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“Subterrânea: uma fábula grotesca”, de Juliana Birchal, reflete sobre as funções da mulher em uma sociedade conservadora

Em Subterrânea: uma fábula grotesca, a atriz Juliana Birchal usa a técnica teatral da máscara para viver uma mulher-cigarra e questionar o conservadorismo patriarcal a partir da analogia ao ciclo de vida desse inseto, que passa quase toda a sua trajetória debaixo da terra. Foto: Raquel Carneiro.

Foto: Raquel Carneiro.

A atriz Juliana Birchal estreia em São Paulo o seu primeiro espetáculo autoral, “Subterrânea: uma fábula grotesca”, dirigido por Lenine Martins. O solo reflete sobre o papel historicamente atribuído à mulher em uma sociedade conservadora.

A peça fica em cartaz nos dois últimos finais de semana de junho, de 21 a 23 e de 28 a 30, na Sala Multiuso do Teatro Arthur Azevedo, com entrada gratuita. Às sextas-feiras e sábados, as sessões iniciam às 20h. Aos domingos, às 18h.

Em “Subterrânea: uma fábula grotesca”, Juliana utiliza-se do mascaramento, para dar vida a uma mulher-cigarra, personagem conservadora, que espelha a trajetória e as funções exercidas pela mulher em um ambiente patriarcal. A atriz explica que a cigarra passa por todo um ciclo de transformação, ao sair debaixo da terra, onde pode ficar por até 17 anos, para enfrentar sua última metamorfose.

“A partir desse momento, acasala, reproduz e morre”, conta Juliana, que explica: “Se a cigarra vive 17 anos dentro da terra, esse tempo fora é de poucas semanas. É muito rápido”, diz.

No palco, o público acompanha exatamente o desenrolar do ciclo de vida da cigarra. Ela, pelo bem da espécie, repete o próprio sistema que a reprime, mantendo assim, a ordem natural das coisas, acreditando que a sobrevivência depende do cumprimento das obrigações que o próprio sistema impõe.

Quando tudo começou

A inspiração inicial de Juliana Birchal para a criação da dramaturgia de Subterrânea: uma fábula grotesca foi a obra de Lewis Carroll, As aventuras de Alice no País das Maravilhas – ou As aventuras de Alice no reino subterrâneo, título original do manuscrito lançado em 1865. 

“Li Alice por volta de 2019 e fiquei bastante impactada. É muito diferente do que a gente conhece da versão Disney”, lembra. “Então, convidei a atriz Mayara Dornas para montarmos um espetáculo a partir do livro. Lembro de estar muito interessada nesse mergulho que a Alice faz no mundo subterrâneo e aí comecei a pesquisar sobre a obra e ficar curiosa sobre o que era esse salto que ela dá, para esse lugar debaixo da terra, onde a lógica parece que não tem lógica”, explica.

O projeto foi engavetado e ficou parado por conta do isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19. Mas, diante da situação e da vontade pulsante de se expressar, Juliana transformou sua casa em uma sala de ensaio e experimentações. “Para mim, essa coisa do subterrâneo já não estava mais ligada a Alice, mas sim a tudo o que estávamos vivendo política e socialmente no Brasil”, recorda. “Estávamos em pandemia, com um governo de extrema direita, discursos de ódio se espalhando, ganhando força e aquilo tudo estava me impactando muito”.

Juliana pontua que nesse contexto começou a associar a imagem do subterrâneo a um lugar onde estava escondido o pior das pessoas, se revelando depois de forma radical. “Se antigamente alguém tinha receio de falar algo que pudesse soar como intolerante ou preconceituoso, naquele momento as pessoas não o tinham mais e a justificativa era a liberdade de expressão”.

Com a ajuda da provocadora cênica Jossane Ferraz, o conceito de conservadorismo uniu-se ao da palavra “subterrâneo”, encontrada no título do livro de Carroll, e às pesquisas da atriz sobre mascaramento e os insetos, originando Subterrânea: uma fábula grotesca. O diretor veterano Lenine Martins também foi peça fundamental para a construção da peça, contribuindo com a sua expertise em mascaramento contemporâneo.

O espetáculo foi desenvolvido por uma equipe artística localizada nas cidades de São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG). Teve a sua estreia em junho de 2023 no Teatro de Bolso do Sesc Palladium, em Belo Horizonte (MG), onde cumpriu uma curta temporada com três apresentações. Em setembro do mesmo ano, o solo foi apresentado no Festival Solos Férteis, em Brasília (DF). Depois da estreia em São Paulo, a peça passa por quatro cidades do Paraná, em datas ainda a serem definidas, por meio da Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz.

Ficha técnica

Concepção e atuação: Juliana Birchal
Direção: Lenine Martins
Dramaturgia: Juliana Birchal e Lenine Martins
Consultoria dramatúrgica: Si Toji
Provocação Cênica: Jossane Ferraz
Trilha sonora: Javier Galindo
Consultoria musical (violino): Vanille Goovaerts
Iluminação: Lucas Pradino
Cenografia, figurino e adereços: Laura Françozo
Cenotecnia: Wanderley Wagner da Silva
Maquiagem: Thaís Coimbra
Produção: Juliana Birchal e Thaís Coimbra
Arte gráfica e identidade visual: Adriana Januário
Fotografia: Vitor Vieira

 Serviço

“Subterrânea: uma fábula grotesca”
Datas: 21, 22, 23, 28, 29 e 30 de junho
Às sextas-feiras e sábados, às 20h
Aos domingos, às 18h
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 40 minutos
Local: Sala Multiuso
Teatro Arthur Azevedo
Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca, São Paulo (SP)
Entrada gratuita




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