SP Escola de Teatro

Papo de Teatro com Henrique Stroeter

Henrique Stroeter (Foto: Arquivo SP Escola de Teatro)

 

 

Henrique Stroeter é ator

 

 

Como surgiu o seu amor pelo teatro? 

Surgiu de maneira lenta. Fui assistindo a peças, me identificando, rindo, questionando. Na verdade, só sou ator porque sempre fui um ótimo público.

 

Lembra da primeira peça a que assistiu? Como foi? 

Sim. Um infantil. Acho que era uma mistura de contos famosos. Tinha a Chapeuzinho Vermelho, o Peter Pan, o Lobo Mau. Lembro que numa cena o Lobo entrava pela plateia e assustava todo mundo. Voltei pra assistir à peça no dia seguinte e sentei perto de onde o Lobo ia sair só pra ver o susto das outras crianças. Por muito tempo, na minha infância, eu achei aquela cena do susto a coisa mais legal do mundo.

 

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro. 

“Macunaíma” do Antunes e “Ubu” do Cacá Rosset. 

 

Um espetáculo que mudou a sua vida. 

“Artaud”, com o Rubens Corrêa.

 

Você teve algum padrinho no teatro? Se sim, quem?

Sim. Klaus Vianna. Eu era bem jovem e estava tentando ir morar em Nova York para estudar no Actor’s Studio. Ele me chamou na casa dele e disse que eu já era ator, que não precisava mais ir para uma escola. Confiei nele e deu certo.

 

Já saiu no meio de um espetáculo? Por quê? 

No Brasil, em um espetáculo do Gerald Thomas, acho que se chamava “M.O.R.T.E.”, me senti muito alugado com a pretensão da montagem. E quando fui participar de um festival internacional na Romênia, saí de vários. Sentava no fundão e quando as montagens eram mais realistas, eu fugia, porque não entendia nada. Eram peças soviéticas, búlgaras, romenas…

 

Teatro ou cinema? Por quê? 

Prefiro teatro. Por mais maluca que seja a montagem, o teatro sempre vai depender do ator.

 

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê? 

São tantos. Adoraria fazer as peças da primeira fase do grupo Ornitorrinco, gostaria também de ter feito “Morte Acidental de um Anarquista”, com o Fagundes.

 

Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?

Já. Muitos. Muitas vezes. Via de novo pra me divertir de novo, pra chorar de novo e pra aprender. Acho que o que eu mais vi foi “Os Velhos Marinheiros”, do Ulysses Cruz.

 

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro? Explique.  

Plínio Marcos, sempre. O cara sabia tudo. Objetivo, poético, contundente e sem frescuras. Acho também que o Mário Bortolotto tem peças geniais. Estrangeiro, não tem como fugir, Shakespeare, absolutamente completo em todos os sentidos. Dario Fo e Aristófones também são os caras!

 

Qual companhia brasileira você mais admira?

La Mínima, Parlapatões, Grupo 19, Cemitério de Automóveis.

 

Existe um artista ou grupo de teatro do qual você acompanhe todos os trabalhos?

Todos os da pergunta anterior, mais as peças do diretor Alexandre Reinecke e do ator Fábio Espósito (Xepa).

 

Qual gênero teatral você mais aprecia? 

Não tenho preferência.

 

Em qual lugar da plateia você gosta de sentar? Por quê? Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro? 

Gosto de sentar nas cadeiras laterais perto do corredor, não tenho a menor ideia do porquê. O pior lugar que eu já sentei foi o galinheiro do teatro municipal (não sei o nome exato daquele lugar mais alto do teatro, chamo de galinheiro). Só conseguia ver alguma coisa levantando da cadeira e fazendo um malabarismo corporal digno de um iogue.

 

Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você já foi ou já trabalhou? 

Caramba, foram tantos. Adoro o Sesc Consolação. Sobre os piores, melhor nem falar. Uma vez, fiz uma espécie de apresentador numa performance que era em um puteiro. O camarim das putas era péssimo. A performance também era péssima e eu de apresentador estava péssimo também.

 

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou? 

Existe peça ruim.

 

Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos? 

Uma comédia de Aristófones, num teatro grego, com Walter Breda, Norival Rizzo, Fabio Espósito (Xepa) e Patrícia Gasppar.

 

Cite um cenário surpreendente. 

Todos do Teatro da Vertigem.

 

Cite uma iluminação surpreendente. 

As do Pederneiras, do Grupo Corpo, e aqueles corredores tênues do Mário Bortolotto.

 

Cite um ator que surpreendeu suas expectativas. 

Sergio Guizé, Walter Breda, Norival Rizzo, Gero Camilo, Luiz Miranda, Dan Stulbach. Esses caras estão sempre me surpreendendo.

 

O que não é teatro? 

Não sei.

 

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro? 

O teatro é arte, portanto… Mas não sei muito bem se cabe tudo.

 

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro? 

O futuro de sempre. A tecnologia só vai ajudar e facilitar as montagens.

 

Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro? 

“Barrela”, do Plínio Marcos; “Getsemani” e “Hotel Lancaster”, do Mário Bortolotto; “Ricardo III”, do tio William.

 

Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira. 

Um de cada é sacanagem! Mas vamos lá: ator, Walter Breda; atriz, Claudia Missura; diretor, Ingmar Bergman.

 

Qual o papel da sua vida? 

Adoraria fazer o Salsicha do Scooby Doo, mas agora já estou velho demais.

 

Uma pergunta para William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Bertold Brecht ou algum outro autor ou personalidade teatral que você admire.

Para o Shakespeare: “Tio William, me diz uma coisa: você virou autor por que era um ator limitado?”

 

O teatro está vivo? 

Claro que sim!

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