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SP Escola de Teatro entrevista Wagner Brunini, conselheiro da ADAAP

Fotografia colorida de Wagner Brunini, conselheiro da ADAAP

Fotografia colorida de Wagner Brunini, conselheiro da ADAAP | Foto: Divulgação

A SP Escola de Teatro, criada e gerida pela Associação dos Artistas Amigos da Praça (ADAAP), entrevista em 2023 todos os seus 13 conselheiros.

Inaugurada em 2010, a SP Escola de Teatro é uma instituição da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo.

A associação é uma Organização Social e exemplo do modelo de gestão de Políticas Públicas que vem sendo implantado pelo governo do Estado desde 2004, com base na Lei Complementar n° 846/98 e no Decreto Estadual nº 43.493/98. Através da publicização, ou gestão pública não estatal, serviços e atividades públicas são geridos por meio de parcerias entre o Estado e o terceiro setor.

A ADAAP faz parte da Associação Brasileira das Organizações Sociais de Cultura (Abraosc) e tem por finalidade desenvolver e administrar projetos socioeducacionais, culturais e institucionais, valorizando a arte e a educação no estado de São Paulo.

Wagner Brunini

O entrevistado de hoje é Wagner Brunini, presidente do Conselho Fiscal. Ele ingressou no conselho em 2015.

Brunini (1952) tem experiência de mais de 50 anos em recursos humanos, adquirida em empresas de grande porte como Ford, Henkel e BASF, sendo que nesta última atuou como vice-presidente de RH para a América do Sul. Entre 2010 e 2012, foi presidente na seccional São Paulo da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH). Entre 2016 e 2018, foi vice-presidente da ABRH Brasil, a qual congrega 21 estados brasileiros.

Atualmente, é membro vitalício do Conselho Deliberativo da ABRH-SP; diretor executivo da BRUNINI – Consultoria em Recursos Humanos; e membro efetivo do Comitê de Negociação Sindical – CEAG-10 Comissão de Estudos e Assessoria do Grupo 10 – FIESP.

Ele também atua como membro do Conselho Consultivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTQI+ e leciona a disciplina Gestão de Pessoas nas Organizações – MBA Gestão Empresarial, na FIA – Fundação Instituto de Administração.

Como parte do conselho da ADAAP, seu trabalho está relacionado em aprimorar todos os detalhes voltados à gestão de pessoas e trazer contribuições empresariais para o desenvolvimento da SP Escola de Teatro, a qual é um centro de formação das artes do palco completamente voltado para o social e para a democratização do acesso à formação das artes cênicas. A presença de Brunini no conselho é de extrema importância, pois a Escola promove uma nova experiência no mercado de trabalho das artes, não só na cena paulistana, mas no Brasil como um todo, fortalecendo o trânsito entre áreas e comunidades tradicionalmente com pouco acesso ao teatro.

Confira a entrevista com Wagner Brunini

Como se deu sua entrada no conselho da ADAAP? Por que, para você, é importante participar desse conselho e contribuir para a associação?

Minha entrada se deu, primeiramente, através da indicação de Dinovan Oliveira [advogado da ADAAP], o qual conhecia minha experiência em gestão de pessoas e me disse que a ADAAP precisaria de alguém da área de recursos humanos. Após essa indicação, fiz uma entrevista com Ivam Cabral [diretor executivo da ADAAP], que logo depois me convidou para entrar no Conselho Fiscal da ADAAP.

Apesar de eu estar em uma área muito diferente da cultural, sinto que contribuo para a Escola por ter atuado em grandes empresas. Acabo levando para a reflexão do conselho uma visão empresarial. Não que não exista essa visão dentro da associação, mas é uma contribuição forte minha, porque os demais membros estão mais ligados à área jurídica, cultural, teatral. Para mim, o resultado da minha entrada no conselho da ADAAP é de muito aprendizado.

Para você, qual a importância e o impacto do trabalho da ADAAP e da SP Escola de Teatro?

Vejo na gestão da Escola um profissionalismo na dedicação dos corpos executivo, técnico e docente às atividades. Isso é de extrema importância, porque existe um cuidado especial em se fazer a gestão de uma maneira correta. Existe uma ação de se doar para que tudo saia muito bem. Tudo isso não é uma intenção, mas sim uma dedicação.

Por exemplo, hoje estou como presidente do Conselho Fiscal da ADAAP e me considero como uma pessoa detalhista. É uma herança que tenho por ter trabalhado quase 35 anos em duas empresas alemãs. A cultura germânica perante o erro é muito rigorosa. Isso não significa que ela não aceita o erro, mas aprende-se com o erro, para que o erro faça parte da aprendizagem. Então nesse meu trabalho junto ao conselho procuro encontrar pontos em gestão de pessoas que podem fazer diferença nessa dedicação da Escola, em busca de sempre aprimorar a qualidade da instituição. Eu acho que é imprescindível essa dedicação, pois é uma dedicação incrível para o acerto.

