O dia 27 de março marca uma data de grande importância para a SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco: o Dia Mundial do Teatro. Foi nesse dia, em 2012, que teve início a seção Bravíssimo, que consiste numa série de depoimentos nos quais artistas falam sobre seus pares e reiteram a importância do fazer teatral em suas vidas.
Naquele dia, a Instituição publicou em seu portal cerca de 100 textos com homenagens de artistas oriundos de diversos grupos e pesquisas, escritos especialmente para a Escola.
Desde então, a Bravíssimo tornou-se seção semanal no portal, e continuou reunindo depoimentos sobre importantes nomes do teatro brasileiro, sejam eles exclusivos ou já publicados em livros. Conheça e leia essas belas declarações.
Mensagem do Dia Mundial do Teatro
Desde 1962, a Unesco, por meio do International Theatre Institute ITI – World Organization for the Performing Arts, publica, em homenagem a esta data, a Mensagem do Dia Mundial do Teatro.
Redigida a cada ano por uma nova personalidade de destaque na área do teatro (atores, encenadores, dramaturgos etc.), ela é lida em teatros de todo o mundo no dia 27 de março. Em 2013, quem assinou o texto foi o dramaturgo e escritor italiano Dario Fo.
Em 2014, o autor da mensagem é o sul-africano Brett Bailey, dramaturgo, desenhista, diretor, criador de instalações e diretor artístico da companhia Third World Bunfight. O artista já levou seu trabalho a Zimbabwe, Uganda, Haiti, República Democrática do Congo e Reino Unido.
Suas aclamadas peças iconoclastas, que questionam a estrutura do mundo pós-colonial, incluem: “Bid dada”, “Ipi zombi?”, “Imumbo Jumbo”, “Medeia” e “Orfeus”. Suas performances incluem “Exhibits A & B”. Suas obras já foram encenadas na Europa, na Austrália e na África, rendendo-lhe vários prêmios, inclusive a Medalha de Ouro na Quadrienal de Praga de 2007.
Leia, abaixo, a mensagem. Também foi produzido um vídeo, assista no canal do Youtube do ITI.
Dia Mundial do Teatro – Mensagem de 2014
Autor: Brett Bailey
Desde que existe sociedade humana, existe o irreprimível espírito da representação.
Debaixo das árvores, nas pequenas cidades e sobre os palcos sofisticados das grandes metrópoles, nas entradas das escolas, nos campos, nos templos; nos bairros pobres, nas praças públicas, nos centros comunitários, nos porões do centro das cidades, as pessoas reúnem-se para comungar da efeméride do mundo teatral que criamos, para expressar a nossa complexidade humana, a nossa diversidade, a nossa vulnerabilidade, em carne, em respiração e em voz.
Reunimo-nos para chorar e para recordar; para rir e para comtemplar; para ouvir e aprender, para afirmar e para imaginar. Para admirar a destreza técnica, e para encarnar deuses. Para recuperar o fôlego coletivo, na nossa capacidade para a beleza, a compaixão e a monstruosidade. Vivemos pela energia e pelo poder. Para celebrar a riqueza das várias culturas e para afastar as fronteiras que nos dividem.
Desde que existe sociedade humana, existe o irreprimível espírito da representação. Nascido na comunidade, veste as máscaras e os trajes das mais variadas tradições. Aproveita as nossas línguas, os ritmos e os gestos, e cria espaços no meio de nós. E nós, artistas que trabalhamos o espírito antigo, sentimo-nos compelidos a canalizá-lo pelos nossos corações, pelas nossas ideias e pelos nossos corpos para revelar as nossas realidades em toda a sua concretude e brilhante mistério.
Mas, nesta ERA em que tantos milhões lutam para sobreviver, está-se a sofrer com regimes opressivos e capitalismos predadores, fugindo de conflitos e dificuldades, com a nossa privacidade invadida pelos serviços secretos e as nossas palavras censuradas por governos intrusivos; com as florestas a ser aniquiladas, as espécies exterminadas e os oceanos envenenados.
O que é que nos sentimos obrigados a revelar?
Neste mundo de poder desigual, no qual várias hegemonias tentam convencer-nos que uma nação, uma raça, um gênero, uma preferência sexual, uma religião, uma ideologia, um quadro cultural é superior a todos os outros, será isto realmente defensável? Devemos insistir que as artes sejam banidas das agendas sociais?
Estaremos nós, os artistas do palco, em conformidade com as exigências dos mercados higienizados ou será que utilizamos o poder que temos para limpar um espaço nos corações e nas mentes da sociedade, para reunir pessoas, para inspirar, encantar e informar, e para criar um mundo de esperança e de colaboração sincera?