Por Gabriela Lemos, especial para SP Escola de Teatro
o futuro
não é em alta definição
não é colorido
nem linear
nem tão aristotélico
precisa permanecer pra fazer sentido
tentando
eu tentaria
o futuro
puxa o tapete
prende o fôlego
conjuga o verbo errado por diversão
incomoda
tropeça
desafia
borra o giz na cartolina preta com a mão
o futuro
sobe e desce
é um não-lugar
passagem de quem vai jogar mais uma garrafa de vinho tinto no lixo reciclável enquanto se cobra por ter pedido mais uma pizza e começado mais uma temporada mesmo sendo três horas da manhã e a cabeça já doer de tanta luz azul nas retinas o dia inteiro todo dia assim
cemitério dos extintos
e a saudade que dá mesmo desse mundo
o futuro
eu entendo
amedronta
ameaça enquanto manda beijinho de blusão branco como quem não quer nada
eu experimentaria ter
medo do futuro
porque é simples
e tem tudo
* Gabriela Lemos é participante da oficina olhares: poéticas críticas digitais, oferecida pela SP Escola de Teatro e ministrada pelo crítico Amilton de Azevedo, que supervisiona a produção e edita o material resultante.