A trajetória e os impactos artísticos, pedagógicos, urbanísticos e sociais da atuação d’Os Satyros, uma das mais relevantes companhias teatrais brasileiras das últimas décadas, são o tema de Os Satyros: teatricidades – Experimentalismo, arte e política, novo lançamento das Edições Sesc São Paulo.
A coletânea de artigos de pesquisadores e jornalistas, organizada pelo crítico teatral Marcio Aquiles, traz reflexões sobre as práticas artísticas, as proposições pedagógicas e as atividades socioculturais do grupo, que desenvolveu um teatro marcado pela transgressão e pelos valores da alteridade e da liberdade.
Marcio Aquiles é responsável pela área de Projetos Internacionais e parcerias da SP Escola de Teatro, além de ser um dos editores do Selo Lucias, projeto editorial da SPET, ao lado de Ivam Cabral, Elen Londero e Beth Lopes.
Uma seleção de imagens dos diversos espetáculos e de críticas jornalísticas complementam os textos de Kil Abreu, Marici Salomão, Miguel Arcanjo Prado, Beth Lopes, Silas Martí e o casal norte-americano Dana e Ricky Young-Howze.
Fundada em 1989 pelo ator, escritor e promotor cultural Ivam Cabral e pelo diretor teatral Rodolfo García Vázquez, a companhia Os Satyros está sediada desde o ano 2000 na Praça Roosevelt, no centro de São Paulo. Um dos principais temas do livro é a relação dos Satyros com o território urbano e as transformações na região central. Com uma rica história na vida cultural e boêmia de São Paulo, na virada do século, a Roosevelt estava degradada e era considerada um local perigoso,
marcado pela prostituição e tráfico de drogas. Lá, Cabral e Vázquez abriram seu primeiro espaço, “que movimentou a vida noturna por meio de espetáculos realizados e de seu café-bar, em pouco tempo transformado em ponto de encontro de artistas e intelectuais”, lembra o organizador Marcio Aquiles.
A partir da experiência d’ Os Satyros, outros grupos teatrais chegaram à praça, como os Parlapatões, em 2006. Após a chegada deles, surgiu a Associação dos Artistas da Praça (Adaap), a SP Escola de Teatro e também houve o renascimento do Cine Bijou.
Teatro, cultura e urbanidade
Por essa ligação intrínseca da companhia com a cidade, o organizador decidiu abrir os capítulos temáticos com um texto sobre geografia, cultura e urbanidade, assinado pelo jornalista e crítico de arte Silas Martí, que viveu aquele espaço quando era um jovem estudante de jornalismo interessado em arte e cultura. Como sequência lógica, o capítulo seguinte, de Kil Abreu, aborda a inserção da companhia dentro do modelo estético-político denominado teatro de grupo, com destaque para a característica de criação de projetos de pesquisa continuados, que incluem, além das encenações, ações pedagógicas de longo prazo.
A importância dos Satyros no universo teatral
Os capítulos seguintes se aprofundam no processo criativo d’Os Satyros. Marici Salomão demarca algumas características da obra escrita, em sintonia com o pensamento da cena teatral contemporânea. Miguel Arcanjo Prado analisa as encenações do grupo na chave da preocupação do grupo com o elemento humano e na diversidade das pessoas que formam Os Satyros. Beth Lopes se concentra na dimensão pedagógica do grupo, e em como ela influencia a estética satyriana. Guilherme Genestreti aborda a produção dos Satyros em outros meios, como a televisão e o cinema, em especial os longas-metragens Hipóteses para o amor e a verdade e A filosofia na alcova.
Por fim, os críticos norte-americanos Ricky e Dana Young-Howze contam como o grupo abraçou o teatro digital e ganhou alcance mundial durante a pandemia da Covid-19. Em seu texto de apresentação da obra, escrito em agosto de 2023, o diretor do Sesc São Paulo Danilo Santos de Miranda (1943-2023), que fez parte do conselho da Adaap, relembra a amizade com Ivam e Rodolfo e destaca a dimensão educativa e de inclusão social do trabalho d’Os Satyros. “Como resultado dessa iniciativa, nas últimas duas décadas a praça tem sido cenário de diversos encontros, agregando públicos e artistas em torno da experiência estética — gesto que aproxima a companhia de teatro ao Sesc no que tange à proposta de ação no território, partilhada por ambos”, afirma Miranda.
Com design assinado pela Casa Rex, o livro traz, além dos capítulos temáticos e da seleção de imagens, capítulos com a fortuna crítica, críticas de espetáculos, e prêmios, homenagens e distinções recebidas pelos Satyros, além de versão do texto em inglês.
SOBRE O ORGANIZADOR
Marcio Aquiles é escritor, crítico literário e teatral, autor de dezesseis livros, entre eles os romances Artefato cognitivo nº 7√log5ie (Prêmio Biblioteca Digital 2021) e O amor e outras figuras de linguagem; os volumes de poesia A cadeia quântica dos nefelibatas em contraponto ao labirinto semântico dos lotófagos do sul e O eclipse da melancolia; a antologia dramática O esteticismo niilista do número imaginário. Tem formação acadêmica multidisciplinar constituída na USP, Unicamp, UFSCar e Schiller-Universität. Trabalhou cinco anos como jornalista e crítico de teatro da Folha de S.Paulo. Desde 2014 é coordenador de projetos internacionais na SP Escola de Teatro. Em 2023, recebeu o 1º Prêmio Egresso Destaque Unicamp, “como forma de reconhecimento de sua distinta trajetória profissional”.
SOBRE AS EDIÇÕES SESC SÃO PAULO
Pautadas pelos conceitos de educação permanente e acesso à cultura, as Edições Sesc São Paulo publicam livros em diversas áreas do conhecimento e em diálogo com a programação do Sesc. A editora apresenta um catálogo variado, voltado à preservação e à difusão de conteúdos sobre os múltiplos aspectos da contemporaneidade. Seus títulos estão disponíveis nas Lojas Sesc, na livraria virtual do Portal Sesc São Paulo, nas principais livrarias e em aplicativos como Google Play e Apple Store.