O Itaú Cultural recebe até 3 de novembro (sempre de quinta-feira a domingo) a temporada de estreia do espetáculo “Magnólia”. O swing, a poesia e a vivência negra presentes nas canções do disco A Tábua de Esmeralda, lançado há 50 anos por Jorge Ben Jor, serviram de inspiração para o solo. O texto é de Lucas Moura, que também assina a dramaturgia ao lado da atriz e bailarina Marina Esteves, que dirige e atua na peça.
A montagem é fruto da pesquisa de Marina sobre as recepções e as representações de gênero e raça na cena contemporânea, interseccionadas com a narratividade e os desdobramentos do teatro épico.
“Magnólia” se apropria da canção homônima de Jorge Ben Jor para criar livremente uma fábula sobre uma deusa astronauta que vive no cosmos e recebe um chamado de São Jorge. Ele a convida a descer para a Terra e experimentar o que é ser humano. Ela cai na Terra como uma semente, brota como uma flor e vira uma mulher negra. Então, começa a experimentar o que é essa vivência, com todos os prazeres e dissabores da sua existência.
Sobre esse processo de construção da dramaturgia, Marina comenta: “É um olhar principalmente feminino sobre a obra de Jorge Ben Jor, em um recorte muito específico, que perpassa pela Tábua de Esmeralda enquanto roteiro dramatúrgico”. Sobre a pesquisa, ela conta: “Enxergamos em Magnólia várias possibilidades de criar uma dramaturgia a partir das imagens presentes na música. Pesquisamos vários aspectos marcantes na obra do artista, como a questão do futebol e a relação com as mulheres e com a negritude”.
A direção musical é assinada por Esteves e Dani Nega, que também é responsável pelos beats que levam à cena a dimensão do rap e da palavra rimada presentes na obra de Jorge Ben Jor, pela produção musical e trilha original. No palco, a performer é acompanhada pela DJ K-Mina (pick-ups e coro) e pelos instrumentistas Gisah Silva (percussão e bateria), Larissa Oliveira (trompete e coro) e Melvin Santhana (guitarra, violão e voz).
A encenação tem como referência a performatividade e a estética afrominimalista, campo de pesquisa de Marina Esteves. Nesse sentido, a montagem aposta no conceito teatral de espaço vazio, focando no corpo, na palavra e na música. A artista ainda dialoga em cena com o videografismo construído por Gabriela Miranda e Matheus Brant, no cenário de Léo Akio.
“Priorizamos mesmo a palavra, o spoken word. O próprio Jorge Ben, em uma entrevista, disse que gosta de falar quando tem que cantar e cantar ao invés de falar. A palavra, a música e o vídeo são nossos principais recursos estéticos. O corpo também. A dança é um veículo importante na condução da narrativa”, explica Esteves.
Por sua vez, os figurinos, assinados por Ayomi Domenica, transitam entre duas realidades. “A trama de Magnólia se passa no sonho de uma mulher negra. Por isso, as vestimentas exploram esse universo onírico, principalmente quando representamos essa deusa astronauta. Quando ela desce para a Terra, apostamos em uma estética mais urbana mesmo”, revela a idealizadora.
Sobre Marina Esteves
Atriz, diretora e bailarina co-fundadora do coletivo O Bonde. Formada pela ELT – Escola Livre de Teatro de Santo André, pesquisa o teatro negro e as intersecções de gênero e raça na cena. Entre seus trabalhos recentes, destacam-se Bom dia, eternidade, com direção de Luiz Fernando Marques Lubi, Desfazenda – Me enterrem fora desse lugar (Prêmio APCA 2021 de melhor espetáculo virtual e indicado ao Prêmio Shell 2023) e Gota d’água Preta (Prêmio APCA 2019 de melhor direção e indicado ao Prêmio Shell na categoria inovação).
Integrou o elenco de A Divina Farsa, da Cia La Mínima, celebrando os 25 anos do grupo, com dramaturgia de Newton Moreno e direção de Sandra Corveloni. Também concebeu e dirigiu Zebra sem nome, com dramaturgia de Maria Shu, no qual foi indicada ao prêmio de melhor espetáculo pelo prêmio APCA em 2023. Destacou-se como presidente da banca da 14ª edição do Prêmio Zé Renato e na mediação de um debate sobre Grada Kilomba no Sesc Avenida Paulista. Em sua trajetória, atuou em coletivos e espetáculos, como Teatro da Conspiração, Coletivo Estopô Balaio, Núcleo Atômico e Cia Mundu Rodá.
