JONAS LÍRIO
Os aprendizes Jessie Lewis Skoglund e Jacob Danielsson vieram de longe: alunos da Universidade das Artes de Estocolmo (Uniarts), na Suécia, os dois são intercambistas e estão no Brasil para cursar Humor na SP Escola de Teatro. O intercâmbio faz parte do projeto de parceria entre a instituição brasileira e a sueca.
A dupla de intercambistas que estuda Mímica na Suécia chegou a São Paulo em agosto e fica até o final de outubro. “Nunca estive tão longe de casa,” conta Jessie. “É como nascer de novo. Há muitas diferenças entre nossas culturas, então não temos as mesmas referências, histórias, o mesmo conhecimento sobre teatro.”
Para a estudante, esse desconhecimento é uma grande oportunidade como artista, uma vez que chegou ao País sem saber sequer a língua local. “Não entender português é um obstáculo, mas deixa cada vez mais claro para mim o quanto nossa língua nos define como seres sociais.”
A experiência também tem sido única para Danielsson. “É uma experiência incrivelmente enriquecedora, cheia de encontros e novas ideias. São Paulo é uma cidade com muitos extremos. Esse intercâmbio é uma oportunidade que eu não terei novamente”, diz o estudante, para quem a receptividade e a disposição para ajudar dos brasileiros são características marcantes.
LEIA TAMBÉM
>> SP Escola de Teatro lança edital de Intercâmbio para Portugal
>> Intercâmbio possibilita troca de experiência entre formadores do Brasil e da Suécia
Novas ideias
O modelo de aprendizagem da SP Escola de Teatro foi uma novidade para Jessie Lewis Skoglund. Vinda de uma instituição cujo modelo de ensino segue linhas mais tradicionais, a sueca afirma que a pedagogia brasileira, em que a troca de experiências entre os estudantes é fator primordial, já se tornou importante em sua formação artística.
“Os experimentos que montamos são uma boa forma de conhecer e entender melhor o processo de pessoas que serão nossos colegas de profissão”, diz, se referindo às atividades práticas que fazem parte da pedagogia da Escola.
Os experimentos, acrescenta Jacob Danielsson, são parte de uma diferença maior entre as instituições brasileira e sueca: o estímulo à interação social. “Na nossa universidade, há mais repetição de exercícios e nós não interagimos tanto com estudantes de outros cursos – o que é triste. Também não saímos tanto de lá – coisa que estamos fazendo por aqui, como os experimentos com refugiados.”
Brasileiras
Enquanto Jessie e Jacob ficam no Brasil até o fim de outubro, duas aprendizes da SP Escola de Teatro estão na Academia de Artes Dramáticas de Estocolmo. Gabriela Smurro, que cursa Atuação, e Marcela Pupatto, do curso de Humor, definem a experiência fora do País como intensa e transformadora.
As aprendizes, que voltam para o Brasil em novembro, experimentam na instituição sueca um estilo de formação mais voltado à técnica e ao desenvolvimento individual. “O aprendizado aqui é voltado para o conhecimento e condicionamento corporal. O caráter técnico do ensino pressupõe um aprendizado individualizado, uma busca pela precisão, repetição e concentração”, contam.
Realidade bem diferente da que vivem na SP Escola de Teatro, onde o ensino é voltado ao processo em grupo. “Aqui [na Suécia], são grandes salas com poucas pessoas e muito silêncio. É possível ouvir o som dos corpos funcionando.”
As diferenças, no entanto, enriquecem a experiência não só de Gabriela e Marcela, mas dos estudantes da Academia de Artes Dramáticas de Estocolmo. “Trouxemos a reflexão sobre o uso do espaço público para a experimentação artística”, dizem as brasileiras.
Números
A parceria da SP Escola de Teatro com a Universidade das Artes de Estocolmo já trouxe ao Brasil 22 professores suecos e oito estudantes e já levou à Suécia 12 formadores e oito aprendizes. Trata-se de um projeto sofisticado, na ponta da vanguarda da educação contemporânea, com frutos riquíssimos.