A pesquisadora Pauliina Hulkko, professora de trabalho teatral na Universidade de Tampere, na Finlândia, ministrou na última semana, do dia 21 a 25 de novembro, a oficina O que fazemos com nossas mãos na sede Roosevelt da SP Escola de Teatro. Ela está pela primeira vez no Brasil e passa uma temporada no país investigando várias manifestações artísticas e conhecendo artistas e pesquisadores nacionais.
No workshop, os participantes poderiam ser das artes cênicas ou de outras áreas, mas com o pré-requisito de terem uma atitude curiosa, mente aberta e interesse em compartilhar e expandir suas ideias. A experiência foi conduzida por meio de pesquisas corporificadas que aconteceram na forma de trabalho de antropologia artística, experimentos corporais, discussões coletivas e pequenos exercícios de escrita. A partir disso, os estudantes foram convidados a mergulhar na sua condição inerente de serem primatas.
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Pauliina possui mestrado e doutorado em Direção, ambos pela Theatre Academy, Uniarts Helsinki, na Finlândia. Mas, antes de descobrir o mundo do teatro, ela tocava música e estudava a língua e cultura Sámi, que são os povos indígenas da Noruega.
Na entrevista exclusiva para a comunicação da SP Escola de Teatro, ela expõe também seu interesse pelos indígenas brasileiros e conta que fará uma visita a uma tribo na floresta Amazônica.
Confira na íntegra:
Como foi a experiência de introduzir a sua nova pesquisa sobre mãos na oficina dada na Escola: O que fazemos com nossas mãos?
Foi muito interessante. Foi a primeira vez que me importei com o porquê. Eu já tive experiências anteriores, mas foi emocionante começar a trabalhar pedagogicamente este novo tema. E combinar a pesquisa com o ensino. O workshop é uma investigação em conjunto, de forma presencial e com intimidade, com diferentes culturas pessoais. O meu curso pretendeu abordar a implicação em mãos, como sendo um primata. Poder agitar muitos toques agregando a heterogeneidade. Além disso, foi uma experiência nova para mim ensinar no Brasil em geral e colaborar com estudantes brasileiros – muitos dos quais eram artistas praticantes. Eu enquadrei o curso como uma oficina de pesquisa e senti que realmente estávamos pesquisando juntos. As discussões foram ricas, pois o curso foi aberto em português e o pessoal de fora da Escola e de diversas origens poderiam participar. O grupo foi muito generoso um com o outro e todos me acolheram, gostei e aprendi muito! Obrigado a todos pela participação, organização e ajuda na realização do workshop!
Em relação ao ensino das artes cênicas na Finlândia e no Brasil, quais são as diferenças e as similaridades? Você acompanhava as artes brasileiras na Europa?
Eu já vi muita dança brasileira na Europa e adorei. É complicado comparar a Finlândia e o Brasil, pois o meu país tem 5,5 milhões de habitantes, muito diferente dos 214 milhões daqui, então ensinamos e conversamos em diferentes escalas. Não é monocultural. Fomos colonizados pelos suecos e ainda tem essa força institucional, mas o país é muito desenvolvido e continua crescendo. Por exemplo, o teatro é bastante subsidiado lá.
Não tem comparação entre os dois países, mas tem diferentes tendências. Estou apenas olhando e eu quero conhecer o máximo, nossas referências. Quando você trabalha, ai também vê nos atores essas referências.
Na Finlândia tem muitas políticas públicas e sistema social, que são anuais e regulares. Oferece subsídios e depois os munícipios os compartilham por lei. Os shows e as orquestras dominam a discussão financeira e são os que têm mais público. Quando há politização, eles acabam cortando das artes. Por isso precisamos de financiamentos, pois o grupo artístico é bem abrangente.
Você vai viajar para a Floresta Amazônica para visitar uma tribo indígena. Quais são as suas expectativas para a viagem?
A possibilidade de poder me encontrar com os indígenas e visitar sua aldeia parece um presente inestimável para mim. Tenho um interesse de longa data em culturas e línguas indígenas. Hoje, esse interesse é sustentado (e também ofuscado) pela emergência ecológica que ameaça esses povos. Então, para mim, esta visita é um sonho realizado! Na verdade, não sei o que esperar da minha visita e prefiro não esperar nada específico. Aguardo com expectativa um encontro sincero com as pessoas e os ambientes que posso encontrar e a possibilidade de aprender sobre eles, sobre suas vidas cotidianas e comunitárias e suas culturas. E, sim, espero experimentar a incrível (cf. Amazonas) flora e fauna da região, o seu solo e céu também.
O que você espera de sua viagem pelo Brasil e como é sua relação com a SP Escola de Teatro?
Estou aprendendo muito. Fui na Ocupação Nove de Julho e almocei lá. Desejo trabalhar com comunidades e ter contato com comunidades, comunidades de mulher, artesãos, e também pessoas. Conhecer o Movimento Sem Terra, pois parte da minha pesquisa parte dos agricultores, faz parte do meu processo de trabalho. Fazer uma pesquisa básica, para provar essa antropologia, fazer um trabalho de campo com algumas mulheres e achar essas comunidades. Não tenho muito tempo, e olhe para frente, são muitos grupos diferentes, então só posso aprender. A gente só aprende se estivermos perto.
Estou aberta para tudo. Desejando algo relacionável com as mãos. Estou mais do que pronta para pesquisar e não tenho nenhuma expectativa, sou humilde. O workshop na SP Escola de Teatro foi o meu primeiro produto, mas eu quero continuar na minha própria universidade, em diferentes campos, passando pelo jornalismo e pela ciências sociais. Para esta pesquisa, eu tenho essa oficina e estou procurando longe para levar de volta algum resultado.
Poderia nos contar sobre algumas atividades artísticas que você presenciou em São Paulo (teatro, cinema, museus)?
Aqui estão alguns exemplos de atividades culturais que pude participar enquanto estive em São Paulo: Não preciso dizer, eu vi um pouco de teatro. Além disso, participei da Mostra do Cinema Negro, vendo filmes e ouvindo painéis de discussão. Isso foi muito inspirador e informativo para mim.
1. Tive a sorte de assistir ao show de Tiganá Santana, o cantor baiano. Foi um evento maravilhoso, forte e caloroso, realizado no Dia da Consciência Negra. Ainda estou ansiosa pelo show do meu ídolo de longa data Caetano Veloso (que já ouvi ao vivo muitas vezes, mas nunca me canso)!
2. Visitei muitos grandes museus e espaços expositivos – como o SESC, que considero espaços muito importantes, ao mesmo tempo relaxantes, democráticos e com uma programação artisticamente gratificante.
3. Felizmente também houve várias exposições sobre culturas indígenas no Brasil para experimentar em São Paulo.
4. E por último, é claro, aproveitei a rica programação e o ótimo ambiente do Festival Satyrianas!
Obrigada, São Paulo e todos os paulista(no)s!!!
Por: Luiza Camargo e Marcio Aquiles. Tradução: Beatriz Pereira. Edição: Luiza Camargo.