“GT – Love”*
Prólogo
Mas sobre quem você quer saber? O polêmico (este adjetivo ainda faz sentido?) encenador multicultural ou o cara, que, tal qual um Forrest Gump ensandecido, conheceu as mais importantes figuras da contracultura mundial? O homem que vê um de seus países ruir pela janela da sala ou o homem que vê um de seus países ruir pela mediocridade generalizada?
Qual personagem te interessa mais? O judeu que, há mais de 30 anos, é vaiado e aplaudido pelas mesmas pessoas, ou o judeu que descobre em Richard Wagner a obra do “acaso” total? Siegmund que descobre ser predestinado e morre tragicamente ou Siegfried que passa metade da sua vida em busca da sua identidade? Ou quem sabe interessa mais Sigmund com a cara enfiada numa bandeja de cocaína em seu consultório psiquiátrico?
O artista que presenteia com rock’n’roll quando você quer uma peça de teatro ou o artista que provoca todos os teus sentidos com o mais puro teatro? Enquanto, claro, você acha que está assistindo a um show de rock.
Talvez, os fragmentos deste homem façam sentido só para os raros, só para os loucos. Sua retórica e contradições podem parecer um fardo pesado para quem acompanha, esporadicamente, a sua criação.
Enquanto o teatro do século 21 descobre o coletivismo do teatro do século 17, este mesmo homem desiste exausto, quase sem esperanças de, ao menos, chegarmos perto do experimentalismo russo pós-revolução de 17.
Ele sabe que estamos presos numa teia do tempo; estamos num hiato. Sua angústia é ter sempre o mesmo pesadelo em que grita para um grupo de surdos. Ele sabe!
Intervalo Metalinguístico
Anos depois, o discípulo assume a cia. do mestre e, se apropriando de Goethe, cria um novo espetáculo e diz o que sempre estava preso em sua garganta.
– (…) este homem me transformou. Ele conhecia a História, melhor, ele se relacionava com ela e com a maioria dos homens mais notáveis do seu tempo. Ele me ensinou a não confundir a nação pela confusa multidão que se amontoa num camarim de teatro. Ele me estimulava a ser verdadeiro, especial e inteligente. Sentia-me inspirado toda vez que entrava em cena. (…)
Comunhão mais perfeita não é possível imaginar. Não se mencionava o nome do amor; ele partia e voltava, voltava e partia, e partia e voltava, partia.
*Não importa a gravidade ou simplicidade do assunto, Gerald Thomas sempre assina seus emails assim:
“GT – Love”.
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