Urutu, de Tarsila do Amaral, deixou um marco na história das artes visuais brasileiras. Atualmente na coleção Gilberto Chateaubriand do MAM do Rio de Janeiro, a obra é símbolo do Movimento Antropofágico iniciado em 1928, ano em que foi criada.
Com óleo sobre tela e dimensões 60,5 x 72,5 cm, recebe o nome de uma serpente venenosa que possui 2m de comprimento e é encontrada em algumas regiões do Brasil.
Urutu faz parte da segunda exposição individual da artista e compõe uma série na qual os bichos são os temas centrais. Ela foi exposta pela primeira vez na Galerie Percier, em Paris.
Apesar de não ter participado da Semana de Arte Moderna de 1922, a pintora e desenhista Tarsila do Amaral foi um dos expoentes do modernismo brasileiro, junto com Mário de Andrade (1893-1945), Oswald de Andrade (1890-1954), Menotti del Picchia (1892-1988), e Anita Malfatti,; juntos fundaram o que chamavam de “Grupo dos Cinco”.
Tendo morado por alguns anos em Paris, Tarsila foi muito influenciada pelas vanguardas europeias, portanto, cumprindo alguns dos preceitos da antropofagia, a artista criou um estilo próprio que explorava formas, temáticas e cores. Ela tinha por objetivo aquilo que grande parte dos modernistas paulistas tinham: criar uma arte tipicamente brasileira.
Os trabalhos da pintora contemplam muitos elementos temáticos das narrativas populares, buscando inspiração em componentes os quais, segundos os modernistas paulistas, faziam parte da identidade nacional.
Michele Bete Petry afirma que Urutu possui uma forte relação com o poema Cobra Norato (1931), de Raul Bopp (1898-1984), e faz uma alusão ao mito da cobra grande, que amedronta os ribeirinhos da Amazônia. A pintora modernista estava muito interessada em retrabalhar seus traumas a partir de suas recordações da infância, de maneira que, a memória de urutu representa o medo primordial relativo à saída do útero, o trauma de seu nascimento. O Ovo é outro título da pintura, o qual também recupera sua semelhança com a obra de René Magritte (1898-1967) ‘Lés affinités électives’ [As afinidades eletivas], de 1933.
Assim, Tarsila entrou para história da cultura nacional, se eternizando por meio de quadros que efetivamente compõem a memória coletiva nacional atual, como o Abaporu, A Negra, Os operários, entre muitos outros.