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Ùga agÚ, estudante de Cenografia e Figurino da SP Escola de Teatro, realiza performance biográfica na próxima sexta (25), na sede Roosevelt

Ùga agÚ

Na próxima sexta-feira, 25, Ùga agÚ, estudante de Cenografia e Figurino da SP Escola de Teatro, realiza a performance Olha O Que Vocês Fizeram, às 19h na sede Roosevelt da instituição.

Além dela, como performer da montagem, todos os outros envolvidos no experimento são estudantes da Escola. Sendo os responsáveis pela sonoplastia Tutti, Katheleen Costa e Gabriel Fernandes; pela iluminação Nino Brasileiro e Felipe Mendes; e pela assistência de cenografia e figurino Camila Bueno e Lôh Goulart.

Em Olha O Que Vocês Fizeram, Ùga agÚ traz para o espaço cênico uma ação performática que reflete sobre o descarte do corpo travesti na sociedade brasileira. A criação da artista faz parte de um processo voltado para a seleção na Mostra dos Estudantes da Quadrienal de Praga 2023, considerado o evento mais importante da cenografia mundial, realizado a cada quatro anos na capital da República Tcheca, desde 1967.

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Desta forma, o trabalho da artista não é biográfico por inteiro, pois se trata de uma situação limite que anula todas suas outras características, subjetividades e vivências. A produção aborda a colonização sexual do corpo trans, o quanto no Brasil a morte do corpo travesti é tradição e como isso impede o imaginário social de identificar sua humanidade. Sendo assim, a crítica que está por trás é de que maquiar o sofrimento acaba se tornando necessário para encarar a vida e é nesse ponto que o glamour se aproxima do padecimento.

Em seu relato, Ùga agÚ conta o que significa essa performance para ela, como uma travesti em território brasileiro:

“Este trabalho era uma carta de despedida. A oportunidade de registrar minha dor de uma maneira significativa e trazer a mudança que acredito ser necessária para o continuar da vida de minhas irmãs. Não é biográfico por inteiro, pois se trata de uma situação limite que anula todas minhas outras características, subjetividades e vivências . É o maior grito que já consegui externar, o maior ato de resistência e força que consegui estruturar. Eu quis expor meu sangue pra provar de vez minha humanidade. Externar para o mundo que o que corre nas veias de uma travesti se assemelha com os do que nos oprimem.

Me despedi de meus pais por não entenderem o que me tornei. Me despedi da religião que passou a não me enxergar mais. Me despedi de amigos que me disseram que eu era linda e que ficaria tudo bem. Me despedi do antigo eu e continuo em luto. Meu templo ficou sem os pilares e dentro da ruína decidi me reinventar através da dor.

Mas da arte não conseguiria me despedir em vida, porque se aqui trago meu sangue como elemento de narrativa, é porque arte e eu somos um só. A partir do momento que deixar de viver haverá a despedida, porque ela continuará no mundo. E assim será nossa eternidade. Se estou aqui hoje é porque minha arte não desistiu de mim.

Decidi encarar o mundo ao invés de ser encarada. A raridade da vida de uma travesti no Brasil precisa ser compartilhada e através de meu corpo e minhas vivências, trago como urgência mundial a atenção para os corpos trans no país que mais nos mata, pelo 14º ano consecutivo.

Resgato a força de minhas trancestrais para transgredir a história da destruição de nossos corpos, criando estratégias de sobrevivência.

Quais são os lugares que nos são ofertados? Onde temos fácil acesso? Quais localidades nossa carne é aceita e consumida? Qual é o imaginário local a respeito de mim?

Dentro dessa lógica, reviso minha trajetória e percebo que a minha morte é tradição e o mais raro é continuar viva, com o sangue correndo por minhas veias. Decidi, mais uma vez, resistir.”

Foto: Divulgação

Serviço:
Olha O Que Vocês Fizeram
Quando: 25 de novembro
Horário: 19h
Entrada gratuita – retirada dos ingressos 1h antes
Classificação indicativa: 16 anos
Local: SP Escola de Teatro – Praça Roosevelt – Sala Alberto Guzik
Duração: 10min

 




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