No TBT desta semana, relembramos a passagem pela SP Escola de Teatro de uma figura excepcional para a música brasileira: Ellen Oléria. Em 2018, a cantora, compositora e instrumentista participou dos fundamentos do módulo na instituição, onde realizou um bate-papo especial com os estudantes.
Nascida em Taguatinga, Distrito Federal, Ellen é formada em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília e sua carreira musical teve início em casa de shows e bares. A artista foi a primeira vencedora do reality show The Voice Brasil, da TV Globo, já ganhou diversos prêmios em festivais e realizou muitas turnês pelo território nacional e afora.
Seu repertório musical é marcado por uma mescla de estilos; jazz, samba, pop e hip hop, além da influência de manifestações mais tradicionais como o congado, os afoxés e o carimbó. Na palestra ministrada na Escola, a cantora fez um retorno às suas raízes teatrais, relembrando um exercício de microatuação, feito no início da carreira. Ela recitou um trecho da peça Hipólito, de Eurípedes, no qual a deusa Vênus anuncia que matará o protagonista da narrativa e explica como ela fará isso.
A partir disso, Ellen discorre sobre um aspecto interessante do impacto que tal representação tem no público quando interpretada por ela, destacando o ‘riso frouxo’ que vem da plateia. Nesse contexto, a compositora ressalta a questão racial, comentando a necessidade de atualizar discursos que, muitas vezes, aos olhos do público, podem não ser verossímeis quando construídos por pessoas negras:
“É como se determinados discursos não coubessem no meu corpo. Portanto, chamo atenção para essa relação de corpo, discurso e cena/realidade que existe no palco. A imagem primeira geralmente cria uma relação com estereótipos, e todas as imagens primeiras que distorcem estereótipos são monstrificadas, pois saem do lugar comum”.
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Assim, Ellen utiliza como base suas experiências individuais como artista e o texto de Alice Walker, Vivendo pela Palavra, para provocar os estudantes acerca de tal monstrificação, da importância da voz e de repensar os discursos:
“Todas as vezes que eu penso que nós emprestamos o nosso corpo para um discurso, uma ideia, imagino que precisamos resgatar um pouco aquela outra [ideia] que deixamos no canto um pouquinho. Portanto eu vou atualizar, vou trazer para esse determinado momento aqui e agora um discurso, uma personagem, mas depois eu preciso voltar para aquela outra [ideia]. Nesse sentido, a voz é primordial para a gente, pois como ela comporta a palavra e traz tal dimensão tão complexa e controlável que é a palavra, nós precisamos aprender a ouvir a nossa voz e tentar entender o impacto que ela causa no ambiente em que estamos inseridos.”
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A artista ainda conclui afirmando que pensar o corpo como um lugar de discurso e pensar nas personagens como discursos que são atualizados nesse lugar é um exercício muito complexo. Além disso, Ellen comenta o quanto admira aqueles que escolheram para si uma carreira artística, pontuando a coragem dos estudantes e aconselhando esses sobre como deve se dar um verdadeiro espetáculo:
“Os tempos estão muito brutais para nós, tanto para a gente produzir quanto para tocarmos nas pessoas, isso está cada vez mais raro. No entanto, quando eu vou ao teatro eu quero que vocês arranquem meus pedaços, eu quero sair outra, pensando em atualizar o meu discurso e ir para outros lugares. Se lembrem que: O território do nosso discurso é o corpo da gente, para onde levarmos nosso corpo nós temos a possibilidade de viver pela palavra.”
Confira o gravação do evento da íntegra: