Por Antonio Gilberto*, especial para o portal da SP Escola de Teatro
Fernanda Montenegro abraça a amiga Regina Malheiros (Foto: Arquivo Pessoal)
Regina Malheiros nasceu no Rio de Janeiro, em 1928. Filha de Higino José de Souza e Brasilina de Oliveira. Irmã de Celina e Afonso de Souza. Foi funcionária do Ministério do Trabalho de 1951 a 1980. Mas sua grande paixão, além da que sentia pelo marido e pelos dois filhos, Luís Afonso e José Ricardo, era o teatro.
Iniciou suas atividades nos palcos na década de 50, como camareira dos Shows do Copacabana Palace. Lá, vestiu astros e estrelas como Samy Davis Jr., Edith Piaf, Nat King Cole e Marlene Dietrich.
No Teatro Copacabana, participou de importantes espetáculos no final da década de 50 e no início dos anos 60, como “Diálogo das Carmelitas”, “Boing, Boing”, “Depois da Queda”, “Toda Nudez Será Castigada”, “Vamos Brincar de Amor em Cabo Frio”.
No Rio de Janeiro, trabalhou também no Teatro dos Sete, nas peças: “O Mambembe”, “Cristo Proclamado”, “Com a Pulga Atrás da Orelha”, “Beijo no Asfalto”, “Festival de Comédia” e “O Homem, a Besta e a Virtude”.
Participou de vários musicais de Carlos Machado, como “O Teu Cabelo Não Nega” e “Pussy, Pussy Cats”, na famosa boate carioca Fred´s. No Em 1968, realizou sua primeira excursão pelo Brasil, ainda como camareira, do espetáculo “Black-Out”. Em 1970, participou do musical “Tem Banana na Banda”, protagonizado pela inesquecível Leila Diniz.
No final da década de 70, Regina se transferiu para São Paulo e trabalhou no Teatro Oficina, dirigido por José Celso Martinez Corrêa, onde participou das montagens “Galileu, Galilei”, “Nas Selvas das Cidades”, “Pequenos Burgueses” e “O Rei da Vela”.
Em 1971, passou a administrar o Teatro Oficina e, nessa função, à qual se dedicou até 2013, Regina trabalhou em “Gracias Senor” e “As Três Irmãs”. Na primeira metade dos anos 70, no auge da ditadura militar, Regina se associou ao seu amigo e companheiro de Teatro Oficina, Renato Borghi, e criou a Companhia Teatro Vivo, em São Paulo. Produzem vários espetáculos, como “O que Mantém um Homem Vivo”, “Absurda Pessoa”, “Castro Alves Pede Passagem”, em sociedade com os amigos Othon Bastos e Martha Overbeck, e “Um Grito Parado no Ar”.
Em 1979, administrou o espetáculo “A Ideia Fixa” e “Murro em Ponta de Faca”. No início dos anos 80, trabalhou na produção e administração de: “Calabar”, “Presença de Vinícius” e “Pegue e Não Pague”. Em 1982, Regina foi nomeada pelos produtores como tesoureira da Associação dos Produtores Teatrais de São Paulo (Apetesp).
Continuou sua carreira no teatro administrando produções como “Amadeus”, “Com a Pulga Atrás da Orelha” e “Santa Joana”. Nos anos 80 e 90, Regina pautou, produziu e administrou as excursões nacionais de grandes sucessos do teatro brasileiro, como “De Braços Abertos”, de Maria Adelaide Amaral; “Meno Male!”, de Juca de Oliveira; “Uma Relação Tão Delicada”, também de Maria Adelaide Amaral; “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues; “Apareceu a Margarida”, de Roberto Athayde, entre outros.
No final dos anos 90 e início de 2000, participou dos espetáculos “Lago 22”, “Minha Futura Ex”, “Menininho no Meio da Rua” e “Credores”, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro.
Impossível listar todos os espetáculos nos quais Regina trabalhou ou com os quais colaborou, emprestando sua disponibilidade e experiência para que a cortina fosse aberta e mais uma montagem teatral chegasse até o público do nosso País. Difícil encontrar um profissional do nosso teatro que não tenha trabalhado ou conhecido o profissionalismo de Regina Malheiros. Difícil encontrar alguém que a conheça e não a ame, como pessoa e profissional. Pela sua seriedade, dedicação, honestidade e respeito, acima de tudo, ao teatro. Quantos produtores, administradores e técnicos aprenderam com sua experiência, adquirida no dia a dia do fazer teatral! Regina viveu várias fases do teatro brasileiro. Sempre enfrentou todas as situações com garra e determinação. Mas nunca deixou de sonhar… Afinal, foram mais de 50 anos dedicados ao teatro.
Regina saiu de cena no último dia 17, no Rio de Janeiro.
*Antonio Gilberto é diretor e produtor