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Ponto | Teatro Oficina

Publicado em: 14/06/2011 |

Há cinco décadas, era criada em São Paulo uma companhia teatral de grande relevância para o teatro brasileiro: o Teatro Oficina, em atividade até hoje e de inegável influência na cena do País.

 

Também chamado de Teatro Oficina Uzyna Uzona, suas raízes remetem ao ano de 1958, quando nascia o movimento “a oficina”, que se opunha ao “aburguesamento” do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e ao nacionalismo do Teatro de Arena. Extraindo influências das ideias existencialistas de Jean-Paul Sartre e Albert Camus, o grupo monta várias peças amadoras a partir de 1959. 

 

A profissionalização, no entanto, veio em 1961, com a aquisição do Teatro Novos Comediantes, no bairro do Bixiga, São Paulo. “A Vida Impressa em Dólar” marcou a estreia da sala, dirigida por José Celso Martinez Corrêa. Entre os fundadores da companhia estão, além de Zé Celso, Renato Borghi, Fernando Peixoto, Ítala Nandi e Etty Fraser.

 

No ano do golpe militar, em 1964, o Oficina estava em cartaz com “Pequenos Burgueses”, de Máximo Gorki, peça realista com interpretações derivadas das técnicas de Stanislavksi, que eram repassadas por Eugênio Kusnet

 

Zé Celso dirige “Andorra”, de Max Frisch, em 1964, e “Os Inimigos”, de Máximo Gorki, em 1966, radicalizando sua pesquisa ao seguir o pensamento de Bertold Brecht. Nesse ano, porém, a sala é consumida por um incêndio, fazendo com que o grupo tenha que remontar antigos sucessos para reconstruí-la.

 

Junto com a chegada do tropicalismo, em 1967, o Oficina vive um de seus mais notáveis períodos com “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, que chega até à Europa, conferindo status internacional ao grupo. Nos dois anos seguintes, as montagens de dois textos de Brecht, “Galileu Galilei” e “Na Selva das Cidades”, colaboram para a ascensão.

 

Essa fase de grande sucesso foi sucedida, em 1970, por uma crise interna que provocou o desmembramento do grupo. Ainda sob a liderança de Borghi e Zé Celso, mas com uma equipe reformulada, o grupo realiza, no ano seguinte, a excursão “Saldo para o Salto”, remontando alguns antigos sucessos pelo Brasil.

 

O Oficina Usyna Uzona emerge em 1971, quando “Gracias, Señor” propõe uma radicalização de linguagem, aprofundada em “As Três Irmãs”, de Tchecov, encenada no ano seguinte. Essas obras são de criação coletiva, ou seja, os próprios atores tomam a iniciativa de criar o texto, substituindo o dramaturgo e, em alguns casos, cobrindo até mesmo a função de cenógrafo, figurinista, iluminador e diretor musical.

 

Em 1974, o Teatro Oficina é invadido pela polícia e fechado. Zé Celso, detido e exilado, elabora e dirige, em Portugal, o filme “Vinte e Cinco”. Retorna ao Brasil apenas em 1979, quando investe em projetos que trabalham novas linguagens. Durante grande parte da década de 80, o grupo produz pouco, se limitando a ministrar oficinas e organizar leituras e eventos de curta duração.

 

A retomada das atividades acontece de vez em 1991, com o espetáculo “As Boas”, de Jean Genet. Nele, Zé Celso atua ao lado de Raul Cortez e Marcelo Drummond. “Ham-let”, de Shakespeare, reinaugura, em 1993, o Teatro Oficina. Nessa nova fase, o grupo passa a se envolver, além dos espetáculos, com a produção de vídeos, filmes, músicas e DVDs. 

 

“As Bacantes”, de Eurípedes, e “Cacilda!”, do próprio Zé Celso, encenadas em 1996 e 1998, respectivamente, continuam com a ideia de releitura e reestruturação dos textos originais. Entre 2002 e 2006, um grande desafio: a montagem na íntegra de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, dividido em cinco espetáculos com cinco horas de duração cada um. A montagem chega até à Alemanha, onde abre a temporada de outono do Volksbuhne, em Berlim, em 2005.

 

Desde então, Zé Celso atuou e dirigiu diversas outras peças, como “Os Bandidos” e “Vento Forte para um Papagaio Subir”, e se envolveu também com cinema. O crítico Yan Michalski comenta, sobre ele: “Durante cerca de uma década, década excepcionalmente efervescente, José Celso foi, provavelmente, a personalidade criativa mais forte do teatro brasileiro; foi, em todo o caso, o encenador mais aberto a ideias ousadas e sempre renovadas, e capaz de realizar, a partir delas, espetáculos surpreendentes, generosos, provocantes, excepcionalmente inventivos”.

 

Em 2008, quando o Teatro Oficina completou 50 anos, estreou várias montagens, como “Os Bandidos”, de Schiller; “Cypriano e Chan-ta-lan”, de Luís Martinez Correa e Analu Prestes; e “Taniko”, de Zenchiku. No ano passado, foi a vez das Dionisíacas 2010, projeto que apresentou quatro espetáculos do repertório do grupo em oito capitais brasileiras, além de oficinas de artes teatrais.

 

Tamanho fôlego criativo e capacidade artística justificam a fama da referência estética e histórica que o grupo tem para o teatro brasileiro. Fica a certeza de que, com uma história dessas, sua existência vigorará eternamente na memória teatral nacional.

 

 

Fotos: Divulgação

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