Quando a gente pensa que já viu de tudo …
Quando a gente pensa que já viu de tudo, surge a produtora Romã Atômica juntamente com a Mostra Aldir Blanc na SP Escola de Teatro, para nos mostrar que é possível ver mais e mais e mais.
Foi assim que me senti ao assistir Pânico Vaginal, uma peça – cinema ambientada em um futuro distópico e inspirada no universo das histórias em quadrinhos e filmes de ficção cientifica.
Como os próprios produtores denominam, trata-se de uma produção de “baixo orçamento”, mas que não compromete em nada a admirável e corajosa investigação sobre as possibilidades de hibridização das linguagens do cinema, teatro, dança e performance. Essa miscelânia conta com toques coreográficos de Kung-fu, tendo como personagem principal a “heroína Georgia”. Uma combatente diferente de tudo que você já viu.
Com respaldo do Sistema Único de Saúde (SUS), Georgia, decide fazer uso do “armamento íntimo’. Um direito adquirido pelas mulheres para que lutem contra a masculinidade toxica e opressora de um antigo sistema patriarcal, fazendo também alusão ao nosso atual governo armamentista, que inviabiliza a possibilidade do diálogo, através do apoio a violência.
A autora do texto, Lara Duarte, que é responsável pela dramaturgia e performance como a heroína principal, além de muitas sátiras inteligentes, desvela muitos assuntos e nos faz refletir sobre onde mora o machismo enraizado em cada um de nós e que tanto renegamos; sugere ainda o ceifar de todos os homens, mas seria essa, uma solução perfeita? Sabemos claro, tratar-se de uma obra de ficção, por isso me permito o questionamento: um mundo povoado somente por mulheres, seria um mundo menos machista?
O espetáculo meio teatro e meio audiovisual, conta com uma ótima trilha sonora idealizada por Lana Scott e traz à tona um desejo escondido de vingança contra o arquétipo machista existente desde que nos conhecemos por gente e escancara muito do nosso cotidiano.
Pânico Vaginal é uma proposta inovadora e mostra a importância da desconstrução do ideal de masculinidade. Com uma Identidade visual muito consistente e bem elaborada, acidez proporcional ao tema e poucos figurinos (prepare-se: contém nudez explícita), contém cenas bem-humoradas e por vezes perturbadoras, como as que usam uma câmera endoscópica percorrendo caminhos inimagináveis.
Veja o mundo de um ângulo diferente e prepare-se, pois, elas estão soltas e com sede!
* Cíntia Duque é formada em pedagogia, estudante de crítica teatral, editora de conteúdo no site eunoteatro.com.br e perfil do instagram @eunoteatro , voltado a divulgação de espetáculos, artistas e toda forma de arte e cultura.
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