Com 154,00 cm x 177,00 cm e óleo sobre tela, Samba, de Emiliano Di Cavalcanti, possui ‘o caráter do Brasil dentro do universo modernista’, é o que afirma o especialista Tadeu Chiarelli, diretor do MAC- USP (Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo) no período entre 2010 e 2014. Para o estudioso, a obra resume muito da estética e da técnica arrojada e ousada do pintor, que se empenhava em representar a cultura popular brasileira.
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Di Cavalcanti foi uma das principais personalidades presentes na Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922. Ele compreendia a arte como uma forma de participação social, valorizando temas de caráter realista, porém em grande parte voltados para a construção da identidade nacional.
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Samba foi uma das primeiras obras produzidas pelo autor após sua estadia na Europa, de maneira que, muito do que ele aprendeu com as vanguardas estrangeiras foi transposto de forma marcante na representação do cotidiano brasileiro presente em seus quadros. A obra é considerada uma das mais importantes do artista e a melhor representação da cultura negra realizada durante o movimento modernista.
Na tela estão centralizadas duas mulheres que a princípio iriam ser apresentadas nuas, no entanto, Di Cavalcanti optou por vestir a moça da frente com uma saia de amarelo vivo. Assim, o autor contrapôs a vitalidade das personagens femininas remetendo visualmente a música e originalidade da múltipla e diversificada cultura brasileira, sem deixar de fora os elementos da modernidade urbana.
Para o crítico Paulo Herkenhoff, nesse quadro Di Cavalcanti não está lidando com o folclore, e sim com uma das manifestações mais vivas da nossa cultura. Conforme foi referendado, temáticas populares, como o carnaval, as mestiças, as favelas e os operários, eram muito retratados em sua obra.
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Di Cavalcanti reuniu em sua pintura diferentes fontes externas, sempre buscando empreender uma análise social da realidade nacional, e por isso traz um pouco da influência dos expressionistas alemães da Nova Objetividade, como Grosz. Suas pinturas também possuem uma relação com o trabalho de Picasso, o que fica explícito, segundo estudiosos, no porte volumoso e monumental dos personagens e no tratamento dado às suas mãos e pés. A obra também revela algumas relações com o movimento cubista e sua decoração é disposta de maneira que relembra a obra de Matisse. Por fim, é um trabalho plural; as figuras arredondadas que a compõem também traçam um diálogo com as telas de Vicente do Rego Monteiro.
Em 2012, a importante pintura, parte do patrimônio brasileiro, que integrava da coleção particular de Jean Boghici, foi parcialmente destruída em um incêndio no apartamento do colecionador em Copacabana, onde residia.
Por Leticia Polizelli- Edição Luiza Camargo