Rui Ricardo Diaz é ator
Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Ainda criança, na escola, nas aulas de educação artística e português.
Lembra da primeira peça a que assistiu? Como foi?
Lembro de muitas fábulas, mas um espetáculo que ficou gravado em minha memória foi “O Mambembe”, de Artur Azevedo.
Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
“Romeu e Julieta”,do Grupo Galpão, “Histeria”, do Grupo XIX, “O Canto de Gregório”, de Antunes Filho, “Je Tremble”, de Joël Pommerat.
Um espetáculo que mudou a sua vida.
Não há um espetáculo em especial a que tenha assistido ou realizado. O teatro sempre nos modifica de alguma maneira. Cada espetáculo, cada personagem me deixa sequelas irremediáveis, cada trabalho me mata um pouco e, contraditóriamente, me torna um pouco mais vivo.
Você teve algum padrinho no teatro? Se sim, quem?
O que tive, ou tenho, foram pessoas queridas com as quais aprendi e aprendo sempre: Cacá Carvalho, Luis Bacelli, Sergio Penna, Steven Wasson, Corrinne Soum, Inês Aranha. Neste momento, venho pesquisando com Antônio Januzelli, o Janô. E, nos últimos quatro anos, realizei pesquisas com o diretor Paulo Fabiano. Dois mestres.
Já saiu no meio de um espetáculo? Por quê?
Não, embora tenha tido grande vontade em um especificamente. Me amargura muito quando vejo um espetáculo e os atores, o texto, cenário, figurinos, não estão intrinsecamente ligados. O teatro não pode ser realizado quando uma coisa está desconectada da outra, quando isso ocorre o teatro não existe em sua plenitude.
Teatro ou cinema? Por quê?
Pergunta difícil porque o cinema faz parte da nossa história como ser humano, assistimos desde crianças, nos deslumbramos diante de uma tela de onde parece brotar um mundo, e nós, atores, às vezes, temos a chance de experimentar estar do outro lado. E é ainda uma das grandes referências de estudo que tenho quando estou compondo para o teatro. Sou um apaixonado por cinema e, ultimamente, pela a arte de criar para o cinema, é de fato algo singular que uma vez realizado é eternizado, parece um jeito de não morrer. Mas o teatro, além de estar em mim há mais de 15 anos, faz morrer e como sou contraditório, e me fascina sê-lo, gosto de morrer pra poder me recriar.
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
“Macunaíma”, de Antunes Filho. Vi só em vídeo e ainda assim achei deslumbrante e ao mesmo tempo de uma simplicidade que o tornava ainda mais incrível!
Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Já. Porque me fascinou, e era Shakespeare hoje.
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro? Explique.
Nelson Rodrigues, Jorge Andrade e todos aqueles da literatura brasileira e estrangeira em que o teatro está impresso em sua obra como Guimarães Rosa, Lima Barreto, Ariano Suassuna, Tolstói, Dostoiévski, Camus.
Qual companhia brasileira você mais admira?
Não admiro Companhias, mas trabalhos, pesquisas.
Existe um artista ou grupo de teatro do qual você acompanhe todos os trabalhos?
Não. Acompanho trabalhos diversos de vários artistas e de vários grupos.
Qual gênero teatral você mais aprecia?
Tudo pode me mover, me acolher, desde que seja verdadeiro. Não acredito em gêneros, e sim no teatro bem feito. O que precisamos é acolher o público e compreender que também somos platéia. Então, do que necessitamos neste momento? Somos contemporâneos, fato, mas de quem?
Em qual lugar da plateia você gosta de sentar? Por quê? Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro?
No bom teatro, qualquer lugar é bom! Assisti, na minha adolescência, Marcel Marceau no Teatro Municipal de São Paulo, o ingresso variava entre 10 e 120 reais, eu só tinha 10 reais, vi o espetáculo lá do alto e atrás de uma coluna, e foi incrível! Lembro até hoje de cada cena, do silêncio absoluto interrompido apenas pelo riso esporádico do público e, claro, lembro também da dor no pescoço depois, mas valeu a pena!
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você já foi ou já trabalhou?
Estou acostumado a trabalhar em espaços alternativos, espaços que sejam propositalmente menos confortáveis. Então não há um espaço que eu possa chamar de melhor ou pior, espaço bom é aquele que conseguimos estabelecer um jogo verdadeiro com o público, do contrário qualquer espaço não tem o menor valor.
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Os dois. Eu, como ator, sinto que temos muitos, muitos encenadores e poucos diretores que se preocupam de fato com o ator e, principalmente, que consiga juntar as duas coisas, são poucos, dá pra contar nos dedos. E aí, Teatro mesmo, poucos correm o risco de realizar.
Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?
O trabalho atual é sempre o espetáculo dos meus sonhos, e neste momento venho sonhando com o “O Anjo de Pedra”, de Tennessee Williams.
Cite um cenário surpreendente.
Aquele que quase não se vê.
Cite uma iluminação surpreendente.
A que não se nota.
Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.
Na verdade são dois: O primeiro, não sei se é exatamente uma surpresa porque se trata de um grande ator, é o querido Cacá Carvalho em “A Poltrona Escura”. E o segundo: Francisco Brêtas interpretando Yago em “Otelo”.
O que não é teatro?
Existe teatro bom e teatro ruim. Está próximo de não sê-lo o que não é verdadeiro, não encanta, o que não toca.
A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Não pra mim.
Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?
O teatro é humano, enquanto houver sujeito o teatro vive.
Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?
Obras de Pinter, Lorca, Beckett, Shakespeare, Nelson, Brecht.
Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.
Antunes Filho, Shakespeare, Laurence Olivier e Liv Ullmann.
Qual o papel da sua vida?
Os que me encontrei e os que espero me encontrar verdadeiramente com eles.
Uma pergunta para William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Bertold Brecht ou algum outro autor ou personalidade teatral que você admire. (Por favor, explicite para quem é a pergunta)
Para Brecht: O senhor poderia, por gentileza, dar um pulinho aqui no nosso tempo e nos dar uma explicadinha de como criar a partir da incrível obra que nos deixou, e qual valor sua obra teria no momento pelo qual passa este nosso mundo?
O teatro está vivo?
Sim!
Texto: Renata Forato