Suscitar debates e provocações em torno do tema “Viva o Povo Brasileiro” foi o mote de quatro encontros promovidos pela SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. Mais do que seu conteúdo, o título do livro homônimo, escrito por João Ubaldo Ribeiro e utilizado como norteador dos estudos dos aprendizes neste semestre, serviu como ponto de partida para que artistas, pensadores e pesquisadores discorressem sobre o assunto, na última sexta-feira (12/8) e sábado (13/8).
Hoje (15/8), o portal da SP Escola de Teatro fará um balanço desses encontros que tiveram como convidados o cenógrafo Nuno Ramos, o antropólogo Pedro Cesarino, a pesquisadora Malena Contrera e o dramaturgo Lauro César Muniz.
Confira, abaixo, como foi a primeira palestra.
A Arte de Nuno Ramos
Na sexta-feira (12/8), às 14h30, a Escola recebeu o escritor, pintor, desenhista, cenógrafo, ensaísta e videomaker Nuno Ramos. Com formação em Filosofia e uma série de obras e livros premiados, ele expôs sua opinião de forma clara e direta sem se esquivar das perguntas.
O foco principal do início da palestra foi a produção cultural no Brasil, que, segundo Ramos, é muito forte, mas se perde rapidamente. “Somos poderosos no sentido de criar e autodestrutivos ao usar o que fizemos. No Brasil, nada dura, não temos captação da energia criativa”, afirmou.
O restante do encontro girou em torno da concepção de arte do palestrante, que discorreu sobre as modificações que ela sofreu – especialmente no Brasil – ao longo dos últimos tempos, tanto em sua estética quanto em seus formatos, conceitos e funções.
Aprendizes durante encontro com Nuno Ramos (Foto: Arquivo)
A maneira como os artistas brasileiros se relacionam com suas influências; a força do amadorismo no País – como arte que se desprende, em certo nível, do modelo de produção industrial; o compromisso que a arte tem com a política, que antes era um elemento motivador de outros questionamentos, e, hoje, em muitos casos, se tornou, segundo Ramos, mera reprodução de um discurso cultural, foram outros temas da conversa.
A pergunta que mais rendeu assunto foi feita pela aprendiz de Atuação Alline Sant’Ana, que questionou Ramos se hoje não existe uma divisão muito grande entre a arte e o público, que muitas vezes “não se sente no direito de acompanhá-la por não conseguir entendê-la”.
“Gosto de quem critica determinada obra, mas o que fica no meio do caminho me incomoda. É necessário ser injusto com o artista, julgá-lo. Essa conversa de não entender é bobagem. Arte é apelo imediato, não conhecimento. Se for difícil de compreender, não é arte. Acho que a arte contemporânea é até fácil demais, mas é preciso se envolver, se entregar. Sem esse esforço, é impossível”, respondeu Ramos.
Texto: Felipe Del