Na última semana, o Cine Bijou recebeu 75 jovens, que cumprem medida socioeducativa de internação na Fundação Casa, para assistir Medida Provisória, obra dirigida por Lázaro Ramos e estrelada por Taís Araujo e Alfred Enoch. A ação, fruto de uma parceria entre o Cine Bijou, a SP Escola de Teatro e a entidade, foi um sucesso. Os jovens ficaram bastante empolgados e o evento contou com a presença de Ivam Cabral, Camila Araújo e Joaquim Gama, respectivamente, diretor executivo, bibliotecária e coordenador pedagógico da Escola.
Em 2022, o Programa Oportunidades, em parceria com outros setores da instituição, buscou promover ações que dialoguem não apenas com o território entorno das unidades Roosevelt e Brás da SP Escola de Teatro, como também espaços culturais, escolas e instituições diversas da cidade de São Paulo. O programa tem estabelecido relações com algumas organizações com o objetivo de realizar oficinas e atividades diversas que incentivem o exercício artístico. Nesse quadro, a Fundação Casa do Brás foi uma das entidades parceiras e, no mês de julho, recebeu oficinas gratuitas de Circo e Hip Hop, que foram ministradas por estudantes da SP. A iniciativa procurou expandir os horizontes e mostrar novas possibilidades para os meninos que integram a Fundação.
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Camila Araújo afirmou que a devolutiva do evento foi muito positiva, a bibliotecária da SP explicou que, após a exibição do longa, alguns jovens perguntaram como poderiam conhecer a escola:
“Nesse sentido, acho que a ação cumpriu um de seus principais objetivos, que era despertar o interesse sobre a possibilidade de ir para o mercado das artes e cultura. Eu fiquei muito feliz que eles participaram, curtiram e que isso possa gerar muita reflexão”, comentou Camila.
Medida Provisória é uma adaptação da peça teatral Namíbia, Não!, escrita por Aldri Anunciação. A história da trama é ambientada num Brasil distópico, no qual é proposta uma ‘medida provisória’ que sugere à população negra voltar à África, para que essas pessoas se reconectem com suas raízes. No entanto, na realidade, tal medida acaba se mostrando compulsória, revelando o desejo oculto e racista de uma política de ‘higienização social’ disfarçada de reparação histórica. No decorrer do filme, o público acompanha a resistência e luta do casal Antônio (Alfred Enoch) e Capitu (Taís Araújo), e de seu amigo André (Seu Jorge), contra os esforços do governo em efetivar a medida. Assim, são propostos questionamentos importantes acerca de temas atuais e urgentes para nossa realidade.
Wellington Araújo, colaborador da Fundação Casa que ajudou a intermediar a ação, ficou muito contente e emocionado com o resultado do evento, ele também compartilhou um pouco sobre a importância desse projeto:
“Uma parcela grande dos meninos que estão conosco nunca tinha ido no cinema, acredito que foi muito importante promover essa acessibilidade. ‘Acessibilidade’ acho que essa é a palavra-chave quando falamos de ações como essa. Além disso, o tema do negro na nossa sociedade sempre merece destaque. O ficcional de Lázaro Ramos, Medida Provisória, cria um absurdo que talvez nos tempos atuais nem seria tão absurdo e põe a gente para pensar no limite dessas classificações, dessas divisões criadas pelo gênero humano. A temática do racismo e do negro na sociedade brasileira também vem muito em boa hora, pois 72% dos nossos meninos e meninas se autodeclaram negros e pardos. Três quartos do público que está com a gente observa a questão do racismo de dentro; nesse sentido o acolhimento, a disponibilidade e generosidade que o Cine Satyros Bijou e a SP tiveram faz uma grande diferença.