SP Escola de Teatro

Onde Devo Colocar as Mãos?

Com um humor peculiar, Elias Andreato inicia sua aula. “Não tenho formação acadêmica para dar aula, portanto, não tenham tantas expectativas”, diz o orientador aos mais de 30 participantes presentes, e completa: “Mas posso transmitir conhecimento por meio de meu ofício, que considero de grande serventia para a sociedade.”

 

Exercícios e debates em grupos foram realizados logo no primeiro dia de aula do curso de Difusão Cultural “Performance do Cantor no Palco”. Como a música sempre esteve presente na vida de Andreato, enquanto falava sobre o assunto, relembrava algumas situações ímpares ocorridas em sua vida, como quando dirigiu alguns espetáculos alternativos.

 

Em meio a tantas lembranças, ele conta que seu irmão, Elifas Andreato, desempenhou, ao longo dos anos, um papel importantíssimo para a música. “Ele criou uma linguagem gráfica, desenvolvendo capas para CDs.” 

 

Uma das primeiras questões discutidas na aula foi: “Onde colocar as mãos?”. Muitos participantes disseram que se inscreveram para o curso, porque, justamente, muitas vezes, não sabem o que fazer com as mãos ou como preencher o espaço a sua volta. Andreato respondeu que quando não se sabe o que fazer com as mãos, o melhor é não fazer nada e ressaltou, ainda, que não é necessário preencher todo o espaço com gestos, quando se faz uma bela apresentação, transmitindo sentimento e verdade.

 

Com essa questão resolvida, o primeiro exercício foi proposto: realizar uma miniencenação. Três pessoas foram selecionadas para decorar um breve texto e se apresentar em frente ao grupo. Com o objetivo de aperfeiçoar movimentos, voz e presença de palco, os participantes repetiram cinco vezes a mesma cena. 

 

Como a proposta era trabalhar o cantor no palco, Andreato sempre dava um jeito de fazer alusões entre os temas música e teatro, utilizando-se de vocabulários pertencentes a esses dois universos distintos, porém tão interligados. “Um texto pequeno é como uma única nota musical. Sozinha, talvez, não represente muita coisa, mas em conjunto com uma performance convincente, surte efeito.”

 

O próximo exercício foi de canto. Andreato separou os participantes que tinham formação em canto lírico, os que tinham formação em canto popular e o grupo dos que tinham “inveja”, no qual ele se colocava. Cada um que se apresentava, recebia um feedback imediato, apontando, basicamente, erros de postura. Após ouvir o canto lírico de um dos participantes, Andreato fez uma confissão: “Meu sonho era ser cantor, mas acho que nessa encarnação não será possível”. 

 

Ainda falando de performance no palco, o ator explicou que seu ofício é antagônico ao mundo globalizado. “Para mim, o segredo é observar, escutar e refletir. Nada de sair fazendo tudo rápido, tudo no impulso, como o mundo te obrigada a ser. É com calma, tudo tem que ser estudado para se chegar à perfeição.”

 

“O público é cruel, te observa nos mínimos detalhes. Então, não deixe que eles percebam seus medos. Nós já somos autocríticos o suficiente. Sempre nos damos nota zero”, finalizou Andreato sobre o olhar hipnotizado de sua turma.

 

 

Texto: Jéssika Lopes

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