão crítica sobre esse laboratório da exceção que é o Brasil. Foi no cruzamento desses diferentes pontos de vista acerca do fazer teatral, que o grupo acabou por se defrontar com aspectos que evidenciavam o modo como, no Brasil, raça, gênero e trabalho determinavam não apenas uma noção de classe, mas o lugar também do teatro na vida social”.
Quanto ao processo criativo, o coletivo trabalha em duas frentes; existem os temas que nascem da relação cotidiana com a cidade, esses podem ter raiz nas relações no ambiente de trabalho, de vizinhança ou em alianças (políticas e poéticas; relação com o público). De maneira que, durante o desenvolvimento de montagens com dramaturgia autoral, a Cia busca extrair o essencial da relação do indivíduo com o urbano:
“Os processos de encenação acabam por imbricar dramaturgias, do texto à materialidade da cena. A prática do trabalho de campo, que leva os atores a um contato direto com materiais, é o ponto de partida. Não por acaso, os últimos trabalhos foram excedendo o lugar fechado da sede, abrindo-se à rua ou à cidade. A rua, em seu fluxo sem interrupção, evidencia-se como campo de negociação e luta, onde vínculos provisórios se esboçam.”
A outra frente de trabalho procura realizar releituras de textos clássicos a partir de um confrontamento com questões da atualidade. Para ambas, a companhia procura utilizar o cinema como materialidade constitutiva na determinação de formas e relação com o espectador.
Para a Cia. Teatro dos Narradores, o teatro é uma arte pública e, como tal, tem o tamanho da vida pública de um país:
“Se antes os estudos culturais no Brasil contrapunham o estado da arte ao estágio de complexidade da sociedade, como víamos em disciplinas como “teatro e sociedade”, “literatura e sociedade” etc., agora, é provável que a convocação histórica interrogue-nos sobre a possibilidade de ainda imaginarmos algo juntos”.
Mais infos sobre a Cia. Teatro de Narradores estão no livro Teatro de Grupo, uma publicação do Selo Lucias, braço editorial da ADAAP, associação que gere o projeto da SP Escola de Teatro.