Utilizando como referências o trabalho dos estilistas Christian Lacroix e Jean Paul Gaultier e as teorias da semiótica de Zygmunt Bauman, o aprendiz de Cenografia e Figurino da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco Issac Feitosa Vale uniu seu trabalho ao dos aprendizes de Técnicas de Palco, Maria de Lourdes Catta Preta, Mariana Pedroso de Moraes e Willian Carioca, para fazer projetos baseados no espetáculo “Hamletmachine”, de Heiner Muller. A parceria rendeu frutos e eles foram selecionados com uma maquete e cinco pranchas de figurinos para a 12ª Quadrienal de Praga.
Segundo Feitosa, a temática da maquete foi o teatro épico. “Não buscamos criar um edifício teatral, apenas pretendíamos propiciar uma cenografia que potencializasse suas imagens, sugestões e real função do local”, explica.
Já as pranchas de figurino produzidas para as personagens Guia, Ofélia, Elektra, Hamlet e Tio Cláudio tiveram como referência o bairro fabril em São Paulo e o regime de escravidão na indústria de tecidos e malharias; a transição entre o velho e o novo e a necessidade de consumo; a alienação, alta rotatividade de tendências, indústria pop e os heróis sem discurso; e o sexo e o interesse.
“Quando entrei na Escola, tive uma grande dificuldade em conciliar meu trabalho e meus estudos e a ideia de participar da Quadrienal era distante. Eu achava realmente que não iria conseguir. Depois do espetáculo ser encenado durante o Experimento, as boas críticas nos impulsionaram a fazer a maquete do projeto e enviar para a Mostra das Escolas. Não havia distinção e, apesar das diferentes formações, todos trabalharam como cenógrafos na execução do projeto”, revela Feitosa.
Ser selecionado para um dos maiores eventos de cenografia mundial foi “surreal” para o aprendiz, porém, ele não esperava conseguir fundos para a viagem até a República Tcheca. Mesmo descrente, esse aprendiz foi um dos eleitos por seus colegas para receber apoio da SP Escola de Teatro para sua passagem e hospedagem durante o evento.
Com essa grande oportunidade nas mãos, Feitosa é decidido. “Agora, só me resta fazer muitos contatos e descobrir o que de tecnologia em cenografia tem sido utilizado em outros países para colocar em prática aqui.”
Willian Carioca, aprendiz de Técnicas de Palco, também ficou muito feliz com a conquista do grupo e conta que nem passaporte tinha e realizará sua primeira viagem internacional em um transporte que nunca utilizou em sua vida: o avião. “Vou para lá como artista e como geólogo e, confesso, que nunca tinha tido uma experiência como essa em minha vida. Fiquei feliz só de ver minha maquete exposta na Universidade de São Paulo (USP). Então, quando soube que nosso projeto tinha sido selecionado para a Quadrienal, tive a noção do tamanho da nossa vitória”, revela.
A aprendiz de Técnicas de Palco Mariana brinca que para juntar dinheiro para a viagem “só não vendeu seu cachorro porque não tinha um”. E, realmente, não era difícil a encontrar oferecendo sanduíches e bijuterias aos colegas da Escola durante o semestre.
Formada em Letras e fluente em italiano e inglês, Mariana também foi selecionada para ser monitora durante a Quadrienal e integrar a representação brasileira ao lado de estudantes de todo o País.“Estou muito entusiasmada e acredito que será excelente conhecer pessoas e descobrir as belezas de Praga, a ‘Paris do Leste Europeu’”, conta, enquanto segura os inúmeros mapas que conseguiu da cidade.
Maria Lourdes Catta Preta, aprendiz de Técnicas de Palco, também foi convidada para acompanhar a Quadrienal de Praga e sua viagem já estava programada quando recebeu a notícia do nascimento de sua neta em Nova York, assim, ela mudou de planos e desistiu da visita à República Tcheca para conhecer essa nova integrante da família.
Foto Capa: Everson Bertucci durante cena de “Hamletmachine” | Rodrigo Meneghello
Imagem: sxc.hu