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Semana inaugural do 1º semestre de 2022 do curso técnico em teatro é um sucesso; Confira um panorama

A primeira semana de aula do curso técnico em teatro da SP Escola de Teatro foi repleta de ensinamentos!  Com modelo híbrido, os encontros digitais foram concebidos para explicar e introduzir o material de estudo dos fundamentos dos módulos azul e verde: as Poéticas da Rua.

Explicitando a pluralidade e diversidade das pesquisas empreendidas na instituição, nesse semestre os artistas pedagogos estudados são de diferentes regiões brasileiras e verdadeiros expoentes artísticos em seus respectivos meios.

Para explicar os fundamentos do módulo deste semestre, aconteceram quatro encontros com os estudantes nessa semana (de 5 a 12 de março), todos via zoom, no entanto, cada conversa foi gravada e está disponível para consulta no canal do Youtube da SP Escola de Teatro.

O pontapé inicial foi dado no dia 5 de março, sábado, no Território Cultural (Aula Inaugural) com a atriz e encenadora Tânia Farias; o encontro despertou reflexões e provocou os estudantes a refletirem e deslocarem seus conhecimentos prévios de artes cênicas.

Marici Salomão, coordenadora do curso de pedagogia, foi mediadora desse debate, nele foi possível destacar que o assunto engloba implicitamente muitos outros temas que permeiam o teatro e a educação brasileira, como o acesso a ambos por meio de instituições públicas e de como é importante a entrada gratuita a eles para o desenvolvimento da cultura e da democracia. Além disso, pôde-se concluir um pouco do que a pesquisadora e artista Tânia Farias explicou sobre a arte de fazer teatro nesse espaço público. Sendo a rua de todos e ocupada por todos, fazer teatro na rua é essencialmente uma questão política, isso porque atualmente quem vai ao teatro ainda é uma menor camada da sociedade, já na rua, esse público se amplia e se diversifica. Os artistas vão para um lugar que não é protegido e essa exposição significa muitas coisas e requer um intenso estudo e pesquisa.

Depois, para os encontros do dia 10 de março, quinta-feira,  os estudantes foram divididos em dois grupos:

Os estudantes do módulo verde debateram as poéticas da rua durante o período da manhã, das 10h30 ao 12h00. Quem guiou a conversa foi Suzana Aragão e os artistas convidados foram Silvia Ramos Bezerra e Efigênia Rolim.

Silvia Ramos Bezerra é doutora em Ciências da Comunicação pela ECA (USP), pesquisadora especialista em comunicação, política, ciberativismo e cultura popular. Em sua apresentação, ela centralizou uma personagem importantíssima para o ideário de sua cidade natal (Cuiabá): o Zé Bolo Flô, um homem que viveu no Bairro do Beú, na decáda de 1960, e era considerado pelos moradoras da região um poeta andarilho. Começando sua vida como ambulante, ele vendia bolo no centro da cidade, explica Silvia, e com o passar do tempo sua persona vai se incorporando à paisagem urbana; de maneira que ele faz a própria produção poética através do contato com a cidade. Assim, esse personagem é um ícone da cultura cuiabana e se tornou uma figura que incorpora a poética da rua.

Por meio de um vídeo-propaganda estatal no qual a trilha sonora é uma música do famoso poeta andarilho, Silvia Bezerra apresentou para os estudantes na prática como tal figura é enraizada na memória coletiva dos cuiabanos. A partir disso, uma das conclusões iniciais da exposição feita pela pesquisadora é a de que Zé Bolo Flô é uma fantasia da cidade, um signo do imaginário coletivo local que, em si, revela a própria história cultural de um povo que buscava se livrar do estigma de seu passado colonial, para além disso, ele também é uma alegoria que revela toda a contradição da modernidade capitalista.

Efigênia Rolim relembrou sua trajetória, revelando os caminhos que percorreu até adentar  o universo artístico. Mãe de 9 filhos, a artista revela um dia ter sido surpreendida por um papel verde de bala de hortelã que achou ser uma joia, a partir daí Efigênia começou a trabalhar produzindo arte com o lixo. “Muitas vezes as pessoas não sabem o valor do lixo” confessa.

Espetáculo Riobaldo, adaptação de Grande Sertão: Veredas, obra-prima de João Guimarães Rosa, estreia em São Paulo

Onde muitos enxergavam apenas itens descartáveis e cotidianos, a artista começou a ver matéria-prima para bonecos, carros e múltiplas imagens fantásticas e fantasiosas. “Comecei a pegar da rua diversos papéis de bala, chinelos…”,  contou a mineira, que sofreu as consequências da marginalidade, desigualdade e as dificuldades imposta pela realidade brasileira e no encontro expôs como foi catalisar sua vivência para trabalhos que se tornaram referência no mundo das artes visuais.

Para os estudantes do módulo Azul, o encontro foi no período da tarde, das 15h30 às 17h30, e a conversa foi com Maria Thereza Azevedo e Hélio Leittes, com a mediação especial de Rodolfo García Vázquez.

