Integrante da primeira turma do curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, o aprendiz Tadeu Renato ingressou em uma viagem entre as tradições da cultura brasileira para escrever a dramaturgia do espetáculo “Quizumba”. Leia, abaixo, um texto assinado por ele, no qual conta sobre este processo de criação e suas “voltas no mundo, camará”.
Fotos: Alicia Peres/Divulgação
Quizumba!
Por Tadeu Renato
No começo, a peça não tinha nome. Nem mesmo era uma peça. Era 2009 e as atrizes Jordana Dolores e Valéria Rocha queriam fazer uma contação de história que misturasse o mestre Pastinha (que eu nem sabia quem era) com Zumbi dos Palmares. Elas precisavam de alguém que fizesse o texto, então fui assistir a um ensaio. Era tanta informação, tantas propostas poéticas, tantos fatos históricos, que não caberiam nos quinze ou vinte minutos de uma contação. Assim, concluímos: façamos uma peça, longa, narrativa e com todos os elementos como a mitologia africana, as biografias e os contextos.
Mais alguns ensaios, algumas leituras e, enfim, as duas atrizes, junto à direção de Camila Andrade, mostraram um roteiro de como elas queriam contar a história. Mas, com um detalhe: o texto tinha que ser todo rimado e se aproximar da musicalidade das narrativas dos griots, contadores e guardiões da história em muitas culturas africanas. Então, coube a este escriba, correr atrás dos livros que elas já estavam lendo, buscar outras referências, assistir à filmes e “descobrir” a capoeira angola, que eu só conhecia como um estrangeiro do meu próprio País: batendo palma com vontade, fazendo de conta que era turista.
Ao entender (ainda estou aprendendo) a estrutura de uma roda de capoeira, fui construindo o texto a partir do material que as atrizes forneceram, além de coisas que pesquisei em diversas fontes. Feita a dramaturgia, descobrimos que seria preciso mais do que duas atrizes e foram convidados a Thaís e o Jeferson. Conforme as cenas ganhavam corpo, textos eram limados, outros propostos e, assim, a peça ia se reconstruindo o tempo todo.
Na sequência, só boas notícias e novos parceiros: entraram o Jhonatan e a Bel Borges, transformando o que no começo era uma breve contação de história num espetáculo musical. Cenas inteiras foram transformadas em melodias e letras de música foram escritas por mim, pelos músicos e, também, pelos atores. Esta questão do processo colaborativo, põe em questão o lugar do autor (no sentido de autoritas, autoridade) do espetáculo.
Assim, “Quizumba” chegou ao pé que está até agora. Ganhamos, em 2010, o Proac 01 – Montagem de Peças Inéditas e estreamos no quilombo Cafundó, em Salto do Pirapora. Em nosso blog, qualquer um pode acompanhar nossas andanças e processos. Agora, por exemplo, estamos circulando por diversas cidades e, em setembro, pretendemos ficar em cartaz em São Paulo. Entretanto, o trabalho dramatúrgico não para, pois muita coisa ainda vai mudar: texto que sai, som que entra ao fundo, cena que dá meia lua e rima que “dá volta no mundo, camará”.