Rodolfo García Vázquez, coordenador de direção da SP Escola de Teatro, chegou há poucos dias da Lituânia, país no norte báltico da Europa, onde abriu o congresso internacional do projeto Alexandria Nova, que reúne estudantes e diretores teatrais de universidades de nove países do continente, com a palestra “Amanhecer Brasileiro”. Ele foi o único brasileiro e latino-americano a participar do encontro.
Na sequência, Vázquez ainda ministrou palestra sobre o ensino decolonial da SP Escola de Teatro no Fórum Internacional Unrehearsed Futures – Futuro Não Ensaiado, uma parceria do Drama School Mumbai, da Índia, com Embodied Poetics, de Londres, na Inglaterra, e o CTDPS (Centre for Theatre, Dance & Performance Studies), da Cidade do Cabo, na África do Sul.
Em entrevista ao jornalista Miguel Arcanjo Prado em seu Blog do Arcanjo, o coordenador da Escola contou, em detalhes, como foi sua experiência em Vilnius, capital do país, e o reconhecimento do teatro brasileiro na Europa; confira!
Miguel Arcanjo Prado – Como foi sua experiência na recente viagem à Lituânia?
Rodolfo García Vázquez – Foi uma experiência bastante importante, pois foi a primeira ação oficial do projeto Alexandria Nova de que a Adaap (Associação dos Artistas Amigos da Praça) tomou parte como membro oficial. Foi uma forma de apresentar nossa SP Escola de Teatro para todas as universidades europeias participantes do projeto. Também foi importante pela possibilidade de entender os desafios da pedagogia do teatro em grandes instituições europeias e perceber o que nos aproxima e o que nos distancia da realidade de lá.
Miguel Arcanjo Prado – Como foi sua fala na abertura do congresso e como foi recebido?
Rodolfo García Vázquez – Na Lituânia, eu basicamente falei sobre a importância da resistência do teatro em tempos de pandemia, dos desafios que nós, artistas brasileiros, temos enfrentado e da necessidade de reinvenção do teatro. Foi um momento muito emocionante, pois era o primeiro encontro desses artistas e pedagogos depois de quase dois anos de isolamento.
Miguel Arcanjo Prado – A cena internacional do teatro se interessa pela produção brasileira? Quais interesses você percebe, sobretudo na Europa?
Rodolfo García Vázquez – Acredito que o Brasil chama a atenção justamente por suas chagas, infelizmente. É um país que escancara as desigualdades sociais de forma brutal. Em cada esquina de qualquer cidade deste país, a injustiça social surge como uma ferida aberta. Na Europa, as diferenças sociais são escamoteadas, mas os artistas sabem que elas existem. As discussões identitárias entre nós estão despertando uma consciência política de urgência que chama a atenção da cena europeia.
Miguel Arcanjo Prado – Foram quantos dias na Lituânia? Qual sua impressão do país e de seus habitantes? E do teatro de lá?
Rodolfo García Vázquez – Nunca tinha estado na Lituânia. É um país com forte tradição teatral, apesar de pequeno e pouco divulgado nos grandes centros europeus. Alguns de seus diretores e diretoras dirigem em grandes salas da Europa. O encontro foi em Vilnius, capital da Lituânia, uma cidade cheia de encantos e história. As pessoas se surpreendiam quando descobriam que eu era brasileiro e faziam muitas perguntas, pois recebem poucos turistas brasileiros por lá, e os trópicos sempre exercem um grande fascínio do imaginário dos países mais ao norte da Europa. O teatro lituano é muito antenado com os movimentos europeus. O que mais me surpreendeu foi o trabalho que desenvolvem com o teatro para a primeira infância. Vi um pequeno experimento com teatro para bebês e crianças até 4 anos de idade que considerei bastante sensível e comprometido.
Miguel Arcanjo Prado – Você era o único brasileiro e latino-americano no congresso?
Rodolfo García Vázquez – O congresso era formado por pedagogos e estudantes de cursos de direção teatral de universidades de sete países do norte da Europa (Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Lituânia, Noruega, Islândia e Suécia). A SP Escola de Teatro e sua parceira MT Escola de Teatro eram as únicas instituições de fora da Europa. É uma grande honra para a Adaap poder participar de um fórum internacional desse porte.
Miguel Arcanjo Prado – Qual a importância dessa viagem para você como diretor do Satyros e também como doutorando na ECA-USP e coordenador do curso de Direção na SP Escola de Teatro?
Rodolfo García Vázquez – Acredito que é fundamental a participação do Brasil em um momento de grandes desafios para o teatro mundial, onde muitos dos alicerces da tradição do fazer teatral estão sendo questionados. Carregamos um passado de opressão colonial que afetou diretamente a evolução histórica do teatro brasileiro. Estamos decolonizando esse fazer de forma exemplar, como vem fazendo a SP Escola de Teatro desde sua fundação há mais de dez anos. E essa é uma contribuição fundamental que nós podemos levar para o centro do debate do teatro mundial.
Colaborou Marcio Aquiles