Na Praça Roosevelt, região central de São Paulo, o Cine Bijou abriu as portas em 1962, dois anos antes do Brasil ingressar em um regime ditatorial. Foi neste cenário político do país, quando a cultura e seus operadores eram perseguidos, que o cinema ganhou importância: era tela para obras vanguardistas ao mesmo tempo em que reunia em seu entorno os agentes que se colocavam como contrários ao autoritarismo vigente.
Esse percurso perdurou até 1996, quando o cinema encerrou uma trajetória de mais de três décadas formando plateias. Agora, o espaço se prepara para receber o público novamente. Com administração da Cia. Os Satyros, o Cine Bijou ganhou um projeto de recuperação, que inclui, entre outras ações, uma campanha de financiamento coletivo para retomar as operações – ainda sem data definida. O objetivo é arrecadar R$ 300 mil, necessários para a aquisição de equipamentos para as projeções.
“A reabertura do Cine Bijou é importante em dois aspectos. Em primeiro lugar, é a retomada de um espaço de arte cinematográfica de resistência, um ponto cultural histórico para os amantes de cinema de arte. Além disso, a reabertura vai ser uma remada contra a maré, pois os cinemas de rua estão sendo fechados por todo o país, dando lugar a salas de cinema de shopping, no estilo blockbusters”, explica Rodolfo García Vázquez, fundador, diretor e dramaturgo d’Os Satyros, que na vizinhança já mantém dois teatros.
O projeto do Cine Bijou prevê a retomada de um espaço de caráter democrático para exibição de filmes de arte, tanto produções nacionais quanto obras de outros países, e a realização de mostras temáticas. Na Praça Roosevelt, onde a SP Escola de Teatro também está presente, a reabertura do cinema tem ainda como marca o diálogo com outras vertentes artísticas presentes nessa região boêmia da cidade de São Paulo, além de estabelecer conexões com o contexto social da região.
“Os teatros da Praça Roosevelt buscam uma linguagem popular e que, ao mesmo tempo, renove os temas e o fazer teatral. É a ocupação de um lugar simbólico no mapa cultural da cidade, onde estão presentes a liberdade e a criatividade. O Cine Bijou também vai ocupar esse lugar”, complementa Vázquez.
A campanha para o financiamento já conta com o apoio de vários nomes da classe artística, como Aderbal Freire Filho, Ana Beatriz Nogueira, André Abujamra, João Baldasserini, João Miguel, João Silvério Trevisan, Lee Taylor, Leona Cavalli, Maria Clara Spinelli, Marieta Severo, Patrícia Pillar, Paulo Betti e Sandra Coverloni.
Na plataforma Kickante, até 2 de agosto é possível fazer doações ao projeto. Para saber como colaborar com a ação, clique aqui.