O ator Mateus Ribeiro é atualmente um dos grandes astros do teatro musical brasileiro, eleito pela Forbes um dos maiores influenciadores abaixo dos 30 anos na categoria Artes e Entretenimento, na lista Under 30.
Ele conquistou o carinho do público e o respeito da crítica ao interpretar dois personagens de peso em superproduções. Mas, mesmo diante da consagração nos palcos, o artista catarinense e que passou por Natal, Fortaleza e Brasília antes de chegar a São Paulo jamais perdeu os pés no chão.
Na quarentena, não é diferente. Ele busca cuidar de sua saúde mental e física em primeiro lugar. Nesta entrevista exclusiva ao jornalista Miguel Arcanjo Prado para o site da SP Escola de Teatro, o artista conta como tem passado estes últimos meses, fala das perspectivas para o mercado do teatro musical e ainda dá dicas a quem deseja seguir seus passos. Leia o bate-papo.
Miguel Arcanjo Prado – Como está sua quarentena? E de seus colegas do teatro musical, o que tem ouvido?
Mateus Ribeiro – A quarentena tem sido uma grande montanha russa. Em sua maior parte tenho estado bem e conseguido manter a saúde mental me respeitando. Já passei por várias fazes. De aprender algo novo, de acordar cedo, de acordar tarde, de fazer exercícios físicos, ou de passar o dia vendo série. Pra mim o importante é estar bem, não importa como. Eu não vejo a hora de poder voltar a trabalhar e sair de casa. Muitos amigos estão na mesma, muita gente tem se reinventado pra sobreviver financeiramente e psicologicamente, mas acredito que no fundo todo mundo só esteja torcendo pra esse momento passar e voltarmos aos palcos. Tem sido difícil pra muita gente da classe.
Miguel Arcanjo Prado – Como foi fazer Peter Pan e Chaves na sua carreira, dois personagens tão desafiadores?
Mateus Ribeiro – Eu fico muito feliz por ter tido a oportunidade de fazer personagens tão distintos. Peter e Chaves são dois personagens muitos difíceis, e de maneiras completamente diferentes. Ambos foram divisores de águas na forma que o público me enxerga e recebe o meu trabalho, e também no meu crescimento quanto ator. A gente sempre quer uma boa oportunidade, e quando ela chega vem com muitas atreladas. Existe uma cobrança, um medo de não ser capaz, uma sede de fazer, uma empolgação da bola que entra no gol. E o mais bonito é entender como superar os desafios artísticos e a cabeça, pra você executar seu ofício com vigor e tranquilidade. Acho que como ator o que eu mais quero é que continuem surgindo personagens completamente diferentes uns dos outros, que me amedrontem e me aticem a vontade de me superar. Amo desafios.
Miguel Arcanjo Prado – Você é um artista que migrou para SP para trabalhar com arte, o que foi mais difícil neste processo?
Mateus Ribeiro – Existem muitos desafios quando você chega em uma cidade tão grande, com tanta gente, sem conhecer nada e nem ninguém. É um processo de calma, e de plantio. No começo, o medo de não ter dinheiro e trabalho era muito grande, pois não queria ir embora daqui. Eu não podia! Tinha muito ainda que eu queria fazer por aqui. Lembro que após meu primeiro musical teve um mês que fiz 12 testes. Fiz teste pra tudo. Até pra coisas sem remuneração. Eu pensava “se eu não passar em nada que não tenha salário, pelo menos eu não fico parado”. Sempre corri muito atrás. Aos poucos, fui mostrando meu trabalho pras pessoas, e construindo meu lugar. Tenho muito orgulho de pensar que cheguei em uma cidade desconhecida, em que existem muitos artistas talentosos, e que tive a oportunidade de não parar de trabalhar nesses nove anos que moro aqui. Trabalhei com muita gente que admiro, e pude crescer muito quanto artista e ser humano. Cheguei com 17, fui emancipado, pois meus pais não poderiam vir, e o espetáculo exigia a emancipação. Tem sido um processo árduo mas muito bonito.
Miguel Arcanjo Prado – Quais são as perspectivas atuais para os profissionais do teatro musical? O que tem percebido?
Mateus Ribeiro – Olha, bem difícil falar… Mas eu acredito que no começo do ano que vem comecem a existir movimentações já pros espetáculos. Esse ano acredito que uma coisa ou outra, menor, ou em outros formatos já se realizem. Existe já o drive in, espetáculos em estacionamentos, espetáculos online, monólogos estudando possibilidades em teatros… A gente tem resistido da forma que dá. Mas pelo andar acredito que aos poucos tudo vá voltando ao normal. Já vi espetáculos, como por exemplo na Argentina, já agendados pra janeiro. Só nos resta ter esperança e torcer.
Miguel Arcanjo Prado – O teatro musical exige um corpo muito técnico. Como tem feito nesta quarentena para manter a forma que sua carreira exige?
Mateus Ribeiro – Eu já tive momentos, mas confesso que me preocupo mais com minha saúde mental e energética nesses últimos tempos do que com minha saúde física. Já teve épocas que eu estava alongando e dançando todos os dias em casa, mas já faz um tempo que parei. E me sinto bem. Como sempre fui muito ativo, não é algo que me preocupo muito, pois acredito que quando for necessário eu consiga voltar ao meu condicionamento físico anterior. O que tenho feito é tentar dormir bem, isso sempre mantenho.
Miguel Arcanjo Prado – Qual dica você dá a atores que sonham em se enveredar no teatro musical?
Mateus Ribeiro – Acho que o mais importante é se conhecer e construir um olhar crítico sobre si e sobre o que te certa. Uma das coisas que mais enxergo atrapalhar os atores é eles não terem uma consciência real sobre si mesmos. Suas qualidades, defeitos, dificuldades, talentos. É preciso ter vivencias também. Assistir coisas. Lapidar o que você consideraria seu “bom gosto”. E claro, estudar, mas isso pra mim, não é nem mais necessário falar, ja é clichê, porque não existe a possibilidade de você conseguir atuar e contar uma história ao mesmo tempo que você canta e dança, sem ter um estudo e preparação pra isso. Pode parecer fácil, por que é isso que tentamos fazer parecer no palco, mas na realidade é bem complexo [risos]. Então, se conheçam, se interessem pelo humano, por que é com isso que trabalhamos.
CULTURA EM CASA
Assim como outros equipamentos, a SP Escola de Teatro criou uma programação especial na internet para oferecer ao seus seguidores. Assim, está disponível uma série de conteúdos multimídia, como vídeos de espetáculos e de palestras e bate-papos de nomes como as atrizes Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Denise Fraga, a monja Coen, a escritora Adélia Prado e o pastor Henrique Vieira, além de cursos gratuitos a distância.
O acervo ainda inclui filmes produzidos pela Escola Livre de Audiovisual (ELA) – iniciativa da Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap), gestora da SP Escola de Teatro – em parceria com instituições internacionais, com a Universidade das Artes de Estocolmo (Suécia).
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