Um dos grandes nomes dos palcos paulistanos e integrante da tradicional Companhia do Latão, Ney Piacentini apresenta o espetáculo Infância, inspirado na obra de Graciliano Ramos, no palco da SP Escola de Teatro, a partir desta segunda, 6 de março.
A montagem conta trilha sonora ao vivo do músico da Osesp Alexandre Rosa. Com sessões a preços populares, R$ 20 inteira e R$ 10 meia, a peça fica em cartaz às segundas, terças e quartas, nos meses de março e abril, às 20h30.
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Nesta entrevista, o ator fala como foi o processo de criação do espetáculo que homenageia um dos grandes nomes da literatura brasileira.
“Desde Espelhos, em que fiz um solo a partir de Machado de Assis e Guimarães Rosa (2016), continuei a pesquisar a literatura brasileira de excelência e cheguei a Graciliano Ramos por meio de seus surpreendentes contos”, relembra Piacentini.
Confira a entrevista:
Como surgiu a peça Infância?
Ney Piacentini: Infância surgiu em meio a essas leituras, uma vez que já conhecia suas grandes obras como Vidas Secas, São Bernardo, Angústia e Memórias do Cárcere. Porém, o que permaneceu foi a ideia de um homem maduro narrar suas memórias da meninice. O que achei que poderia ser bonito e apropriado para a minha idade como ator aos 62 anos.
Como trouxe a música para a peça?
Ney Piacentini: Convidei o músico Alexandre Rosa, interessado em teatro, e criamos o Núcleo Rodateatro. Assim, após oito meses de experimentações e ensaios, surgiu a obra literária, teatral e musical Infância.
Você continua criando pontes entre literatura e teatro?
Ney Piacentini: No momento, estamos pesquisando novos materiais literários para um novo projeto – queremos constituir uma trilogia a partir do binômio literatura e teatro, uma vez que já temos Espelhos e Infância, e são diversas as leituras que estamos fazendo. Já passamos por Marilene Felinto, João Cabral de Melo Neto, entre outras e outros escritores e agora estamos nos debruçando sobre as cartas de Mário de Andrade. Contudo, havia dúvidas em penetrar teatralmente nos contos de Espelhos e mesmo em Infância. Como as experiências foram bem-sucedidas, estamos dispostos, por meio de inúmeras tentativas, a enfrentar outras obras literárias, aparente não transponíveis para os palcos.
Graciliano Ramos é muito utilizado em escolas e vestibulares, como foi a receptividade de estudantes e universitários durante o processo e temporada?
Ney Piacentini: Descobrimos, em apresentações feitas em uma incrível viagem em que fomos ao sertão de Pernambuco e Alagoas, locais em que Graciliano viveu os primeiros anos de vida, descritos em suas memórias, que a nossa peça é popular, uma vez que na gente simples das pequenas cidades por nós visitadas havia um grande interesse pela obra. Todas as pessoas ficavam para as conversas que costumamos fazer após as apresentações e relatavam como nós havíamos as atingido como espectadores. No entanto, em apresentações em grandes cidades, também o público com hábito de frequentar teatro, vem se envolvendo com o trabalho, assim como a crítica e membros da classe teatral. Houve ainda exibições para estudantes do ensino médio e superior com boa receptividade. Desse modo, acreditamos que estamos fornecendo um material de qualidade para despertar o interesse pela literatura de Graciliano.
Como se sente apresentando o espetáculo primeiro em uma biblioteca e agora em um centro de formação das artes do palco como a SP Escola de Teatro?
Ney Piacentini: Acredito que a nossa maior vocação é trabalhar junto a espaços culturais educativos. Fizemos também, além das bibliotecas, apresentações aos gestores educacionais no CEU Butantã e percebemos que a troca foi ainda mais intensa. Desse modo, estamos com as melhores expectativas em relação à temporada na SP Escola de Teatro, justo porque agora estamos em um centro de um projeto pedagógico para as artes cênicas, com amplo interesse em outras linguagens artísticas, como a música e a literatura. Estamos nos sentindo em casa.
SOBRE O ESPETÁCULO INFÂNCIA DE GRACILIANO RAMOS
Sinopse: Infância é a transcrição cênica e musical a partir do livro homônimo de Graciliano Ramos, publicado em 1945. Nestas memórias, o alagoano traz à tona seus primeiros anos de vida até o despertar da puberdade vividos no interior dos Estados de Alagoas e Pernambuco. Em meio à dura vivência com a família e marcado por uma difícil alfabetização, surge página a página uma criatura interessada nos vários personagens à sua volta e no mundo das letras. Meninice que não inspira nostalgia e que tem estreita relação com a obra do escritor como um todo e tudo aquilo que ela denuncia, criando uma movimentação entre as vozes da criança e a daquele que a rememora. Esse jogo literário que acumula temporalidades (as diferentes idades do menino e a perspectiva do adulto) é explorado na adaptação à cena que, ao priorizar a falta de trato familiar, a precariedade do ambiente escolar e as dificuldades sofridas pelo garoto no letramento, cria um contraste epifânico, uma vez que aquele que passa a vislumbrar novas paisagens a partir da aproximação aos livros se tornará (ao mesmo tempo que já é) um de nossos maiores escritores.
FICHA TÉCNICA
Autor: Graciliano Ramos
Idealização e adaptação: Ney Piacentini
Concepção e direção: Ney Piacentini e Alexandre Rosa
Interpretação: Ney Piacentini (atuação) e Alexandre Rosa (músico)
Assistente de direção e iluminação: Elis Martins
Fotos e vídeos: João Maria Silva Jr.
Programação visual: Paulo Fávari.
SERVIÇO
Espetáculo: Infância Graciliano Ramos
Quando: Temporada de 06/03 a 26/04 de 2023
Segunda, Terça e Quarta às 20h30
Onde: SP Escola de Teatro – Sede Praça Roosevelt Praça Roosevelt, 210
Ingressos: 20 inteira / 10 meia-entrada (Preços populares)
Retirada via Sympla SP Escola de Teatro
Lotação: 60 lugares
Classificação indicativa: Livre