Sobre Lucas Moura
É formado em dramaturgia pela SP Escola de Teatro (2015), pela Escola Livre de Teatro (2016) e pelo Núcleo de Dramaturgia do Sesi (2019), e cursa Filosofia na Universidade de São Paulo. É também ator formado pela Cia. do Nó de Teatro (2016). Como dramaturgo, foi contemplado em prêmios como Proac Primeiras Obras, com CENTREVILLE (2015); Funarte Respirarte, com Canto para descolonizar meu pranto (2020); e Solano Trindade e Zé Renato, com Como criar para si um corpo negro sem órgãos (2020). Como roteirista, venceu o edital Sound Up Brasil, do Spotify, e lançou o podcast infantil Calunguinha, o cantador de histórias, um dos mais escutados no Brasil, com participações de Lázaro Ramos, Yuri Marçal, Solange Couto e outros artistas.
Foi curador do recorte de Literatura do Edital Arte como respiro (2021), do Itaú Cultural, e palestrante na FLUP – Festa Literária das Periferias 2021. Estreou como roteirista com Desfazenda – me enterrem fora deste lugar e foi dramaturgo de Jogo de Imaginar, vencedor do Prêmio APCA de Melhor Direção (2023). Também atuou como orientador de dramaturgia nas Fábricas de Cultura Zona Leste (2019-2022) e como docente na SP Escola de Teatro (2022-2023).
Sobre Dani Nega
Rapper, compositora, produtora musical e ativista do movimento negro e LGBTQIA+. Como produtora musical, produziu a trilha do longa-metragem e documentário Futuro nas Costas, com direção de José Fernando Peixoto de Azevedo, produzido pela produtora Prosperidade com fundos da ANCINE. Produziu e dirigiu a trilha do média-metragem Dois Garotos que se Afastaram Demais do Sol, aclamado na 29ª edição do Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade como o Melhor Curta-Metragem – Prêmio do Público, e também do filme Desfazenda – Me Enterre Fora deste Lugar, vencedor do Prêmio APCA como melhor filme, sucesso de crítica e de público.
No teatro, ganhou o Prêmio Shell de melhor trilha sonora com o espetáculo Terror e Miséria no Terceiro Milênio, em que assina a direção e produção musical. Recebeu, ainda, a indicação ao Prêmio Shell de Melhor Trilha Sonora pelo espetáculo Hip-Hop Blues, onde assina produção e direção musical. Também tem um trabalho musical em parceria com o produtor/músico/performer Felipe Julian (Craca), com o qual foram premiados no 28˚ Prêmio da Música Brasileira como melhor Álbum Eletrônico com Dispositivo Tralha.
Ficha Técnica
Concepção, Idealização, Direção Geral e Atuação: Marina Esteves
Dramaturgia: Lucas Moura e Marina Esteves
Texto: Lucas Moura
Dramaturgismo: Marina Esteves
Pesquisa musical para dramaturgia: Lucas Moura e Marina Esteves
Concepção Musical: Dani Nega e Marina Esteves
Direção Musical: Dani Nega e Marina Esteves
Dramaturgia Sonora: Dani Nega, Lucas Moura e Marina Esteves
Produção de Beats, Produção Musical e Trilha Original: Dani Nega
Colaboração de arranjos ao longo de todo o espetáculo: DJ K-Mina (pick-ups e coro) Gisah Silva (percussão e bateria), Larissa Oliveira (Trompete e coro), Melvin Santhana (guitarra, violão e voz)
Desenho de luz: Matheus Brant
Desenho de som: André Papi
Figurino: Ayomi Domenica
Cenografia: Léo Akio
Adereço: Edivaldo Zanotti
Videografismo: Gabriela Miranda e Matheus Brant
Assistência de direção: Lucas Moura
Preparação corporal: Ricardo Januario
Direção de movimento: Marina Esteves
Preparação vocal: Rebeca Jamir
Musicistas: DJ K-Mina (pick-ups e coro) Gisah Silva (percussão e bateria), Larissa Oliveira (Trompete e coro), Melvin Santhana (guitarra, violão e voz)
Voz off Hermes: Carlota Joaquina
Arranjo da música “Zumbi”: Kiko Dinucci
Assistência e operação de luz: Letícia Nanni
Consultoria: Roberta Estrela D’Alva
Consultoria em estudos teóricos: Deivison Faustino
Pesquisa biográfica e fonográfica sobre Jorge Ben Jor: Marina Esteves
Acompanhamento processual: Ângelo Fábio
Orientação litúrgica: Mameta Alaíde Honorato da Silva (Kamitina) e Tatetu Arildo da Silva (Kelawê)
Fotografia de divulgação: José de Holanda
Fotografia de cena: Noélia Najera
Vídeos de divulgação: Léo Akio (direção) e Cássio Rothschild (fotografia)
Designer Gráfico: Murilo Thaveira
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Daniele Valério e Carina Bordalo
Produção: Corpo Rastreado – Leo Devitto
SERVIÇO
Espetáculo Magnólia – temporada de estreia
De 17 de outubro a 3 de novembro (quinta-feira a sábado, às 20h, e domingo, às 19h)
Na Sala Itaú Cultural (Piso Térreo)
Capacidade: 224 lugares
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 90 minutos
Entrada gratuita. Reservas de ingressos na quarta-feira da semana anterior à apresentação, a partir das 12h, na plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br