Com 10 anos de trajetória, a Cia do Sopro encena “MEDEA”, uma versão contemporânea do dramaturgo inglês Mike Bartlett para o clássico de Eurípedes. O espetáculo, dirigido por Daniel Infantini, estreia no dia 21 de fevereiro na Vila Maria Zélia, onde segue em cartaz até 3 de março, com apresentações de quarta a sábado, às 20h, e no domingo, às 19h.
A versão inglesa deste clássico grego suscita reflexões acerca da condição da mulher nos dias de hoje. A nova montagem do texto traz no elenco Fani Feldman (Medea), Daniel Infantini (Jasão), Juliana Sanches/ Vivian Bertocco (Pam), Maristela Chelala (Sarah), Plínio Meirelles (Andrew) e Bruno Feldman (Carter).
Medea é um dos grandes clássicos do teatro grego. Nesta montagem, nos deparamos com uma mãe, negligenciada, traída, abandonada, acuada, entre a gravidez e o puerpério. Esta Medea, não foge à regra da mulher que, atravessada pela cadeia de violências diárias, físicas e emocionais, se desfaz em um corpo e mente destruídos. A protagonista vilipendiada, eviscerada por uma sociedade alicerçada pelo machismo estrutural, fala integralmente aos dias de hoje, e infelizmente, ao Brasil de 2024, um país aterrorizado permanentemente por notícias diárias de abuso e feminicídio.
Em sua adaptação, Mike Bartlett transporta o território e a realidade originais da Grécia Antiga a um terreno suburbano localizado em um conjunto habitacional, análogo às periferias de cidades grandes ao redor do mundo. Em tempos tão alarmantes e retrógrados como os que estamos vivendo, nos quais as chagas sociais pululam a olhos vistos, não há dúvida de que a tragédia grega está absolutamente presente na sociedade moderna assim como esteve na Grécia antiga, mas, para além da manutenção das linhas de força que conduzem o mito, na obra composta por Bartlett há evidências contemporâneas prementes que necessariamente estão consideradas nesta empreitada. O estado geral desta Medea agrega condições análogas às de eventos, cotidianamente assistidos por muitos de nós, que tendem a terminar de modo trágico. A mulher de nosso tempo é atuante nas diversas esferas da realidade, mas tem seu espaço ainda subjugado pelas forças contrárias à emancipação efetiva de seus direitos. É por esta vereda e seus meandros que a Cia do Sopro investiu seu intento e elegeu esta Medea, como uma potência radical capaz de refletir sobre o estado de coisas da condição atual da mulher.
Bartlett desvela ainda as engrenagens do universo masculino, mostra como os homens são claramente incapazes de negar sua luxúria sexual, mesmo quando confrontados pelo ódio proclamado de mulheres extenuadas pela violência diária, como faz Medea ao expor, não sem altiva ironia, suas chagas diante de Jasão: “Eu divido os homens em três grupos: moleques, “tiozões” e os estupradores. Os moleques precisam de uma mãe, os “tiozões” nos tratam como crianças e os estupradores só querem nos foder, mesmo se a gente não estiver afim”.
Serviço
“MEDEA”, de Mike Bartlett, com a Cia do Sopro
Temporada: 21 de fevereiro a 3 de março, de quarta a sábado, às 20h, e no domingo, às 19h
Vila Maria Zélia – Vila Maria Zélia, zona leste, São Paulo
Ingressos: Quarta e quinta – grátis | De sexta a domingo – R$10. Grátis para alunos da rede pública de ensino e estudantes de artes cênicas.
Classificação: 16 anos
Duração: 80 minutos
Ficha Técnica
Texto: Mike Bartlett
Tradução: Diego Teza
Idealização: Fani Feldman
Direção: Daniel Infantini
Assistência de Direção: Plínio Meirelles
Elenco: Fani Feldman, Daniel Infantini, Juliana Sanches/ Vivian Bertocco, Maristela Chelala, Plínio Meirelles e Bruno Feldman.
Preparação: Inês Aranha
Trilha Original: Fernanda Maia
Sonoplastia e Mixagem: Júnior Docini
Iluminação: Fabio Ferretti
Cenário e Figurino: Daniel Infantini
Fotos: Jonatas Marques
Produção: Quincas
Direção de Produção: Fani Feldman
Produção Executiva: Andreia Marques
Consultoria Administrativa: Dani Angelotti
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Realização: 16º Prêmio Zé Renato – Prefeitura de São Paulo