O ator, diretor e dramaturgo colombiano, Julio César Peláez Serpa, concedeu uma entrevista exclusiva à SP Escola de Teatro. O artista já participou de uma residência artística na instituição em 2015.
Na entrevista, ele expõe os projetos artísticos que tem investigado nos últimos anos e também relata sua avaliação sobre o teatro colombiano contemporâneo, destacando a retomada após o isolamento social, provocado pela pandemia da covid-19.
Confira a entrevista na íntegra:
Em 2015 você ministrou a oficina “A Poética do Silêncio” na SP Escola de Teatro, na qual propôs aos estudantes um processo teórico-prático sobre o silêncio como linguagem expressiva, baseado em pesquisa acadêmica pessoal. Você poderia nos dizer quais projetos acadêmicos ou artísticos você tem investigado nos últimos anos?
Ao longo destes anos tenho me aprofundado nas vertentes de produção da encenação em que o humor é a chave, sem prejudicar a encenação e o cuidado dedicado aos atores de forma rigorosa e ao mesmo tempo cúmplice de cada um deles – já que é esse o caminho do humor, uma forma de encontro entre atores, equipes criativas e público. Destaca-se o trabalho que temos feito em torno da dramaturgia de Marco Antonio de la Parra, entendendo como eixo central o humor cínico e psicológico que emana de suas letras para a cena latino-americana.
Como você avalia o teatro colombiano contemporâneo? Você percebe alguma confluência de temas ou estética entre os grupos ativos?
Sem que seja uma verdade incontestável, a influência do teatro da capital do país voltou a ressoar em dois grupos, Teatro Petra e La Maldita Vanidad, que têm vindo a marcar a estética com que o país passou a olhar para a dramaturgia local e a encenação no país. É importante destacar que ambas as propostas partem de linhas naturalistas, mas cada uma encena os diferentes tons que gravitam um conflito social. Sobretudo uma denúncia da situação política do país, dos eventos cênicos, dessa plataforma proporcionada pelo teatro que tem gerado um público expectante que enche as suas salas noite após noite. Por outro lado, o teatro local, o teatro da minha cidade, vem perdendo o ímpeto que por muitos anos o levou à vanguarda do teatro na Colômbia.
Como está a retomada dos shows na Colômbia após o período mais crítico da pandemia?
A pandemia nos pegou de surpresa. Durante esse tempo, apesar do apoio estatal na maioria dos casos, que é escasso, vimos muitas salas que tiveram que fechar suas portas ao público, incluindo a sala do Teatro Las Tablas, que é o grupo que eu dirijo. Nessas ações tivemos que nos reacomodar ao virtual e muitos dos artistas sofreram o duro golpe da solidão nas arquibancadas, de não poder sair para fazer apresentações; fazê-lo a partir do virtual, o que se tornou uma experiência nova para muitos. Nesse período, contudo, tive a oportunidade de ser júri em diferentes regiões do país onde os teatros foram subsidiados; deu-se apoio criativo às artes performativas do virtual e do confinamento; daí surgiram propostas dramatúrgicas poderosas que deram uma guinada ao confinamento… E, até hoje, a pandemia já superada em muitos aspectos, o teatro voltou, os espectadores voltaram aos teatros e há uma certa normalidade, essa normalidade tem a ver com o fato de as pessoas quererem voltar a encontrar-se nos espaços e no silêncio cerimonial e/ou ruidoso da cena.
Por Marcio Aquiles.