Um homem que permanece enclausurado por 20 anos dentro de uma chapelaria se reúne com o filho de seu grande amor. É com essa premissa que começa a história de “Todo Chapéu Me Lembra Você”, peça estrelada pelos atores Carmo Dalla Vecchia e Theo Nogueira.
O espetáculo estreia em 17 de maio no Teatro Décio Almeida Prado, no CCD – Centro Cultural da Diversidade, e tem entrada gratuita.
Realizado por meio de Emenda Parlamentar pela Associação dos Artistas Amigos da Praça (ADAAP), organização social à frente da SP Escola de Teatro, e produzido pela Viva Cultural, o projeto surgiu da concepção de Theo Nogueira, em colaboração com os produtores Leandro Luna e Priscilla Squeff. Texto e direção são de Vitor Rocha.
Durante os ensaios, a atriz e preparadora de elenco Letícia Helena vem empregando a técnica Chubbuck, que consiste em utilizar emoções e lembranças dos atores para dar vida aos personagens. “Buscamos as emoções mais próximas para incorporar ao personagem, são as vivências que já tivemos na vida de uma maneira adaptada”, destaca Theo Nogueira.
O espetáculo explora as conexões e conflitos entre os dois personagens, além de discutir a questão LGBTQIA+ e os obstáculos enfrentados pela comunidade, especialmente por pessoas mais velhas. “Acredito que o belo de uma história reside nas relações, no encontro de indivíduos diversos, e isso é o que é fascinante na diversidade. Pessoas diferentes que têm a oportunidade de trocar experiências é algo belíssimo dentro da narrativa de uma história”, elogia Carmo Dalla Vecchia.
Entre o sonho e a solidão
A peça começa com o retorno de Thomaz (Theo Nogueira) à sua cidade natal devido aos problemas de saúde de seu avô. Ao chegar lá, ele se depara com Otto (Carmo Dalla Vecchia), que passou duas décadas recluso dentro de um armário. “Essa diferença entre os dois é crucial, pois meu personagem volta do continente e está livre, e quando ele encontra Otto, que está aprisionado, ele percebe que precisa dele. Mesmo após tanto tempo, ele detém informações cruciais e há muito a ensinar”, explica Nogueira.
“Thomaz é um grande enigma. Ele retorna à ilha completamente machucado por ter sido abandonado pelo avô. Ele inicialmente deseja que o avô sinta o que ele sentiu durante toda a vida, mas percebe que não é esse o caso. Ele descobre que o avô o ama e que ele também ama aquele lugar”, completa.
Embora Theo Nogueira não se identifique completamente com o personagem, compartilha do mesmo senso de responsabilidade familiar. “Eu não guardo tanto ressentimento ou amargura, mas sinto uma certa missão dentro da minha família. Assim como ele, sinto vontade de dizer: ‘Tenho tudo sob controle’, quando na verdade não tenho. São esses aspectos que me fazem me identificar com ele”, revela.
Do outro lado do palco, vemos Otto, um homem que passou anos isolado dentro de uma chapelaria, lidando com suas próprias barreiras emocionais. “Vejo muito da minha própria solidão. Ao explorar esse papel, é inevitável não refletir sobre meus próprios momentos de solidão. Todos nós, em algum momento da vida, nos sentimos sozinhos, desamparados. Acredito que carrego esses momentos comigo, assim como Otto”, explica Dalla Vecchia.
Além disso, durante a pesquisa para o personagem, Carmo também se viu buscando compreender os motivos por trás do isolamento dele. “A narrativa de permanecer no armário também me toca. Sou alguém que só começou a falar sobre minha orientação sexual aos quarenta ou cinquenta anos. É possível que esse personagem tenha enfrentado os mesmos obstáculos de preconceito que eu enfrentei na vida. Acredito que isso estabelece uma conexão entre nós”, reflete.
“A partir desse encontro, a história toma outro rumo, levando a uma perspectiva completamente diferente da vida de ambos. Um acaba ensinando ao outro, um acaba transformando o outro”, destaca Dalla Vecchia.
Representação LGBTQIAP+
A peça estreia em 17 de maio no Teatro Décio Almeida Prado, no CCD – Centro Cultural da Diversidade, em São Paulo. O espaço, dedicado exclusivamente a peças, exposições, oficinas e eventos voltados para a comunidade LGBTQIAP+, foi o principal motivador para a produção e o elenco montarem a peça. “Há poucos espetáculos contemporâneos escritos para discutir esses temas de maneira clara, madura e não discriminatória. Temos a oportunidade de viver esses personagens sem que a questão central seja a sexualidade”, destaca Dalla Vecchia.
As apresentações estão programadas para sextas e sábados às 20h, e domingos às 19h, até 16 de junho, com entrada gratuita. É preciso pegar o ingresso uma hora antes do espetáculo.
O evento compreenderá 12 sessões abertas ao público, sendo que em alguns dias haverá debates conduzidas por convidados especiais, que abordarão políticas e questões LGBTQIAP+. Figuras importantes da causa, como Erika Hilton, Renan Quinalha, Prof. Odir Fontoura e Dr. Saulo Ciasca, foram convidadas para participar das discussões.
Esses debates serão realizados aos domingos, logo após as apresentações. Além disso, serão oferecidas sessões com acessibilidade em libras, e uma Oficina de Produção Cultural na SP Escola de Teatro, que está com inscrições abertas e terá início no dia 16 de maio.
Serviço
“Todo Chapéu Me Lembra Você”
Quando: 15 de maio a 16 de junho.
Horário: Sextas e sábados às 20h, e domingos às 19h. (Não haverá sessões nos dias 31/5, 1/6 e 2/6)
Onde: Teatro Décio Almeida Prado, no CCD – Centro Cultural da Diversidade
Endereço: R. Lopes Neto, 206 – Itaim Bibi, São Paulo – SP
Bate-papos com convidados especiais, aos domingos, após a apresentação:
– Renan Quinalha, dia 19/5
– Erika Hilton, dia 26/5* (Sessão em Libras)
– Prof. Odir Fontoura, dia 9/6
– Dr. Saulo Ciasca, dia 16/6* (Sessão em Libras)
Ficha técnica
Texto e Direção: Vitor Rocha
Elenco: Carmo Dalla Vecchia (Otto) e Theo Nogueira (Thomaz)
Assistente de Direção: Leandro Luna
Assistente de Produção: Letícia Helena
Operador de Luz e Som: Cleber Eli
Contrarregra, Camarim e Maquiagem: Renato Valentte
Preparadora de Elenco: Letícia Helena
Foto: Caio Gallucci
Concepção de Cenário e Figurinos: Kleber Montanheiro
Assessoria Jurídica: Associação dos Artistas Amigos da Praça (ADAAP)
Assessoria de Imprensa: Beth Gallo e Thais Peres
Produtores: Leandro Luna e Priscilla Squeff
Produção: VIVA Cultural
Realização: Associação dos Artistas Amigos da Praça (ADAAP) e VIVA Cultural