No início da história do teatro, só os homens podiam participar das encenações e, para os papéis femininos, os atores gregos se utilizam de máscaras. Hoje em dia, sabemos que muita coisa mudou. Mas quando afinal as mulheres puderam subir ao palco e dividir a cena com os homens?
Atravessando a história das tradições cênicas medievais, foi na Itália que houve uma verdadeira recriação das estruturas teatrais por meio das representações do chamado teatro humanista. No século XVI, ocorreu um intenso processo de profissionalização de atores, com o surgimento da chamada “Commedia Dell’Arte”, em que alguns tipos representados provinham da tradição do antigo teatro romano, como as figuras do avarento e do fanfarrão.
Devido às inúmeras viagens que as pequenas companhias de Commedia Dell’Arte empreendiam por toda a Europa, este gênero exerceu grande influência sobre o teatro realizado em outras nações. Um século depois, a Itália experimentou grandes evoluções cênicas, muitas delas ainda servem de estrutura ao teatro atual. E foi justamente nesse mesmo período que as mulheres passaram a fazer parte das atuações teatrais, na França.
Uma das atrizes que outrora havia sido integrante do grupo de Molière começou a fazer parte do elenco das peças de Jean Racine, poeta trágico, dramaturgo, matemático e historiador francês, considerado, ao lado de Pierre Corneille, um dos maiores dramaturgos clássicos da França.
O nome da atriz? Therese du Parc, conhecida mais tarde, como La Champmesle, a primeira mulher a interpretar Fedra, personagem principal de “Phèdre”, obra de Racine, tornando-se então uma das principais atrizes da chamada “Commedie Française”. Assim, Therese du Parc é o primeiro nome feminino de que se tem registro na história do teatro.
Em “Phèdre”, o autor não apresenta hesitações e mostra o mundo da Grécia mitológica em toda a sua plenitude. A personagem é vítima da cólera divina e sua paixão pela personagem Hippolyte é muito mais uma punição dos deuses do que uma ação de sua própria vontade. Phèdre não é apenas uma personagem mitológica que sucumbe à fatalidade divina, mas o ser humano que carrega dentro de si as sementes de sua própria condenação.
No texto representado pela atriz, Racine mostra sua habilidade como poeta dramático. A ação está próxima do desenlace, com a protagonista no auge de seu desespero. Phèdre é a personagem trágica por excelência, pois não sendo inteiramente culpada nem inteiramente inocente, desperta no espectador sentimentos de compaixão e terror.
Existem boatos de que Racine comprou uma grande briga com Molière devido ao “roubo” dessa atriz de sua trupe. Não se sabe ao certo, mas, casada com Charles Chevillet Champmesle, dizem que Therese du Parc manteve uma relação extra-conjugal com Racine e morreu devido a um aborto malsucedido.
Crédito da imagem: Cliché Musées Nationaux, Paris.