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Papo de Teatro com Graça Berman

Publicado em: 29/08/2011 |

Maria da Graça Berman é atriz, diretora, dramaturga e professora de português e de teatro

 

 

Como surgiu o seu amor pelo teatro?

Sempre gostei de atores. Desde criança, vendo novelas e assistindo a filmes no cinema, achava maravilhosa a possibilidade de poder viver várias vidas. Na verdade, me apaixonava a possibilidade de ir além da minha vida restrita de filha única, classe média, órfã de pai desde os 3 meses, etc. Fiz jardim da infância e primário na Caetano de Campos da Praça da República. Lá tem um teatro e foi naquele palco que comecei a ensaiar meus passos de atriz e de diretora . 

 

Lembra da primeira peça a que assistiu? Como foi?

Foi um trabalho que a Célia Helena levava nas escolas e levou na Caetano. Se não me engano, se chamava  “E Deus Criou a Varoa…”. Adorei, a Célia era uma grande atriz .

 

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.

“Os Sete Afluentes do Rio Ota”. Me provou que o tempo de duração de um espetáculo só é percebido como longo se a encenação não se sustenta. 

 

Um espetáculo que mudou a sua vida.

“Missa Leiga” e “Castro Alves Pede Passagem”. Depois de assisti-los, decidi que queria fazer  teatro. 

 

Você teve algum padrinho no teatro? Se sim, quem?

Não tive padrinhos, no sentido de serem pessoas a me influenciarem a fazer teatro . Mas, iniciei profissionalmente em “Amadeus”, graças à indicação do Carrêra , que era contra-regra da peça.Depois de ser profissional , fiquei muito amiga do Plínio Marcos e ele me influenciou bastante. 

 

Já saiu no meio de um espetáculo? Por quê?

Já, quando ele é chato e não consegue me interessar, me envolver .

 

Teatro ou cinema? Por quê? Não lembro os nomes das peças.

Lembro que não agüentei ver até o fim o “Titanic”, ou que saí pra fumar e voltei e não parava de entrar água na tela.

 

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?

São tantos. Normalmente, é porque tem um papel que amo e gostaria de fazer: em “Homens de Papel”, do Plínio, gostaria de fazer a Nhanha; em “Senhora dos Afogados”, do Nelson, queria fazer a Eduarda, todas do Tennessee que tenham papéis pra minha idade. E evoé, novos autores à vista 

 

Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?

Acabei de ver 4 vezes “Policarpo Quaresma”  (porque é uma obra-prima de direção , dramaturgia  e atuação , principalmente do Lee Tailor ). Vi umas 3 vezes “El Dia que me Quieras”, pelos mesmos motivos e uma atuação inesquecível do Reinaldo Maia.

 

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro? Explique.

Plínio Marcos, Nelson Rodrigues, Guarnieri, Tennesse Williams, Shakespeare e Molière. Os indicados são tão óbvios que dispensam explicações. São geniais. Agora, na minha opinião, o Newton Moreno é o melhor dramaturgo brasileiro contemporâneo.

 

Qual companhia brasileira você mais admira?

Algumas: Grupo Macunaíma, Fraternal, Folias e Os Fofos Encenam.

 

Existe um artista ou grupo de teatro do qual você acompanhe todos os trabalhos?

Os mesmos.

 

Qual gênero teatral você mais aprecia?

O bom teatro em qualquer gênero.

 

Em qual lugar da plateia você gosta de sentar? Por quê? Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro?

Gosto de sentar no meio e na ponta (tenho pernas grandes e não caibo em muitos teatros). O último local terrível e que me incomodou foi na arquibancada do porão do Centro Cultural: estava lotado, eu não podia me mexer, não tinha almofadinha e a peça era um pouco longa. Sofri e isso pode ter prejudicado a fruição da peça. 

 

Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você já foi ou já trabalhou?

Os melhores são o Cultura Artística e o Sesc Consolação. Os piores são todos os “espaços” adaptados, sujos e apertados. 

 

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou? Os dois. 

Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?Uma peça que fizesse a platéia rir, chorar e pensar em algo que nunca pensou . O local poderia ser qualquer espaço ou teatro digno para exercermos nosso ofício e recebermos o público . Como companhia , adoraria ter ao lado vários bons diretores e atores . E temos muitos no nosso teatro .É o que nos salva e anima.

 

Cite um cenário surpreendente.

“Torre de Babel”, do (Luiz Carlos) Ripper.

 

Cite uma iluminação surpreendente.

A da maior parte das peças de Gerald Thomas.

 

Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.

Tanto surpreendeu que se tornou um dos que mais gosto: Lee Taylor.

 

O que não é teatro?

O que é chato e não se comunica.

 

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?

Não.

 

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?

Negar, incorporar ou fazer as duas coisas com a tecnologia.

 

Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?

Todas dos autores que citei anteriormente.

 

Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.

São muitos. 

 

Qual o papel da sua vida?

Até hoje, tive dois papéis que amei ter feito: Júlia, de “A Prova de Fogo”, de Consuelo de Castro, e direção de Aimar Labaki; e Eugênia Câmara, de “Castro Alves Pede Passagem”, de Guarnieri, direção de Jair Aguiar.

 

Uma pergunta para William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Bertold Brecht ou algum outro autor ou personalidade teatral que você admire. 

Meu caro William Shakespeare, você tem acompanhado as montagens que têm sido feitas das suas obras? O que acha delas ?

 

O teatro está vivo? 

Sempre.