A profa. Dra. Maria Thereza Azevedo é pesquisadora associada no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea-ECCO (Mestrado e Doutorado) e Líder do Grupo de Pesquisa: Artes Hibridas, intersecções, contaminações, transversalidades. Em sua exposição ela tratou principalmente da ‘Ocupação socioestética, poéticas urbanas e modos de estar na cidade’,  estudo que vem sendo desenvolvido a partir de uma série de intervenções urbanas e ações que foram realizadas em Cuiabá desde 2009.

Para explicar a essência de sua pesquisa, a professora trouxe alguns exemplos, um deles foi o ato de Ailton Krenak que ocorreu em 1987, durante a Assembleia Constituinte. Durante o seu discurso, vestido com um terno branco, o ambientalista pintou o rosto com tinta preta à base de jenipapo para protestar contra o que considerava um retrocesso na luta pelos direitos indígenas. Para ela, essa cena foi emblemática e muito importante para desenvolver a problemática de sua pesquisa e durante sua apresentação ela explicou o caráter performático e político de tal atitude:

“Este é um exemplo de uma situação que, apesar de estar fora de um lugar tipicamente artístico, configura uma ação do artista, mas em uma situação criada”.

A pesquisadora reflete sobre a representação feita por Ailton Krenak, e a partir disso, chega à conclusão de que a arte da performance deslocada de um ambiente artístico desestabiliza o cotidiano por meio da transgressão e da ruptura. Promovendo, portanto, ações artísticas marcadas pela diferença, tais situações são criadas e estão num âmbito que integram artistas e não artistas.

O poeta, performer e bottom-maker Hélio Leittes também falou um pouco de seu trabalho. Ele contou sua história, explicando que tinha uma banda na feirinha de artesanato de Curitiba e fazia muita contação de história. Certo dia, quando ficou desempregado, decidiu cobrar de quem tirava fotos suas (o que acontecia com frequência) então fez uma placa, nela estava grafado: “Vendo pouco, mas alugo de montão”. Depois disso, Hélio começou a fazer muitas outras plaquinhas e atualmente ele trabalha com uma ampla gama de objetos do dia a dia, como caixinhas de fósforo, botões, rolhas, latas, madeiras, restos de material entalhado.

Hélio explica que seu ofício de artesão se junta a ação de contar histórias, assim esses objetos feitos por ele mesmo se tornavam instrumentos e personagens em suas narrativas.  O artista revela como ele transforma elementos do cotidiano, que muitas vezes são descartáveis, em arte: “Uma vez eu ouvi a seguinte frase: ‘Quem é artesão abaixa a cabeça’, e eu abaixei minha a cabeça, mas os olhos não e assim fui descobrindo muitas coisas”.

Para encerrar com chave de ouro, no último sábado, dia 12 de março, das 10h ao 12h30, os estudantes dos dois módulos (azul e verde) foram reunidos para um último Território Cultural com o tema Poética da Rua III, no qual os artistas convidados foram:  a professora, coordenadora e autora Paola Berenstein; a professora, pró-reitora de extensão universitária e pós-doutora Fabiana Dultra Britto; a artista visual e perita criminal Berna Reale; e o multi artista amazônida, graduado em licenciatura em Teatro Leo Scantbelruy;  a mediação foi feita por Guilherme Bonfanti.

Os temas tratados neste encontro foram condensados em três perguntas principais, todas com raiz na pauta central dos fundamentos dos módulos ‘Poéticas de rua’:

Como se dá a aproximação da cidade,  as relações com a cidade e as escolhas dos espaços públicos para o meio artístico, e qual o sentido disso?; É possível estabelecer vínculos e relações entre corpo, espaço e criação? Especificamente enquanto habitantes em grandes metrópoles entre artistas e cidades, de que maneira a cidade pode interferir no processo criativo/artístico ou ser parte fundante deste, e a partir disso qual seria o papel da cidade nesse vínculo? Com tais relações estabelecidas, seria possível elencar hipóteses e ensaios de aproximação para com a cidade? Tendo como viés a arte, quais são as abordagens possíveis no encontro de corpos, objetos, espaços e afetos na dinâmica urbana?

Confira os vídeos completos aqui:

Território Cultural (Aula Inaugural) – 05/03

Poética da Rua 1 – Fundamentos do Módulo – 11/03 – (Manhã) – Silvia Ramos Bezerra e Efigênia Rolim. Mediação : Suzana Aragão

Poética da Rua 2 – Fundamentos do Módulo – 11/03 – (Tarde) – Maria Thereza Azevedo e Hélio Leittes, com a mediação de Rodolfo García Vázquez

Território Cultural – Poética da Rua 3 – 12/03 – com Paola Berenstein, Fabiana Britto, Berna Reale e Leonardo Scantbelruy. Mediação: Guilherme Bonfanti




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