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Centenário Paulo Freire: Pedagogia da autonomia, por Ueliton Alves

Publicado em: 20/09/2021 |

Para homenagear o patrono da educação e um dos pilares de sustentação da pedagogia da SP Escola de Teatro, o bibliotecário da instituição, Ueliton Alves, apresenta uma resenha sobre o último livro publicado por Paulo Freire, a obra Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. O exemplar que dispomos em acervo é a 43ª edição publicada em 2011 pela Editora Paz e Terra.

Confira a resenha completa:

Nesta obra, o mestre Paulo Freire dá continuidade a sua filosofia de educação como prática libertadora, sempre fundamentando-a na práxis do diálogo, e com um importante ponto a se destacar da vida desse pensador: suas teorias não ficaram apenas no campo das ideias, ele sempre foi um pesquisador adepto da prática.

O livro em questão foi prefaciado pela professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Edna Castro de Oliveira, em sua apresentação da obra a professora destaca as qualidades em que o autor problematiza e atinge o educador tendo em vista a dimensão estética de sua prática.

Distribuído em 143 páginas estruturadas em três capítulos com leitura de fácil compreensão, o livro se inicia com o autor fazendo uma explicação das razões que o levaram a analisar a prática pedagógica do professor em relação à autonomia de ser e de saber do educando.

No primeiro capítulo enfatiza a necessidade de respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola, visto ser ele um sujeito social e histórico, e da compreensão de que formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas. Traz a tona uma discussão sobre os saberes indispensáveis à prática docente de educadores e a importância de uma reflexão sobre a formação docente e a prática educativa-crítica, destacando sempre que quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Não existe professor sem aluno, ou como o livro melhor prefere chamar, não há docência sem discência, desta forma ambos se tornam sujeitos deste processo não ficando apenas com à condição de objeto um do outro.

No segundo capítulo, Freire segue na mesma toada e destaca que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. O ato de ensinar para Paulo Freire não se resume a troca de informações, para ele ser um educador requer aceitar os riscos do desafio do novo, enquanto inovador, enriquecedor, e rejeitar quaisquer formas de discriminação que separe as pessoas em raça, classes e gênero. A educação traz sempre possibilidades de interferir na realidade a fim de modificá-la, mas acima de tudo, ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando. Ele fecha o capítulo dando a dica que fundamentalmente o professor e alunos saibam que suas posturas são dialógicas, abertas, curiosas e indagadoras enquanto falam ou enquanto ouvem.

Para fechar no terceiro capítulo ele vai descrever a educação como um ato de intervenção no mundo, fazendo um alerta que ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Vale ressaltar que não podemos tomar a ideia de autonomia como uma proposta messiânica, a autonomia vai se construindo na experiência de inúmeras decisões que são tomadas a partir de um saber construído a partir de diferentes vozes. Para Freire, educar é construir, é libertar o ser humano de amarras do determinismo neoliberal, reconhecendo que a história é um tempo de possibilidades. Mais uma vez um ponto importante de ser destacado da trajetória de Paulo Freire e que se sobressai no livro é seu posicionamento sobre a discussão neoliberal, trata-se de um teórico crítico que quando fala de educação como intervenção está falando dela como uma ferramenta de mudanças reais na sociedade, que vão desde o campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde. Para tudo isso nos diz que toda a curiosidade de saber exige uma reflexão crítica e prática, de modo que o próprio discurso teórico terá de ser aliado à sua aplicação prática, sendo assim não se pode separar prática de teoria, autoridade de liberdade, ignorância de saber, respeito ao professor de respeito aos alunos, ensinar de aprender.

Em suma, o livro expõe uma discussão sobre os saberes necessários à prática docente e orienta educadores a refletirem sobre sua prática pedagógica, modificando o que considerarem necessário, aperfeiçoando seu trabalho e fazendo diariamente opções pelo melhor. Trata-se de uma literatura atual, pois infelizmente embora Paulo Freire seja patrono de nossa educação ainda persiste um sistema que não fazem uso dos ensinamentos de Freire e cada vez mais constroem uma educação que aprisiona, portanto seguimos vislumbrando a autonomia dos sujeitos em nossa educação como pregava Freire. Esta é uma obra que se reverte em leitura obrigatória e de extrema importância para todos os profissionais que transitam na prática educativa.




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