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“Humor nos dá leveza, consciência e transcendência”, diz Raul Barretto

Publicado em: 29/06/2020 |

Ator, palhaço e produtor cultural há mais de três décadas, Raul Barretto é formado em engenharia civil, mas foi na arte que se encontrou, sobretudo no teatro que faz o público rir. 

Nesta entrevista, o coordenador de Humor da SP Escola de Teatro e integrante do Parlapatões, um dos principais grupos teatrais humorísticos do Brasil com sede na praça Roosevelt, em São Paulo, comenta sobre este momento de pandemia, como lida com a quarentena e o ensino artístico online, das possibilidades do digital que estão sendo descobertas e ainda revelou o que deseja ao Brasil e à classe artística neste momento tão delicado.

Leia a entrevista:

Miguel Arcanjo Prado – Como você vem lidando com esta quarentena? O que vem sendo mais difícil?

Raul Barretto – Venho lidando com paciência e resignação. O mais difícil é conseguir dar conta das vontades, dúvidas e perguntas de duas crianças, diante de tantas incertezas.

 

Miguel Arcanjo Prado – Como é lidar com o ensino artístico online? O que vem sendo mais desafiador?

Raul Barretto – Por se tratar de um artístico específico, o teatro, que pressupõe na sua essência o contato ao vivo, o mais desafiador é a luta interna para aceitar, acreditar e, mais difícil de tudo, convencer os estudantes de que é possível fazer acontecer nesse suporte virtual. A saudade do ao vivo é de matar. Mas manter a janela humana virtual permanentemente aberta nos deixa vivos.

 

Miguel Arcanjo Prado – A SP Escola de Teatro foi uma pioneira em seguir suas atividades online. Isso foi importante em sua visão, por quê?

Raul Barretto –  Justamente para trazer mais pessoas  para a trincheira do possível , para a manutenção da vontade do fazer teatral. Foi incrível, por exemplo fazer um processo seletivo para novos estudantes, online, e constatar que essa vontade suplanta a pandemia, e que as aquelas pessoas estão sedentas em se se aproximar mais do teatro, sejam quais forem as condições.

 

Miguel Arcanjo Prado – Você tem acompanhado lives e teatro digital? O que acha dessas descobertas de novas linguagens e possibilidades?

Raul Barretto –  Tenho acompanhado um pouco, menos do que gostaria, o mesmo se dá com livros, filmes, séries etc. O dia  a dia em seus afazeres têm me sugado tempo demais. Mas acho louvável toda essa busca e ainda descobriremos outra possibilidades. Não vou entrar no mérito da nomenclatura se é ou não teatro. O movimento e a busca importam mais.

 

Miguel Arcanjo Prado – O que acha que os profissionais da cultura precisam fazer neste período tão conturbado?

Raul Barretto –  Voltar-se a cada instante ao humano mais profundo, questionar-se , buscar aperfeiçoamento e conhecimento, auxiliar quem mais precisa, resistir, resistir e resistir.

 

Miguel Arcanjo Prado – O que você fez neste período que lhe fez muito bem e recomendaria às outras pessoas?

Raul Barretto –  Yoga e meditação. 

 

Miguel Arcanjo Prado – Do que mais você sente falta hoje em dia?

Raul Barretto –  Do contato ao vivo com uma plateia lotada, sentindo a risada dela.

 

Miguel Arcanjo Prado – Quando tudo isso passar o que você tem vontade de fazer?

Raul Barretto – Gritar muito, xingar, desabafar antes de tudo. Aí, respirar profundamente e olhar para o futuro com novo olhar e fazer um espetáculo que convide as pessoas a se juntar a nós nessa busca de um mundo mais justo e humano.

 

Miguel Arcanjo Prado – O humor tem sido um importante aliado da saúde mental de muitas pessoas. Como enxerga o papel do humor em uma pandemia?

Raul Barretto –  Não só na pandemia, mas em qualquer situação extrema, penso que o humor deve permanentemente estar sob nossa epiderme mais saliente. Não resista a ele e lembre-se sempre que a nossa última imagem, depois que toda epiderme e carne perecer sob a terra, será o nosso sorriso, mesmo se a dor da morte for terrível. O Humor nos dá leveza, consciência, transcendência.

 

Miguel Arcanjo Prado – O que você deseja hoje ao Brasil? E aos seus colegas artistas?

Raul Barretto –  Ao Brasil desejo mais educação e sobretudo arte. É muito triste  constatar a fragilidade da nossa democracia, impulsionada pela ignorância e distância da arte, que elege uma pessoa tão desqualificada para nos governar. Era tão previsível esse desastre… Aos meus colegas desejo saúde e resiliência, pois resistiremos e continuaremos fazendo arte por muitos anos.

 

CULTURA EM CASA

Assim como outros equipamentos, a SP Escola de Teatro criou uma programação especial na internet para oferecer ao seus seguidores. Assim, está disponível uma série de conteúdos multimídia, como vídeos de espetáculos e de palestras e bate-papos de nomes como as atrizes Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Denise Fraga, a monja Coen, a escritora Adélia Prado e o pastor Henrique Vieira, além de cursos gratuitos a distância.

O acervo ainda inclui filmes produzidos pela Escola Livre de Audiovisual (ELA) – iniciativa da Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap), gestora da SP Escola de Teatro – em parceria com instituições internacionais, com a Universidade das Artes de Estocolmo (Suécia).

#culturaemcasa #teatroemcasa




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