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Nova integrante do Conselho da Adaap, a psicanalista Isildinha Baptista Nogueira simboliza a contribuição da psicanálise ao teatro. Confira sua entrevista!

Publicado em: 13/10/2022 |

É com muita felicidade que a SP Escola de Teatro compartilha a chegada de mais uma mulher importante da sociedade brasileira no Conselho da Adaap (Associação dos Artistas Amigos da Praça), a psicanalista Isildinha Baptista Nogueira.

Mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e doutora em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP), Isildinha fez sua formação nos Ateliers de Psychanalise, em Paris, com Radmila Zygourys, uma das fundadoras da instituição.

Ela é pioneira ao incluir a discussão do corpo no contexto da condição de mulher negra e brasileira e também foi uma das primeiras a abordar com o instrumental psicanalítico tanto a dimensão sociocultural quanto a subjetiva da condição de negro no Brasil.

Em seu trabalho, há um profundo mergulho de si mesma delineando as muitas amarras que interditam o desenvolvimento da pessoa, a autodepreciação e os processos autodestrutivos culturalmente introjetados numa sociedade racista. Introjeção designa na teoria psicanalítica um processo por meio do qual uma pessoa interioriza qualidades pertencentes aos objetos sociais. Isildinha defende que quando a elaboração psicanalítica é bem feita, ela ganha o mundo, o que significa que precisa ter uma partilha entre o mundo de dentro e o mundo de fora.

A psicanalista também coloca em evidência em seus estudos que a partir da consciência de cada pessoa do lugar que ocupa dentro da estrutura social, há uma necessidade de questionar essa condição com o conhecimento da diferença entre ter privilégios e ter acesso, já que no primeiro há uma consequência de exclusão de algum outro grupo social e no segundo significa ter a possibilidade de exercer a cidadania.

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Isildinha concedeu gentilmente uma belíssima entrevista exclusivamente à SP  sobre suas contribuições ao ensino da Escola. Confira abaixo na íntegra:

O que a motivou a se tornar conselheira da Adaap? Pretende investir principalmente em quais inovações e pautas durante o seu tempo como conselheira?

O que me motivou a aceitar o convite, para o conselho da Adaap, primeiro foi a paixão com que Ivam Cabral me apresentou a Associação e todo o trabalho que é feito na SP Escola de Teatro, fiquei muito encantada, em tempos tão difíceis, esse trabalho é vida, a arte tem esse poder regenerador e isso é muito importante em tempos de tantos medos e desesperança, uma luz no fundo do túnel, os jovens são os cidadãos de amanhã, mais conscientes de uma sociedade mais justa, equânime e democrática onde o respeito e a diferença serão regra e não exceção. Segundo foi o gentil convite da Maria Bonomi, para integrar o conselho, do qual espero colaborar com o que estiver ao meu alcance. Os artistas têm uma luz especial, um poder transformador, fazer essa parceria com pessoas que tanto já lutaram para que esse País pudesse ser uma democracia, é importante; uma oportunidade para aprender a resistir e jamais desistir. Sempre tive um enorme interesse pelas artes, em especial o Teatro, sou uma psicanalista, espero efetivamente cooperar com à Associação, nesse tempo em que a cultura tem sido dilapidada, desconstruída por um governo fascista e violento, cujo objetivo é matar tudo e todos; não tem espaço para vida, para uma sociedade mais justa, para a saúde, educação, cultura, arte, só o terror de corpos famintos paralisados e desesperançados. A Associação é uma força que resiste e se recusa a pactuar com a desconstrução da cultura, das artes, mesmo quando tudo parece ruir, ela luta por dias melhores. A arte é alimento para alma, fortalece o espírito, nos encanta, nos renova, nos faz mais conscientes de nossa condição no mundo; nos incita a questionar, nos tira do conformismo, nos inspira a mudar e renovar.

Para você, qual a importância da SP Escola de Teatro e sua pedagogia inovadora para o ensino das artes do palco no Brasil?

A Escola é muito importante e muito bem administrada, estou conhecendo essa estrutura e o pouco que consegui ver, o que mais me impressionou, foi o respeito com que todos são tratados. Percebi que todos são importantes para o funcionamento dessa estrutura, cada um nos seus trabalhos, os alunos, tudo funciona de maneira complementar; é um espaço acolhedor, as marcas dos que passaram pela escola e daqueles que agora ocupam esse espaço é o testemunho de uma escola que se constrói a cada dia, dinâmica e sem fórmulas prontas, mas com experiências vividas, isso faz com que os alunos se vejam num espaço que não tem medo do novo e das questões que trazem os jovens, uma escola que não silencia, que se dispõe a escutar e que estimula a pensar, a criar. Aqui o conhecimento é ponto de partida para novas possibilidades, não está cristalizado, é transformador, faz ampliar a criatividade dos alunos, aumenta a confiança e a auto estima, importante para os futuros profissionais. Gerir uma Escola como essa, espaço de conhecimento, acolhimento e de luta, demanda muito mais do que competência, é preciso muita paixão pela arte pelo teatro e isso não falta da parte daqueles que compõem toda essa estrutura.

Como você poderia explicar aos artistas iniciantes que ingressam na SP Escola de Teatro as contribuições da psicanálise ao teatro? Quais seriam as relações entre essas duas áreas?

A palavra Teatro, vem do grego Theatron, que significa “lugar para comtemplar”. O teatro é um dos ramos da arte cênica ou performativa, relacionado sobretudo com a atuação/interpretação, pela qual são representadas histórias diante de uma plateia ou público; combinando discurso, gestos, sons, música, cenografia, luz etc. O teatro é um facilitador da vontade do homem de se entender no mundo e sua existência; aqui vejo que a psicanálise faz uma conexão com o teatro; através do que Freud chamou de “ Romance Familiar”, um texto que criamos para contar nossa história onde somos o ator principal, nos permite entender nosso lugar na família e nosso lugar no mundo, a diferença é que aqui o analista é a “platéia “ e nós o ator que representa o nosso drama pessoal e que nos ajuda a nos entendermos como sujeitos.
Um amigo muito querido, Felix Guatarri, me dizia que o teatro e o cinema funcionavam como um divã daquele que contempla, e se identifica com a cena apresentada, lugar privilegiado de reflexão. O psicanalista escuta quem fala e de onde fala, condição para nos entendermos na nossa história e no lugar que ocupamos e queremos no mundo. Como no teatro, a psicanálise tem uma estrutura sólida, mas não rígida, muito menos é normativa, a singularidade é a sua base, à sensibilidade para a escuta uma condição, uma entrega. Assim como no teatro, cada personagem é uma singularidade que demanda do ator uma entrega total para viver uma vida que não é a sua; mas a vida do ator está lá, esse tênue limite entre pessoa e persona, exige delicadeza e sensibilidade .
A psicanálise dialoga muito com o mundo das artes, em especial com o teatro, eu espero poder dialogar e escutar os alunos, as pessoas que residem em cada ator; é importante que eles falem, estarei disponível para ouvi-los.




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