Introdução do livro “Contestador por índole”, de Eliana Pace, para a Coleção Aplauso da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (para ler a obra, na íntegra, clique aqui)
O termo pode parecer piegas, mas Renato Consorte é, acima de tudo, um sujeito amoroso, desses que pergunta: Como vai? E a família? Como foi de fim-de-semana? Em linguagem mais atualizada, estabelece relacionamentos. Talvez seja por isso que guarda com carinho, na memória perfeita, nomes e sobrenomes de tantos quantos passaram por sua vida, fossem os companheiros de brincadeiras na Rua Aurora quanto os colegas do Largo São Francisco. Aliás, até hoje frequenta as reuniões de antigos alunos da Faculdade de Direito, mesmo que não tenha conseguido levar o diploma de advogado para casa.
Nos muitos encontros que tivemos, quinze para ser exata, coloquei-me na posição de espectadora única e privilegiada de um ator de extrema grandeza.
Renato Consorte me fez rir e chorar. Mas chorou e riu comigo também, numa comunhão abençoada, a marcar o clima de confiança que permeou nosso trabalho. Por conta de suas memórias, acabei aceitando até mesmo um convite para visitar as irmãs mais velhas, um encontro agradável regado a cafezinho e pão doce.
Renato Consorte é um homem de família que visita as irmãs com frequência, que cuida do cunhado que apresenta problemas de saúde e, acima de tudo, que se orgulha do sucesso do filho músico Renato e da felicidade alcançada pela filha Adriana, que vive em Londres com o marido e com quem conversa todos os domingos, por telefone. Para os netos – Francis, de 9 anos, na Inglaterra, Cecília, de quase 2 anos e Pedro, de 16 – um carinho inesgotável que em breve deverá ser dividido com mais um bebê: é que Adriana está grávida do segundo filho.
Para a companheira de 45 anos, a quem ele se refere como minha queridoca, uma belezura, sobra admiração. Josildeth, ou Josi, é uma antropóloga de sucesso que se aperfeiçoou nos Estados Unidos e na Itália e é hoje uma profissional muitíssimo bem conceituada, que se relaciona com as figuras preeminentes ligadas à ciência – é titular da cadeira de Antropologia da PUC – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
O Renato Consorte que se faz conhecer nestas páginas está sempre inteiro, não importa se mais ou menos gozador, mais ou menos implicante, mais ou menos polêmico. Humorista, idealista e contestador por índole, celebra a boa sorte na carreira artística que teve início em 1949 e foi interrompida apenas pelo tempo em que driblou a morte. Em um dos nossos últimos encontros, no entanto, além de anunciar os próximos planos, me fez uma revelação: não quer mais fazer teatro, um trabalho que considera muito árduo. Confessa a preguiça para decorar textos que parece ter surgido apenas agora, ao completar 80 anos.
Renato Consorte trabalha para a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo há 20 anos e está lotado no MIS – Museu da Imagem e do Som, como curador do acervo iconográfico da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, que conhece como ninguém. Afinal, acompanhou seu nascimento, crescimento e derrocada tendo participado, como ator ou técnico, de suas dezoito produções.
Nestas memórias de Renato Consorte, seus admiradores vão se deparar com um capítulo especial, com a introdução do Hino Nacional. Atendo a uma solicitação que ele me fez em um de nossos encontros, ao cantar a letra que pouca gente conhece. Em toda oportunidade que tenho, procuro ensinar aos brasileiros como é que se canta o Hino Nacional. Não há como recusar nada a um senhor ator, certo?