Qual a importância das artes cênicas e das artes do palco para você? Qual o papel transformador do teatro na vida das pessoas e na sociedade?

Para mim, a parte de estar ali vivenciando e experimentando emoções numa peça teatral, seja um drama ou uma comédia, é fantástica, porque se torna um momento para refletir um pouco sobre questões da sociedade e da cultura. Eu diria que, ao término de uma peça, ela não termina ali no teatro, porque as pessoas saem com uma reflexão. Acho que um grande papel transformador é esse estímulo de reflexão, de você trabalhar com sua imaginação e com sua inspiração, transformando o que você vivenciou com o que você vivencia. Para mim isso é um aprendizado. Esse papel de reflexão é o mais importante para a sociedade.

Acredito que levamos alguma coisa depois de entrar em contato com a arte, desde que tenhamos acionado um botão chamado “eu estou aqui para fazer uma reflexão” e não simplesmente para digerir a arte e não a degustar, acho que essa palavra “degustar” é importante.

Como cultura e teatro estão presentes em sua vida e em sua carreira? Como você consegue relacionar sua área dos recursos humanos com a arte?

Sexta-feira passada, fui à Campinas para fazer o encerramento do módulo de gestão de pessoas do MBA da FIA [Fundação Integrada de Administração] e fiquei pensando o quanto para mim a aula é como se fosse um filme, como se fosse uma peça teatral. A aula tem que ter uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. E ali na aula tenho um papel muito importante de estar interpretando a mensagem que a escola quer passar e pela qual quer ser conhecida. Além de ter todo um cenário que você monta e para mim o PowerPoint é o meu cenário. É uma sensibilização que faço ao participante do curso sobre a importância do tema e de levá-lo à reflexão sobre o quanto isso bate à sua porta no dia a dia, o quanto isso é assunto sobre a sua realidade também. No conteúdo de minha aula, abordo temas como liderança, motivação, delegação, competências, maturidade profissional, trabalho em equipe e desenvolvimento de pessoas, então tem todo um roteiro que estabeleço, chegando a um epílogo para ter um final. Olhando por esse lado, acredito que exista uma relação muito grande entre gestão de pessoas e teatro.

Tem uma frase de Shakespeare que eu uso muito: “A vida é um palco, temos nossas entradas e nossas saídas. A vida é um palco!”. Nós estamos aqui de passagem, em que você tem que ser o melhor ator. Da mesma forma, tentei construir a minha carreira sempre buscando o melhor desempenho, assim como um pintor busca ter a melhor pintura, um ator busca ter a melhor atuação e um professor busca ter a melhor aula. Então relaciono muito isso com a arte de viver. Não tenho dúvidas de que é isso que buscamos fazer dentro da Escola também. O que me motiva a pertencer o conselho da ADAAP é a certeza da continuidade da minha carreira.

Como a nossa sociedade, unida – governo, entidades, cidadãos -, pode pensar em ampliar mais a cultura e as artes na cidade e no estado, aumentando o seu papel imprescindível de educação e transformação?

A possibilidade de pensar em ampliar mais a cultura não é apenas pensar, mas sim ter isso como uma meta, um plano de ação. O governo, as entidades e os cidadãos precisam ter a cultura como propósito e enxergar que esse propósito tem que ter uma visão e um desejo. Como a gente vê em países mais ricos, que faz um investimento em cultura desde os primeiros anos da escola, investindo em escolas de música, teatro, artes. E não é só investimento financeiro, mas também de atenção e dedicação. Se existir essa sinergia entre esses atores, a partir de um valor de desenvolvimento da sociedade como um todo, cada um poderá entender como pode estar ampliando o papel transformador e imprescindível desses atores neste desenvolvimento.

Qual livro, filme, peça ou outro trabalho artístico você recomenda para uma pessoa que quer conhecer mais sobre o Brasil atual, entender mais onde vivemos?

Eu começaria focando naquilo que mais gosto: a música. As pessoas podem conhecer o Brasil ouvindo música brasileira, de diversos gêneros. Se tem uma coisa que procuro fazer é não ser adepto a um único gênero musical. A música, que é a arte das tradições de notas musicais, vai além quando se tem uma letra e o conhecimento do Brasil se dá através da letra, do conteúdo daquilo que você está ouvindo. Eu pego uma música e me delicio pela melodia, mas eu vibro com a letra. Acredito que essa seja uma maneira em que você se permite entender qual é a mensagem do compositor, do autor, do letrista, do músico.

Da mesma forma para uma peça teatral, para um livro, uma pintura, a letra de uma música tem um histórico e sempre vou atrás desse histórico, do que fez com que essa música tivesse essa composição, essa letra, essa mensagem. Quando gosto da música, busco conhecer sua origem. Isso nos faz entender o que estamos vendo não só no tempo presente, mas o que levou aquilo a acontecer e quem são os principais atores que estão ali dentro, seja na arte como na sociedade brasileira.

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