O mês de junho é marcado pela celebração da diversidade, sendo internacionalmente o Mês do Orgulho LGBTQIA+. As siglas reúnem as múltiplas possibilidades de identidade de gênero e orientações sexuais existentes.
O mês lembra a Rebelião de Stonewall de 1969, quando frequentadores de um bar gay em Nova York reagiram à violência policial contra homossexuais. O fato deu início ao Dia do Orgulho LGBTQIA+ e a Paradas do Orgulho, celebrada em muitos países.
A Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo é considerada a maior do mundo e aconteceu pelo segundo ano de forma digital no último dia 6 de junho, com shows de nomes como Maria Gadú e Pabllo Vittar.
Em um momento no qual direitos conquistados seguem em ameaça, é importante valorizar peças que abordam a temática LGBTQIA+. Na lista a seguir conheça 10 montagens nas últimas seis décadas no teatro brasileiro.
O Beijo no Asfalto – 1961
O texto do icônico Nelson Rodrigues (1912-1980) foi escrito especialmente para o Teatro dos Sete e encenado pela primeira vez em 1961. A direção foi de Gianni Ratto (1916-2005). No elenco, tinha nada mais nada menos do que Fernanda Montenegro, que começava sua carreira de atriz, além de Fernando Torres, Ítalo Rossi, Sérgio Britto e Oswaldo Loureiro. A montagem foi um marco por mostrar um beijo entre dois homens no teatro brasileiro.
Navalha na Carne – 1967
O texto de Plínio Marcos (1935-1999), tido como autor maldito por retratar o submundo de São Paulo, aborda a homossexualidade, a prostituição e a violência de gênero com uma poesia crua e autêntica. O ator Sergio Mamberti interpretou o homossexual Veludo. O sucesso projetou o artista nacionalmente. A montagem teve a direção de Jairo Arco e Flexa e contou também com os atores Paulo Villaça e Ruthinéa de Moraes.
As Lágrimas Amargas de Petra von Kant – 1982
Com direção de Celso Nunes, o texto foi escrito pelo dramaturgo, roteirista e cineasta Rainer Werner Fassbinder (1945-1982) em 1971. O espetáculo marcou a estreia do texto no teatro e reuniu duas das maiores atrizes brasileiras no palco, Fernanda Montenegro, que interpretou Preta von Kant, e Renata Sorrah, que viveu Karina. Elas protagonizaram uma grande paixão lésbica.
Luís Antônio – Gabriela – Cia Mungunzá – 2011
O diretor Nelson Baskerville traz em seu espetáculo a história, comovente e apaixonante, de seu irmão mais velho, Luís Antônio. Aos 30 anos, a personagem resolve sair de casa e partir para Espanha em busca do sonho de ser quem ele sempre foi, Gabriela. Com memórias íntimas e figuras familiares, o espetáculo relembra toda trajetória de vida de Gabriela, em uma montagem emocionante que foi marco da questão trans no teatro.
Priscila, A Rainha do Deserto – 2012
Baseado no filme homônimo de 1994, o musical contou as histórias pessoais e aventuras de uma transexual e duas drag queens, que viajam a bordo de um ônibus no deserto australiano. Em busca de amor e amizades verdadeiras, a trama estacionou no Teatro Bradesco em São Paulo, trazendo muitas cores, plumas, brilho e purpurina, se tornando um sucesso de público e de crítica à interpretação do trio Luciano Andrey, Ruben Gabira e André Torquato. Assim como o filme fez.
Madame Satã – Grupo dos Dez – 2015
Dirigido por João das Neves (1932-2018) e Rodrigo Jerônimo, o espetáculo Madame Satã, dos mineiros do Grupo dos Dez, dialoga com questões importantes como: homofobia, racismo e homoafetividade. Inspirando na biografia de Madame Satã, o musical trata de forma poderosa e poética questões delicadas de um universo de seres invisíveis envolvidos na prostituição, pobreza, intolerância e violência. Destaque para uma poesia poderosa e combativa, na dramaturgia de Marcos Fábio de Faria e Rodrigo Jerônimo, somada a uma trilha sonora marcante de Bia Nogueira e Alysson Salvador.
Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu – 2016
Em 2016, em meio a uma guinada conservadora no país, a atriz e ativista Renata Carvalho deu vida a um Jesus Cristo transexual na adaptação do texto da dramaturga escocesa trans Jo Clifford, que apresentou a versão original da peça no FIT-BH no mesmo ano. O monólogo aborda praticamente o amor próprio e aceitação, mas causou clamor na opinião pública com a versão nacional pelo fato de Jesus ser vivido por uma travesti. A obra sofreu censura em Jundiaí, boicote e até ataques violentos com explosão de bombas no Festival de Inverno de Garanhuns, quando foi defendida em fala histórica de Daniela Mercury em seu show no evento. Mesmo com toda represália e ameaças de morte, Renata seguiu firme com o espetáculo e em seu ativismo.
Pink Star – Cia de Teatro Os Satyros – 2017/2021
Em seu centésimo espetáculo, a Cia de Teatro Os Satyros, apresentou a comédia musicada futurista Pink Star. Com texto de Ivam Cabral e Rodolfo Garcia Vasquez e direção do último, a trama acontece em 2501 e traz como protagonista Diego Ribeiro como Purpurinex Brilhante, que não se identifica com o gênero masculino nem feminino. O espetáculo animado, colorido e empolgado discorre sobre todas possibilidades de corpos e todas formas de amor. Depois do sucesso em 2017, quanto antecipou a chegada da ultradireita ao poder, o espetáculo retornou em 2021 com uma bela adaptação para o teatro digital.
F.A.L.A.: Fragmentos Autônomos sobre Liberdades Afetivas – Coletivo Negro – 2018
Com concepção e direção geral de Flávio Rodrigues e dramaturgia construída a partir de textos de Luh Maza, Paloma Franca Amorim e Rudinei Borges, F.A.L.A. abordou todas as possibilidades de afeto a partir das histórias de corpos negros LEGBTQIA+. Por meio de experiências de sexualidade e gênero em uma sociedade racista, machista, sexista, homofóbica, lesbofóbica e transfóbica, o espetáculo propôs uma reflexão profunda e artisticamente rica, com uso de artifícios audiovisuais poderosos, para um mundo além do universo branco, homogêneo e binário.
Entrevista com Phedra – 2019
Baseado em fatos reais, o espetáculo com a história da icônica diva cubana e atriz do teatro brasileiro, Phedra D. Córdoba (1938-2016). Após fazer história na noite de Buenos Aires, Rio e São Paulo, ela diva da Cia. de Teatro Os Satyros. O espetáculo também marcou a estreia do jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado como dramaturgo. Com direção do argentino Juan Manuel Tellategui e o brasileiro Robson Catalunha, o espetáculo reviveu um encontro real entre jornalista e atriz e relembrou grandes história sobre sua carreira. Phedra foi interpretada pela atriz e bailarina Márcia Dailyn, indicada ao Prêmio Aplauso Brasil pelo papel, que fez história na cultura paulista ao ser tornar a primeira bailarina trans do Theatro Municipal de São Paulo, além de diva da Praça Roosevelt, título herdado de Phedra, e musa do Bloco Acadêmicos do Baixo Augusta.
Por Rodrigo Barros
Editado por Miguel Arcanjo Prado