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Eugenio Barba por Filipe Brancalião

Publicado em: 29/11/2012 |

Eugenio Barba vem aí. Na próxima semana, ele e o também diretor e pesquisador italiano Nicola Savarese chegam à SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco para lançar a nova edição de seu livro “A Arte Secreta do Ator – Um Dicionário de Antropologia Teatral”, obra fundamental na estante de quem faz e estuda teatro.

Antecipando o evento, durante esta semana, estamos publicando uma série de artigos e entrevistas em homenagem aos diretores. Assim, a seção Bravíssimo de hoje traz um texto sobre Eugenio Barba, assinado por Filipe Brancalião, formador do curso de Atuação da Escola, que em agosto deste ano viajou à Dinamarca para participar do Odin Week, evento promovido por Barba, em seu Odin Teatret. Eis seu depoimento:

“Intenso tal qual um tapa na cara.

Segundo dia num país completamente estrangeiro. Segundo encontro com Eugenio Barba, talvez tão estrangeiro quanto eu. Ele entra, começa sua aula e, poucos minutos depois, me chama pelo nome. Eu me levanto quieto, intimidado. Ali estava eu, diante de um senhor de suaves cabelos brancos, que carregava em seu olhar cada um de seus encontros com as mais variadas tradições teatrais. Que transpirava sua radicalidade artística e pedagógica.

Rapidamente me olhou nos olhos e, naquele breve instante, eu pude imaginar o que estava por vir. Minha tarefa: estar pronto. A dele: ser simples. E com a generosidade de um mestre, sem mais nem menos, estatelou sua mão em meu rosto, num tapa que meu deixou com a face quente. Dois segundos passados e mais um golpe, ainda mais forte. Outros dois segundos e, mesmo com o ouvindo zunindo, reagi. Instantaneamente meu corpo respondeu e num desvio, não me deixei acertar. Instantaneamente Barba pontuou: aqui temos prontidão.

Aquele tapa na cara era revelador. Com sua simplicidade, vigor e rigor, Barba escancarava as mais genuínas relações de um corpo em cena. Seu tapa, muito mais do que um golpe dolorido, era um tiro certeiro em todos os meus sentidos e me mobilizava para estar presente, ali, no momento presente.

Nos dias que se seguiram, outros tantos tapas na cara me foram dados, não tão literais e concretos como o primeiro, mas tão intensos e ardidos quanto.

A cada encontro, a figura do mestre, ia se tornando ainda mais clara, tanto quanto sua humanidade. Inquieto e estrangeiro, Eugenio Barba fundou o Odin Teatret com a perspectiva de reunir amantes do teatro recusados em uma escola profissionalizante e, conjuntamente, trocar experiências e estudar as tradições teatrais na busca por um teatro que lhes pertencesse.

Tão vigoroso foi esse processo, que dele nasceu uma metodologia de trabalho específica e uma das mais sistemáticas disciplinas para o treinamento do ator: a antropologia teatral. Tão rigoroso e vital foi esse processo que o Odin Teatret comemora seus 48 anos e ainda mantém um mesmo núcleo de atores desde sua fundação.

Eugenio lidera o grupo com energia e sagacidade e, ainda que diga o contrário, mantém sua chama revolucionária, seu ímpeto transformador. E com sua trajetória nos convida à utopia, ao sonho, ou, em suas próprias palavras, ao inconformismo: ‘Acredito que se continuo a fazer teatro é porque ele me permite encontrar homens e mulheres que não se sentem à vontade nas próprias condições e continuam a se levantar nas pontas dos pés como se um dia pudessem voar’”.

 

O diretor e pesquisador teatral Eugenio Barba: intenso como um tapa na cara (Foto: Divulgação)
 

 

 

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