Um dos grandes símbolos do paradoxal desenvolvimento urbano do estado e, especialmente, da cidade de São Paulo, o rio Tietê tem uma data em sua homenagem, comemorada no dia 22 de setembro.
O rio, que teve importância ímpar na fundação e no desenvolvimento de São Paulo, há décadas atrai para si olhares desolados, chocados com a degradação causada pelo homem, que além de o poluir, retificou parte de seu trajeto, acabando com suas sinuosas curvas. Mau odor, insalubridade e frequentes inundações foram ignoradas por conta do atrativo slogan político “São Paulo não pode parar”, do início do século XX.
Hoje, histórias de pessoas que chegaram a nadar no rio chegam aos ouvidos das novas gerações que, incrédulas, se questionam como e quando isso teria sido possível.
Reconhecendo a importância do Tietê para a paisagem urbana da cidade, o Teatro da Vertigem, cuja pesquisa é justamente voltada para a criação de espetáculos em espaços não convencionais, montou, em 2006, o espetáculo “BR3”.
Cena de “BR3” (Foto: Divulgação)
Com dramaturgia de Bernardo Carvalho e direção de Antônio Araújo, a montagem ocupou leito, margens e algumas pontes do rio para narrar a saga de três
gerações da família de Jovelina (Cácia Goulart), uma nordestina que foge para São Paulo depois de ficar viúva e acaba se tornando chefe do tráfico na favela de Brasilândia.
Resultado de um processo criativo de mais de três anos, a peça mostrava a pesquisa do grupo acerca da identidade nacional, diálogos e tensões entre a Brasilândia, a capital federal Brasília, e uma cidade do interior do Acre, Brasiléia.
EM “BR3”, o ator Roberto Audio, que já coordenou o Projeto São Paulo com Arte da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, interpretava Jonas, um dos filhos da nordestina. Em uma das sessões do espetáculo, porém, ele foi o protagonista por dar um grande susto em seus colegas e no público.
“Eu caí no rio Tietê em um acidente. O barco encostou em uma coluna, me desequilibrei e caí. Era um frio lascado! Mas, fui rápido. Caí e já subi no barco na mesma hora. Lembrei-me do que tinham me ensinado: ‘se cair, fecha os olhos e a boca’. Depois, tomei um banho cheio de produtos químicos para me esterilizar. É claro que o rio é muito sujo, mas a sujeira grossa fica no fundo. Ainda bem que não cheguei lá”, revelou, em entrevista ao Atores & Bastidores, do R7.
Felizmente, o artista tinha tomado todas as vacinas e não teve nenhum problema. Passado o susto, hoje ele pode se orgulhar por dizer que mergulhou no Tietê e sobreviveu. Todos nós, entretanto, aguardamos pelo dia em que o rio voltará a ser aquilo que um dia foi e recuperar seu encanto.
Texto: Felipe Del