Por Guilherme Bonfanti, coordenador do curso de Iluminação da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.
A partir de 1987, quando voltei da Itália, depois de me apresentar como ator ao lado de Cacá Carvalho no espetáculo “Meu Tio o Iauaretê”, trouxe na mala uma certeza, além dos vinhos: luz era meu caminho.
Vinha misturando as atividades de ator e técnico e, estando fora do País, percebi que tinha que me definir e que a luz me colocava “dentro” do palco, lugar este do qual eu não pretendia sair, a luz me possibilitaria uma ligação criativa com o teatro, algo de que eu não pretendia abrir mão.
Fui em busca de aprofundar meus conhecimentos técnicos, uma vez que julgava ter em mim a inquietação artística. Trabalhei em empresas de iluminação, teatros e exerci a função de técnico durante um tempo.
A sincronicidade me colocou junto a Antônio Araújo em seu último espetáculo na ECA, “Oberosterreich”. Foi um entendimento imediato e uma sintonia muito grande entre nós dois. A partir daí, engatamos uma parceria artística que dura até hoje. Juntos, fundamos o Teatro da Vertigem.
De lá pra cá, fizemos sete espetáculos juntos e esta parceria me trouxe premiações e convites para colaborar com inúmeros diretores, cenógrafos, curadores e arquitetos, diversificando muito minha carreira.
No Vertigem criei minha identidade de artista. Entendi minha profissão e meu papel dentro da criação de um espetáculo. Pude também experimentar outras possibilidades, tendo minha primeira experiência em direção no ano passado.
Pesquisa, experimentação, processo de construção artesanal, ética nas relações e colaboração são algumas das bases do meu projeto artístico. A pedagogia sempre foi parte de minha vida, em todos os projetos do Vertigem trouxe pessoas interessadas em acompanhar um processo criativo. Formei alguns dos profissionais que estão no mercado.
A precariedade sempre esteve presente em meus trabalhos e acabou se transformando em parte das minhas criações. O convívio do high com o low tech sempre me instigou. Isso nunca foi um motivo de paralisação e sim estímulo na criação.
Os trabalhos no Vertigem sempre foram criados em processos muito longos, o que me possibilitou pesquisar e experimentar muito, sempre me desapegando de algumas soluções. Por ter sido “criado” dentro do processo colaborativo, este desapego acabou virando procedimento. Carrego comigo esta visão em todos os lugares por onde passo e aqui não foi diferente.
Tudo isso vem comigo para a SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. E não consigo pensar no curso de Iluminação sem esses elementos. Tenho discutido isso em sala temos que ser um grupo, pesquisando, experimentando por dois anos, e não aprendizes, cada um tentando aprender mais que o outro. A ideia de um grupo que pesquisa e disponibiliza seu conhecimento é para mim o mais importante.