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Feliz aniversário, Guzik

Publicado em: 09/06/2010 |

Por Sérgio Roveri

O amigo Alberto Guzik faz aniversário nesta quarta-feira, dia 9. Vai passar a data na UTI do Hospital Santa Helena, onde foi internado há mais de cem dias para uma cirurgia delicada, é verdade, mas que teve todas as complicações possíveis. É muito triste. Mas eu – e acredito que tantos outros amigos que estão acompanhando esta luta diária do Guzik – faço um esforço danado para não me entregar à tristeza.

Penso que, se ficarmos tristes, estaremos de alguma forma traindo toda a força, garra e mesmo a alegria que o Guzik tem demonstrado durante este grande período de internação, em que ele já venceu uma pancreatite e está bravamente nocauteando uma infecção hospitalar.

Eu acho que os nossos inimigos deviam ser bem grandes, para que a gente pudesse encará-los na luta ou fugir deles se fosse mais prudente. Mas estes inimigos invisíveis de tão pequeninos são os piores – eles parecem saber a hora exata em que a gente se tranqüilizou e baixou a guarda para planejar um novo ataque. Mais que um paciente, estou começando a acreditar que o Guzik é um general de guerra, um herói com quatro estrelas no ombro que já aprendeu que o inimigo não dá tréguas. Ele sempre soube que a guerra seria dura – talvez não tanto quando está sendo, é verdade -, por isso nunca permitiu que o desânimo chegasse perto. Nas várias vezes em que estive no hospital, encontrei o Guzik ora feliz, ora irritado, muitas vezes querendo pular daquela cama, desligar todos os fiozinhos e entrar correndo no primeiro teatro de portas abertas que encontrasse pela frente.

Mas desanimado, isso nunca.

A última vez em que estive com ele foi na quarta-feira, 26 de maio, faltando três dias para ele enfrentar uma nova cirurgia – prevista para ser a penúltima. Mas nem sempre nas guerras as coisas saem conforme o planejado. Tamanha era a disposição do Guzik que, se eu fechasse os olhos, seria capaz de jurar que aquela conversa estava sendo levada num boteco, numa praia, numa pracinha ensolarada – jamais num hospital. Eu e o ator Chico Ribas ficamos com ele por mais de uma hora, tempo suficiente para que ele falasse mal das novelas que era obrigado a ver – a tevê do quarto dele só sintonizava os canais abertos – e perguntasse tudo sobre as peças e filmes que estávamos vendo, às festas a que estávamos indo, os projetos, os anseios, a vida que continuava a correr normalmente para além das paredes daquele quarto.

Pouco antes de irmos embora, ele disse que estava absolutamente confiante no resultado da cirurgia que faria no sábado. Talvez eu não me lembre de cor, mas são grandes as chances de ele ter usado estas palavras: “Eu não consigo deixar de ser otimista. E olha que eu até tento, mas não consigo. Na minha cabeça, tudo vai dar certo e eu vou poder ver os últimos jogos da Copa na minha casa. É só nisso que penso e acredito. Às vezes, aparecem uns pensamentos ruins, é verdade. Mas eles não duram nada. Aparecem e já vão embora”.

Eu nunca fui muito bom para acreditar nestes lances de energia e pensamento positivo. Mas agora é um bom momento para mudar de opinião. Tô mandando um abraço imenso, um beijão e os votos de melhor aniversário do mundo pro Guzik. Neste mesmo dia do ano que vem, se Deus quiser, a gente vai poder fazer tudo isso pessoalmente.

 

Veja a homenagem que a SP Escola de Teatro preparou para o nosso mestre

Foto: Bob Souza