Que o acontecimento teatral já não está necessariamente vinculado ao edifício teatral já não é mais uma grande novidade. Hoje, manifestações cênicas acontecem nos mais variados espaços: na rua, no elevador, em residências. Há alguns anos, no entanto, esse limite rompeu até mesmo com a obrigatoriedade da presença física no espaço onde se dá a encenação.
Bom exemplo disso é o projeto Teatro Para Alguém (TPA), idealizado pela atriz e diretora Renata Jesion e o fotógrafo Nelson Kao, que fizeram da sala de sua casa um palco, criando a primeira companhia teatral brasileira a produzir espetáculos especialmente para a internet.
Criado em 2008, o grupo apresenta peças ao vivo e com transmissão simultânea e gratuita pela internet, no site www.teatroparaalguem.com.br. Desde sua fundação, mais de 80 trabalhos inéditos já foram compartilhados com o público. Todos eles estão disponíveis para serem assistidos a qualquer momento, gratuitamente, no site.
Site do TPA
O grupo busca o desenvolvimento do espaço digital para experimentar linguagens de espetáculos que misturam artes cênicas, cinema, vídeo, performance e internet, em criações marcadas pelo hibridismo. O rótulo “isso não é teatro”, para eles, é uma discussão simplista e superada. Outra proposta é a criação de um espaço de convivência digital para atores, dramaturgos, diretores e demais profissionais das artes.
Com a ideia de democratizar o acesso à arte e formar público, as webpeças do TPA já contaram com textos de Alberto Guzik, Lourenço Mutarelli, Mário Bortolotto, entre outros dramaturgos. Nomes como Maria Alice Vergueiro, Lavínia Pannunzio, Iara Jamra, Elias Andreato e Cléo De Páris fazem parte do elenco das montagens. Diretores como Zé Henrique de Paula e Yara de Novaes também participaram do projeto.
Pelo inovador trabalho, o TPA foi indicado, em 2009, ao 22º Prêmio Shell de Teatro de São Paulo, e, no ano seguinte, foi contemplado com o Programa Petrobrás Cultural – PPC 2010 para sites e Cultura Digital. No final de 2012, o grupo realizou sua primeira mostra, formada por cinco obras.
De um tempo para cá, as produções deixaram de ser filmadas apenas em um espaço e ganharam uma nova câmera, passaram a ser trabalhadas em uma mesa de edição e misturar cada vez mais as linguagens de cinema e teatro.
Os artistas criaram em seu site, recentemente, a Rede TPA, que oferece um espaço de interação entre os artistas e o público, e a oportunidade de os artistas exporem suas ideias e projetos.
Em um tempo em que é corrente a discussão sobre a relação entre arte e tecnologia, o TPA oferece um bom exemplo do tipo de interação que pode acontecer entre elas. E, como é característica primária da internet a velocidade, quem saberá dizer quais são seus limites e até onde poderá a arte cruzar com ela? O que nos resta, aparentemente, é acompanhar essas novas ferramentas e procurar formas positivas de explorá-las.
Texto: Felipe Del