Nesta sexta-feira, 20, o Spotify lança em sua plataforma o podcast infantil Calunguinha, O Cantador de Histórias, projeto concebido por Lucas Moura (diretor, roteirista e criador) e Stela Nesrine (diretora musical e sound designer) e contemplado pelo programa Sound Up, uma iniciativa da serviço de streaming de música. Lucas é artista egresso de dramaturgia da SP Escola de Teatro e Stela estudou sonoplastia na instituição, mas não concluiu o curso. O dramaturgo já foi também artista artista docente do curso técnico.
A ideia do podcast é contribuir com o imaginário de crianças negras através de histórias cantadas que serão narradas por grandes figuras do cenário artístico e cultural brasileiro, como Lázaro Ramos, Yuri Marçal, Aretha Sadick, Luedji Luna, entre outros.
Calunguinha foi um dos vencedores da primeira edição latino-americana do programa Sound Up, que aconteceu em 2020, e é uma iniciativa do Spotify que visa incentivar criadores de comunidades sub-representadas a explorar o mundo dos podcasts, diversificando as vozes no espaço de áudio. Os criadores contemplados pelo programa recebem orientação da plataforma durante 1 ano, além de todo o apoio necessário para a concretização do projeto, assim vão obtendo mais experiência na produção de áudio e desenvolvendo suas obras. No fim do ano, o piloto profissional da ideia, trabalhado durante esse período, tem a oportunidade de se tornar um Original Spotify.
Lucas Moura conta que foi um processo desafiador e muito concorrido, 20 artistas que vieram de diversas partes do Brasil participaram da pré-seleção e desses apenas 5 foram os ganhadores. Nessa conjuntura, em entrevista à equipe de comunicação da SP Escola de Teatro, ele comenta a importância de sua formação na instituição para os processos de escrita utilizados na criação das histórias:
“Eu sinto que fui muito bem nutrido de conhecimento de dramaturgia e a base de todo o meu conhecimento dramatúrgico é a SP Escola de Teatro. Para criar o roteiro do podcast, o desafio foi pensar em uma escrita pra ser escutada.”
Ele explica que a técnica de conferir textura aos textos, aspecto que diferencia a narrativa em podcast da narrativa teatral, é um exemplo de conhecimento que o artista desenvolveu a partir da experiência que teve na escola. Segundo o diretor, toda sua base dramatúrgica veio dos aprendizados adquiridos durante o tempo de estudo na instituição, portanto esses foram fundamentais:
“A SP foi para mim como um útero, tudo que eu sei de dramaturgia veio de lá. Eu estudei em outros lugares, mas a SP é a minha escola. O curso que a Marici Salomão[coordenadora de dramaturgia da escola] propõe e muito amplo, se você escreve para o teatro você consegue escrever para qualquer outra linguagem”.
Serão 12 episódios protagonizados por Calunguinha, personagem criado inicialmente para o teatro e adaptado para a versão em podcast. O primeiro já está disponível na plataforma digital e narra o dia em que Calunguinho, querendo que sua mãe não vá trabalhar e fique brincando com ele, tranca a porta de sua casa e esconde a chave no meio de seus brinquedos. Nesse contexto, a mãe decide contar a história do Rei Malunguinho, líder de um dos maiores quilombos do Brasil e também considerado por todos o grande chaveiro. Esse rei é um forte homem negro detentor de uma chave mágica que pode abrir qualquer coisa no universo, mas ele escolhe utilizá-la para abrir as celas e salvar seus irmãos que estão aprisionados na senzala. Lázaro Ramos interpreta o Rei Malunguinho.
Segundo os artistas criadores, o podcast nasceu da necessidade de dar para as crianças negras da atualidade esse estímulo sonoro que lembrasse o momento de contar a história de ninar. O dramaturgo explica que apesar de todo o conteúdo digital e visual infantil que está disponível, seria interessante trabalhar o mundo imaginário dos menores nesse sentido mais lúdico e auditivo, fugindo um pouco das telas de celulares e tablets, muitas vezes nocivos quando usados em exagero pelos pequenos . Além disso, Stela e Lucas, a partir da experiência como mãe e padrasto de Caetano, de 5 anos, salientaram a importância da veiculação de histórias que falem da ancestralidade e da cultura afro para crianças negras. Nesse contexto, no primeiro episódio, por exemplo, a narrativa é inspirada na falange espiritual afro-ameríndia advinda dos terreiros de Catimbó, Toré e Umbanda, que, por sua vez, foi baseada na trajetória de João Batista, líder do Quilombo de Catucá.
“Uma coisa muito legal do Calunguinha é que é um projeto familiar. Minha esposa interpreta a mãe dele, minha cunhada o protagonista, Caetano participa de vários episódios, e amigos, colegas e seus filhos fazem participações como outros personagens. Em todo episódio, Calunguinha conta algo do seu dia para a mãe, e após ela esquentar um chá para o menino, ela começa a relembrar alguma história ancestral que remete ao episódio contemporâneo. Nesse cenário, Calunguinha viaja pela fumaça do chá e entra no mundo mágico das histórias”, comenta Moura, revelando o pontapé inicial de todo episódio. Ele conta que algumas de suas referências são clássicos infanto-juvenis dos anos 1990, como o programa Mundo da Lua, do garoto Lucas Silva e Silva, e o livro O Pequeno Príncipe.
Cada episódio dura em média entre 20 e 25 minutos e a temporada 1 tem 12 episódios já gravados. Em cada um deles, um artista convidado negro interpreta um personagem importante.
“Um dos pontos mais essenciais do projeto é que conseguimos conhecer e ouvir crianças de vários cantos do Brasil. Viajamos para o Rio de Janeiro, onde conversamos com crianças do Vidigal, em Salvador visitamos a Gamboa, e nessas trocas descobrimos bastante o que as crianças sonham, pensam e gostam de ouvir nas histórias contadas para elas”, revela o dramaturgo, que visitou as cidades para gravar com os artistas convidados ilustres.
Ouça o primeiro episódio de Calunguinha, O Cantador de Histórias: