Com turma 100% preenchida, o curso de Dança Além dos Muros, orientado pelo bailarino Rodrigo Alcântara, é um dos dois cursos de Extensão Cultural que retomaram o formato presencial. Com a melhora nos índices de casos de Covid-19 e o avanço da vacinação — 90% da população adulta do Estado de São Paulo–, a SP Escola de Teatro, seguindo ainda protocolos rígidos para evitar a contaminação, iniciou 2022 com atividades presenciais.
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Iniciado em 17 de fevereiro, o curso de Dança Além dos Muros tem a proposta de levar ao estudante o pensamento –e prática– de que todo corpo é capaz de dançar e se expressar. As aulas são promovidas pela SP Escola de Teatro, gerida pela Adaap (Associação dos Artistas Amigos da Praça), sob direção executiva de Ivam Cabral.
Em seus encontros com os estudantes, Alcântara, orientador formado em Balé Clássico e Dança Contemporânea pelo Projeto Núcleo Luz, do Programa Fábricas de Cultura, e pela Fundação Theatro Municipal de São Paulo em Dança para Rapazes e Projeto Dançar, tem como missão profissional quebrar ideias generalizadas em relação ao uso do corpo com movimentos.
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“Vivemos numa sociedade muito preconceituosa e cheia de estereótipos. E eu reflito esses estereótipos dentro da própria linguagem da dança. Temos que fazer essa reflexão de que o corpo do ser humano é plural. Ao mesmo tempo que é plural, ele é rico. Às vezes, temos esse preconceito do corpo magro, gordo, com elasticidade ou travado. Muitas pessoas me falam: ‘Não vou fazer o curso porque nunca dancei’, ‘sou travado’, ‘sou uma pessoa gorda’ ou ‘sou uma pessoa que tenho vergonha do meu corpo’. Todas essas questões, reflexões e problematizações, partem de uma sociedade preconceituosa, que quer trazer esse corpo perfeito”, inicia.
“Porque quando falamos de dança pensamos em balé, pernas, ângulos altos e elasticidade? Todo corpo é capaz de dançar e de se expressar. Sempre gosto de mencionar que, às vezes, você está digitando o dia todo no seu serviço e está dançando com seus dedos. Quando você caminha, corre e levanta da sua cama, isso é uma dança. Temos que normalizar os movimentos do corpo humano como dança. Creio muito nisso. Para mim, é quebrar barreiras quando digo que todo corpo dança dentro de sua pluralidade e singularidade. Cada pessoa é única e precisamos trazer isso para o universo da dança”, continua.
Atualmente com 31 anos, Alcântara teve início na dança aos 13. “Eu dançava na igreja, como qualquer criança”, relembra. Nessa idade, teve um encontro com as artes que mudou sua vida: participou de programas educativos e vocacionais do Céu da Vila Curuçá, na Zona Leste de São Paulo. Desde então, incorporou a arte como profissão e, mais do que isso, tomou para si a missão de deixar um legado para as novas gerações –o que tem sido feito nas aulas ministradas na SP Escola de Teatro.
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“Sinto que de uns dez anos para cá, está tendo uma representatividade e luta nos espaços da dança e das artes — e posso mencionar o teatro e a arte visual. Sabemos que todos esses lugares sempre foram para privilegiados. Nossos corpos periféricos nunca tiveram acesso. Hoje, estando no mercado de trabalho da dança e sendo desse círculo de pessoas que pensa, reflete e faz dança na cidade de São Paulo, para mim, também é uma evolução. Sinto que nossos corpos, cada vez mais, estão ocupando essas cadeiras”, avalia.
“Quando vejo um coletivo, uma companhia de dança tendo acesso a editais de políticas públicas, sinto a evolução no mercado de trabalho da dança e no interesse do público. E quem é o público? O público tem que começar a ser o nosso. Os nossos que nunca tiveram esses privilégios e direitos de fazer um curso de dança. Sempre digo que os nossos sempre trabalharam e tiraram o ganha-pão. E também pensar que a dança além de uma profissão, é libertadora. Trago essa reflexão nesse questionamento que é: eu não preciso ser bailarino ou um dançarino profissional, mas tenho direito de ter acesso a arte, de entrar em um teatro, cinema e discutir arte com os meus”, conclui.